Linhas de Cuidado

Planejamento assistencial - Crianças com Síndrome de infecção congênita pelo vírus Zika

Aspectos gerais

A Atenção Primária à Saúde tem papel fundamental no acompanhamento das crianças expostas ao vírus Zika durante o período gestacional e pela intervenção precoce junto aos recém-nascidos pré-escolares e escolares, contribuindo para um melhor prognóstico e reabilitação funcional.

O acompanhamento das crianças com diagnóstico suspeito ou confirmado deve ser compartilhado com a Atenção Especializada. Em casos de alterações leves, coordenado pela Atenção Primária e quando apresentação da síndrome típica, coordenado pela Atenção Especializada.

A primeira consulta de puericultura na APS deve ser realizada, se possível, até o 5º dia de vida do recém-nascido, cabendo ao profissional de saúde verificar se todas as avaliações diagnósticas e encaminhamentos para especialistas foram realizados antes da alta da maternidade.

Check-list de avaliações do Recém-nascido (RN)

Para todos RN expostos ao vírus Zika durante a gestação

Exames laboratoriais
  • Sorologias da mãe e do RN: IgM por captura e IgG quantitativo para dengue, Chikungunya, Toxoplasmose, Rubéola, Citomegalovírus e Herpes, Elisa para vírus Zika (IgM e IgG, quando disponível) e VDRL
  • Teste molecular para vírus Zika (RT-PCR) nos materiais biológicos
  • Hemograma completo 
  • Aminotransferases hepáticas e bilirrubinas
  • Uréia e creatinina
Exames de imagem
  • Ultrassonografia transfontanela
  • Tomografia Computadorizada do Crânio, sem Contraste (TC) ou Ressonância Nuclear Magnética (o que estiver disponível)
Triagem biológica
  • Teste do Pezinho
Exames oculares
Triagem auditiva
  • Potencial Evocado Auditivo do Tronco Encefálico (PEATE)
Triagem do coração
  • Teste do coraçãozinho (oximetria de pulso)
Avaliação da cavidade bucal
Imunizações
RN com Síndrome de infecção congênita pelo vírus Zika

Triagem cardiológica

Ecocardiograma

Avaliação de outras malformações

Ultrassom abdominal

Encaminhamentos

  • Equipe multidisciplinar para avaliação/acompanhamento neurológico, saúde auditiva e ocular
  • Estimulação precoce

Avaliação clínica

Anamnese

Os dados devem ser coletados com a família, avaliando antecedentes e histórico individual e familiar de saúde. Verificar informações no relatório de alta do recém-nascido, além das disponíveis nas Cadernetas da Gestante e da Criança.

Para mais informações sobre a anamnese da criança, consulte a Linha de Cuidado da Puericultura.

Avaliação clínica

Manifestações neurológicas

Irritabilidade: Sintoma contínuo que algumas crianças apresentam ao nascimento e durante as primeiras semanas de vida, em sua maioria com repercussões no ciclo sono-vigília.

Epilepsia/espasmos: Presentes em 60% a 70% dos casos dos pacientes com microcefalia, como crises sutis, motoras focais ou, mais comumente, espasmos epilépticos (contrações bruscas e súbitas do corpo em flexão ou extensão, em salvas, várias vezes ao dia), podendo apresentar choro e irritabilidade entre os espasmos. Em casos leves, a família pode perceber apenas a piora da irritabilidade e do choro, principalmente à noite. Podem ocorrer também crises clônicas, localizadas em apenas um membro ou hemicorpo, assim como crises generalizadas.

Hidrocefalia com hipertensão intracraniana: Alguns lactentes podem apresentar piora do quadro neurológico no final do primeiro ano de vida, devido à dilatação ventricular. Os sintomas são vômitos, irritabilidade, rebaixamento do nível de consciência e aumento da frequência de crises epilépticas. Nestes casos, referenciar para avaliação em Unidade de Emergência.

Avaliação clínica

Exame clínico

Todos os RN com Síndrome de infecção congênita pelo vírus Zika, com ou sem microcefalia detectada ao nascimento, devem receber avaliação e acompanhamento regular durante a infância, incluindo: crescimento da cabeça, avaliação de neurodesenvolvimento, exames físicos, incluindo avaliação da audição e ocular.

Circunferência da cabeça

Os recém-nascidos devem ter a circunferência da cabeça medida a partir das 24 horas de vida até 48 horas, utilizando as seguintes tabelas, conforme orientações da Caderneta da Criança (Meninos e Meninas).

Quando a circunferência da cabeça for medida apenas após 48 horas de vida:

  • Crianças pré-termo (idade gestacional menor que 37 semanas de gestação ao nascer):A medida deve ser interpretada utilizando a tabela InterGrowth, até completar as 64 semanas pós concepcionais. Após esse período, o acompanhamento da criança pode ser continuado nas curvas da OMS, sem a necessidade de corrigir a idade. Para utilização das curvas da OMS, antes de completar as 64 semanas pós concepcionais, é necessário corrigir a idade, conforme orientação de cálculo presente na Caderneta da Criança
  • Criança a termo: A medida deve ser interpretada por meio das curvas de crescimento da OMS

Critérios da OMS segundo os seguintes pontos de corte:

Microcefalia: Recém-nascidos com um perímetro cefálico (PC) mais de 2 desvios-padrão abaixo da média para idade gestacional e sexo, correspondendo a um PC menor ou igual a 31,5 centímetros para meninas e 31,9 para meninos nascidos à termo.

Microcefalia grave: Recém-nascidos com um PC mais de 3 desvios-padrão abaixo da média para idade gestacional e sexo.

Microcefalia com anormalidade cerebral: RN com microcefalia que apresentam anormalidades estruturais do cérebro, diagnosticadas por exames de imagem ou anormalidades neurológicas ou de desenvolvimento.

Descrição do fenótipo

O quadro dismórfico mais característico são anomalias secundárias à destruição cerebral, em que se observa microcefalia grave, suturas cranianas proeminentes, osso occipital proeminente, pele redundante no escalpo e comprometimento neurológico importante

Para descrição dos achados consulte Alterações mais comuns identificadas ao nascer e dentro do 1° mês de vida e Alterações mais comuns identificadas após o 1° mês de vida.

O espectro de manifestações varia de microcefalia ausente/presente, leve/moderada, sem/com características dismórficas.

Verificação das anomalias mais frequentes na Síndrome de infecção congênita pelo vírus Zika
Alterações Congênitas Data Data Data

PC em centímetros ao nascimento (escore Z)

 

PC em centímetros atual (escore Z)

     

Desproporção craniofacial

     

Fronte estreita com depressão frontal bilateral

     

Inclinação do osso frontal para trás

     

Proeminência occipital

     

Suturas palpáveis ou cavalgadas (metópica, sagital)

     

Excesso de pele em couro cabeludo

     

Excesso de pele na fronte

     

Excesso de pele na nuca 

     

Excesso de pele em dorso

     

Padrão anormal de desenvolvimento do cabelo 

Cabelo frontal para cima (“eriçado”) 

Redemoinho: número _____ / posição _____ Outro:

     

Implantação de cabelo na fronte: 

( ) normal / ( ) baixa / ( ) alta

     

Implantação de cabelo na nuca: 

( ) normal / ( ) baixa / ( ) alta

     

Pálpebras superiores com aspecto edemaciado / inchado

     

Epicanto 

     

Estrabismo

     

Nistagmo

     

Microftalmia

     

Frênulo lingual oculto

     

Atraso na erupção dentária

     

Covinhas (Foveas): ( ) punho/ ( ) cotovelo/ ( ) ombro/ ( ) quadril/ ( ) joelho

     

Mãos com contratura / Polegar cortical

     

Pregas palmares profundas

     

Luxação congênita do quadril

     

Pés tortos

     

Artrogripose ( ) distal / ( ) generalizada

     

Pterígeo

     

Fonte: Adaptado de Guia de apoio para profissionais da Atenção Primária à Saúde, no contexto da Síndrome da Zika Congênita. Recife: Fundação Altino Ventura, 2020.

Avaliação clínica

Avaliação neurológica

Avaliar: Estado de alerta, postura adotada, tônus, lateralização da cabeça no primeiro mês de vida, movimentos e, de acordo com a idade, os reflexos primitivos.

Reações e Reflexos Primitivos

Fonte: Adaptado de Diretrizes de estimulação precoce: crianças de zero a 3 anos com atraso no desenvolvimento neuropsicomotor. Brasília: Ministério da Saúde, 2016.

Avaliação clínica

Manifestações visuais e oculares, auditivas e musculoesqueléticas

A deficiência visual está presente em quase todas as crianças SCZ. O diagnóstico e intervenção visual precoces favorecem um melhor prognóstico e melhora na qualidade de vida da criança.

As estruturas oculares mais afetadas na SCZ, devido ao neurotropismo do vírus Zika, são a retina e o nervo óptico, estando associados a um prognóstico visual reservado. O dano causado ocorre no período intra-útero e pode ser detectado ao nascimento pelo exame de fundo do olho.

Outras alterações incluem: Defeitos do campo visual, baixa sensibilidade ao contraste, hipoacomodação e erros de refração (miopia, hipermetropia e astigmatismo), coloboma de íris, subluxação da lente, catarata, glaucoma, calcificações intra-oculares, microftalmia e outras deficiências neuro-oftálmicas, como paresia dos músculos oculomotores e abducentes com estrabismo convergente, perda de respostas pupilares e nistagmo.

A avaliação oftalmológica realizada por especialista é essencial para o planejamento e execução do programa de intervenção precoce e estimulação visual da criança. Na identificação de qualquer alteração a criança deverá ser encaminhada para rede de atenção especializada.

Crianças com manifestações da SCZ necessitam de triagem auditiva, conforme rotina da puericultura. Algumas crianças, apesar de apresentarem a audição periférica normal ao nascimento podem ter um desenvolvimento auditivo e de linguagem atípico, devendo ser encaminhadas para estimulação auditiva/linguagem o mais precocemente possível.

Crianças com perda auditiva devem ser encaminhadas para serviço de referência em reabilitação auditiva: Centro Especializado em Reabilitação - CER (com modalidade auditiva) ou Centro de Reabilitação Auditiva.

As alterações ortopédicas relacionadas com a Síndrome de infecção congênita pelo vírus Zika podem ser primárias (presentes ao nascimento) ou secundárias (que surgem após o nascimento).

Artrogripose: Alteração primária, definida como a presença de duas ou mais contraturas articulares rígidas em pelo menos dois segmentos corporais diferentes. Outras deformidades também encontradas em pacientes com artrogripose são a luxação congênita dos quadris, deformidade dos pés em equino cavo ou- varo (pé torto), camptodactilia dos quirodáctilos e subluxação ou luxação dos joelhos. O acompanhamento de crianças com artrogripose deve ser realizado de forma conjunta com APS e especializada. Nos pacientes com artrogripose, pode estar indicada a avaliação com ressonância magnética de coluna, considerando o risco de comprometimento medular.

A avaliação de sinais clínicos relacionados às alterações musculoesqueléticas deve ser feita a cada seis meses, pois pode haver surgimento de deformidades musculoesqueléticas secundárias ao quadro neurológico. Realizar vigilância do quadril e coluna, bem como avaliação da espasticidade, considerando que a maioria dos problemas ortopédicos são decorrentes da espasticidade e que pioram com o crescimento.

Principais alterações musculoesqueléticas em crianças com Síndrome de infecção congênita pelo vírus Zika

Corpo

Alterações ortopédicas

Membros superiores

  • Camptodactilia (contratura em flexão da articulação interfalangeana proximal)
  • Adução do polegar (“polegar na palma”)
  • Contratura em flexão do punho 
  • Hiperextensão ou contratura em flexão do cotovelo

Membros Inferiores

  • Quadris displásicos podendo apresentar subluxação ou luxação
  • Contraturas em flexão do joelho 
  • Hiperextensão do joelho com ou sem subluxação articular
  • Pés tortos rígidos (deformidade em equino cavo varo)

Fonte: Adaptado de Guia de apoio para profissionais da Atenção Primária à Saúde, no contexto da Síndrome da Zika Congênita. Recife: Fundação Altino Ventura, 2020.

Avaliação clínica

Exames de imagem

Recém-nascidos com diagnóstico de SCZ deverão fazer exame de imagem neurológico, se não foram realizados na maternidade.

Tomografia Computadorizada do Crânio sem Contraste (TC) ou Ressonância Nuclear Magnética (o que estiver disponível): Para detecção de anormalidades estruturais do cérebro nos RN em avaliação.

Recomenda-se a realização de ultrassonografia transfontanela, como método diagnóstico auxiliar, para identificação de alterações do sistema nervoso central. 

Principais alterações encontradas: Calcificações cerebrais, distúrbio do desenvolvimento cortical cerebral e predomínio frontoparietal do espessamento cortical. 

Avaliação clínica

Investigação laboratorial

Realizar RT-PCR e sorologia (IgM) para Zika e rastreamento de STORCH em recém-nascidos sem história de exposição à infecção pelo vírus Zika durante a gestação, mas com manifestações clínicas ou de imagens sugestivas de SCZ.

Acompanhamento

Aspectos gerais

Independente da complexidade do serviço em que o paciente esteja sendo atendido, o vínculo com a Atenção Primária à Saúde deve ser mantido, em articulação com a atenção especializada.

A avaliação do desenvolvimento integral da criança com SCZ deve ser contínua, envolvendo a equipe multidisciplinar, o que possibilitará uma atuação abrangente e efetiva junto às crianças, famílias e comunidades, com ações direcionadas ao controle da síndrome, com objetivo de reduzir o impacto da doença

As crianças com Síndrome de infecção congênita pelo vírus Zika devem realizar consultas de puericultura mensais no primeiro ano de vida, para avaliação do crescimento e desenvolvimento, mantendo plano terapêutico desenvolvido pela equipe do centro de reabilitação (CER).

O acompanhamento periódico, sistemático e cauteloso do desenvolvimento neuropsicomotor nos primeiros três anos de vida, é uma importante janela de oportunidade para estimulo ao desenvolvimento infantil, além de possibilitar a identificação precoce de sinais de desenvolvimento atípico. Adicionalmente, ações de proteção e preservação da infância saudável considerando o potencial pelas condições neurológicas associadas, prevenção de doenças comuns da infância, prevenção de acidentes e violência com atenção domiciliar nos casos de grande vulnerabilidade social, são fundamentais para essas crianças.

As consultas de acompanhamento devem incluir: Exame físico completo e triagem para detecção de comprometimento biológico, oftalmológico, auditivo e do desenvolvimento neurocognitivo

Quando identificados sinais de alerta, a criança deve ser encaminhada para avaliação por especialistas. Considerar que a criança deve estar em acompanhamento com atenção especializada de forma compartilhada com a APS, devendo ser referenciada para atendimentos extras ou urgência conforme a demanda identificada.

Para informações sobre o exame físico completo, consulte a Linha de Cuidado da puericultura.

Acompanhamento

Avaliação do desenvolvimento

A Caderneta da Criança é um instrumento de vigilância em saúde que facilita o acompanhamento integral do desenvolvimento infantil.

Atenção: Às crianças expostas ao vírus Zika que passaram na triagem auditiva neonatal devem ser encaminhadas para a primeira avaliação audiológica (realizada pelo especialista otorrinolaringologista/audiologista e fonoaudiólogo) em até 30 dias de vida e a segunda entre 18 meses e 24 meses.

identificação precoce de perdas auditivas possibilita intervenção imediata, oferecendo condições para o desenvolvimento da fala, da linguagem, da sociabilidade, do psiquismo e do processo educacional da criança, permitindo prognósticos mais favoráveis. 

A audição, nos primeiros anos de vida, auxilia na organização de processos neuropsicológicos, orgânicos, afetivos e simbólicos. O sistema auditivo está formado no nascimento e a estimulação sonora promoverá maturação das vias auditivas, no tronco encefálico.  

O período de maior plasticidade neuronal da via auditiva compreende a faixa etária que vai do nascimento aos 2 anos de idade. Durante esse período, o sistema auditivo central encontra-se maleável às modificações, por isso a importância de detecção precoce de alterações.  

O profissional da APS no momento da primeira consulta de puericultura deve verificar se a criança realizou o Teste de triagem auditiva neonatal, uma vez que esse exame tem por finalidade a identificação precoce de deficiências auditivas e deve ser realizado, preferencialmente, nos primeiros dias de vida ainda na maternidade. 

Respostas motoras ao estímulo sonoro de crianças de zero a 2 anos

Faixa etária  

Respostas motoras 

Reflexo cócleo-palpebral 

Zero a 3 meses 

No início, resposta de sobressalto ou de Moro em recém-nascidos com audição normal com estímulo de 65 dB NPS* ou mais alto, apresentado de forma súbita. Reação de sobressalto/resposta de atenção/virar a cabeça 

Presente 

3 a 6 meses 

Entre 3 e 4 meses: O lactente pode começar a virar lentamente a cabeça. Resposta de atenção/virar a cabeça/localização lateral 

Presente 

6 a 9 meses 

7 meses: Os músculos do pescoço do lactente estão suficientemente fortes para permitir que ele gire a cabeça diretamente para o lado de onde vem o som 

Resposta de atenção/localização lateral 

Localização INDIRETA para baixo 

Entre 7 e 9 meses: Começa a identificar a localização precisa da fonte sonora com uma virada direta da cabeça para o lado. A resposta é brusca e firme 

Ainda não olha diretamente para o som apresentado acima do nível dos olhos 

Presente 

9 a 13 meses 

10 meses: Começa a localizar o som acima da cabeça 

Localização para o lado 

Localização DIRETA para baixo 

Presente 

16 a 21 meses 

Localiza diretamente os sons para o lado, para baixo e para cima 

Presente 

21 a 24 meses 

Localização direta do som para o lado, para baixo e para cima 

Presente 

*NPS: Nível de Pressão Sonora.

Fonte: Adaptado de Diretrizes de estimulação precoce: Crianças de zero a 3 anos com atraso no desenvolvimento neuropsicomotor decorrente de microcefalia. Brasília: Ministério da Saúde, 2016.

Se houver suspeita de desvio do desenvolvimento típico para a idade, a criança deve ser encaminhada a um especialista.

As funções da visão são importantes para o desenvolvimento infantil, pois integram as informações recebidas pelos outros sentidos e influenciam outros aspectos do desenvolvimento, como o desenvolvimento motor, cognitivo e pessoal-social. 

Ao nascimento, tanto o sistema nervoso central, quanto o sistema ocular são imaturos, sendo necessárias experiências visuais para que ambos se desenvolvam. Os primeiros anos de vida da criança são considerados períodos críticos para o desenvolvimento da visão e as experiências visuais são fundamentais para a formação das conexões cerebrais responsáveis pela visão. 

Toda criança nasce com baixa visão, conforme os estímulos visuais aos quais é exposta, nas primeiras semanas de vida, tanto retina, vias ópticas e córtex visual têm um rápido desenvolvimento, sendo o primeiro ano de vida o período evolutivo de maior importância. 

Até os 4 anos, há um refinamento do desenvolvimento das funções visuais que se completa entre 9 a 10 anos de idade. 

O profissional da APS no momento da consulta de puericultura deve realizar, desde que capacitado, o teste do reflexo vermelho na primeira consulta do recém-nascido e repetir aos 4, 6 e 12 meses de idade e na consulta dos 2 anos de idade, a fim da detecção precoce de possíveis problemas visuais que podem interferir sobremaneira no desenvolvimento infantil.

Marcos do desenvolvimento visual da criança (zero a 3 anos de idade)

Idade 

Comportamentos visuais presentes 

30 a 34 semanas de idade gestacional 

Reação pupilar à luz, fechar as pálpebras diante de luz intensa e reflexo de fixação 

Ao nascimento 

Busca da fonte luminosa, fixação visual presente, mas breve, tentativas de seguir objeto em trajetória horizontal 

1 mês 

Contato visual e fixação visual por alguns segundos, seguimento visual em trajetória horizontal em arco de 60 graus, preferência por objetos de alto contraste e figuras geométricas simples 

2 meses 

Fixação estável e muito bem desenvolvida, inicia coordenação binocular, seguimento visual em trajetória vertical, interesse por objetos novos e com padrões mais complexos, inicia sorriso social 

3 meses 

Desenvolve acomodação e convergência, inicia observação das mãos e faz tentativas de alcance para o objeto visualizado. Até o 3 º mês, a esfera visual é de 20 a 30 centímetros 

4 meses 

Pode levar a mão em direção ao objeto visualizado e agarrá-lo 

5 a 6 meses  

Fixa além da linha média, aumento da esfera visual, capaz de dissociar os movimentos dos olhos dos movimentos de cabeça, acuidade visual bem desenvolvida, reconhece familiares, amplia o campo visual para 180 graus, movimentos de busca visual são rápidos e precisos. Pode apresentar desvio ocular, mas, se for persistente, é necessária avaliação oftalmológica 

7 a 10 meses 

Interessa-se por objetos menores e detalhes, interessa-se por figuras, esfera visual bastante ampliada, busca e reconhece objetos parcialmente escondidos 

11 a 12 meses 

Orienta-se visualmente no ambiente familiar, reconhece figuras, explora detalhes de figuras e objetos, comunicação visual é efetiva  

12 a 24 meses 

Atenção visual, aponta para o objeto desejado, mesmo que esteja à distância, muda o foco de visão de objetos próximos para distantes com precisão, identifica em si, no outro ou em bonecos as partes do corpo, reconhece o próprio rosto no espelho, reconhece lugares, rabisca espontaneamente 

24 a 36 meses 

Tenta copiar círculos e retas, constrói uma torre com três ou quatro cubos. Percepção de profundidade está quase completa 

Fonte: Adaptado de Diretrizes de estimulação precoce: crianças de zero a 3 anos com atraso no desenvolvimento neuropsicomotor decorrente de microcefalia. Brasília: Ministério da Saúde, 2016.


As etapas do desenvolvimento motor evoluem de forma gradativa e organizada, para avançar para a próxima etapa é necessário completar a etapa anterior.

acompanhamento das aquisições é feito por meio da avaliação observacional da: 

  • Motricidade espontânea 
  • Motricidade provocada 
  • Motricidade liberada e dirigida 
  • Avaliação do tônus muscular 
  • Avaliação das reações e dos reflexos primitivos  

A avaliação do desenvolvimento motor normal é realizada através da Escala de Denver II, contida na Caderneta da Criança: Menino e Caderneta da Criança: Menina

Assim como outros instrumentos de triagem, o Denver II não tem um constructo de hipóteses pré-estabelecido, ele apenas define a idade com que uma criança cumpre uma determinada tarefa.  

A complementação de fatores de risco provenientes do protocolo de Atenção Integrada às Doenças Prevalentes da Infância (AIDPI) agrega, além de categorias de risco para o atraso nos marcos do desenvolvimento, outros fatores de risco relevantes associados como alterações fenotípicas e perímetro cefálico -2Z escores ou +2Z escores. 

ausência ou presença de estímulos nos momentos adequados podem alterar o curso do desenvolvimento.

O desenvolvimento cognitivo integral está ligado a relações entre as funcionalidades sensorial, perceptiva, motora, linguística, intelectual e psicológica. O progresso depende das etapas críticas da maturação neurocerebral do indivíduo.

Deve-se garantir a promoção de relacionamentos estimulantes e ricos em experiências de aquisição. Os benefícios alcançados serão permanentes à saúde emocional e física da criança.

Se houver suspeita de desvio no desenvolvimento típico para idade, a criança deve ser encaminhada ao especialista.

A avaliação objetiva de habilidades motoras, de comunicação, de interação social e cognitiva deve ser realizada de acordo com os marcos propostos na Caderneta da Criança.

Avaliação do desenvolvimento: Orientação para a tomada de decisão
Dados da avaliação Classificação Conduta

Perímetro cefálico < -2 escores z ou > +2 escores z, ou presença de 3 ou mais alterações fenotípicas*, ou ausência de 1 ou mais marcos para a faixa etária anterior (se a criança estiver na faixa de 0 a 1 mês, considere a ausência de 1 ou mais reflexos/posturas/habilidades para a sua faixa etária suficiente para esta classificação) 

PROVÁVEL
ATRASO NO
DESENVOLVIMENTO
 

Acionar a rede de atenção especializada para avaliação do desenvolvimento 

Ausência de 1 ou mais reflexos/ posturas/habilidades para a sua faixa etária (de 1 mês a 6 anos) 

ou 

Todos os reflexos/posturas/habilidades para a sua faixa etária estão presentes, mas existem 1 ou mais fatores de risco 

ALERTA PARA O DESENVOLVIMENTO 

Orientar o cuidador da criança sobre a estimulação  

Marcar retorno em 30 dias 

Informar cuidador sobre os sinais de alerta para retornar antes de 30 dias 

Todos os reflexos/posturas/habilidades para a sua faixa etária estão presentes  

DESENVOLVIMENTO ADEQUADO 

Elogiar o cuidador 

Orientar o mãe/cuidador para que continue estimulando a criança  

Retornar para acompanhamento conforme a rotina do serviço de saúde 

Informar o mãe/cuidador sobre os sinais de alerta 

* Exemplos de alterações fenotípicas frequentes em recém-nascidos: fenda palpebral oblíqua, implantação baixa de orelhas, pescoço curto e/ou largo, prega palmar única e quinto dedo da mão curto e recurvado.

Fonte: Adaptado de Caderneta da Criança. Brasília: Ministério da Saúde, 2020.

Para saber sobre a vigilância do desenvolvimento infantil, acesse Apurando o Olhar para a Vigilância do Desenvolvimento Infantil – Playlist com todos os vídeos.

Acompanhamento

Avaliação musculoesquelética

A avaliação de sinais clínicos relacionados às alterações musculoesqueléticas deve ser feita a cada seis meses, com exame clínico e radiografia do quadril anteroposterior, pois pode haver surgimento de deformidades secundárias ao quadro neurológico. As deformidades secundárias costumam aparecer por volta do final do primeiro ano de vida

Sinais clínicos que sugerem luxação do quadril:

  • Contratura em adução dos quadris
  • Contratura em flexão dos quadris
  • Discrepância reativa de membro inferiores (podem estar ausentes nas luxações e subluxações bilaterais)
  • Dor à mobilização do quadril
  • Assimetria de pregas

Atenção: Contraturas em adução < 30° e em flexão > 20° caracterizam “quadril de risco”.

Fluxograma do acompanhamento do quadril em criança com Síndrome de infecção congênita pelo vírus Zika
fluxograma de acompanhamento do quadril em criancas

USG = ultrassonografia
Fonte: Adaptado de Guia de apoio para profissionais da Atenção Primária à Saúde, no contexto da Síndrome da Zika Congênita, Recife, 2020

Acompanhamento

Avaliação alimentar / gastrointestinal

Crianças com alterações do sistema nervoso central, principalmente as de espectro mais grave, podem evoluir com dificuldades na alimentação e comprometimento nutricional, devido a problemas de sucção e de deglutição, regurgitações e refluxo gastroesofágico, que surgem após a perda dos reflexos primitivos de deglutição depois do quarto mês de vida. A perda desses reflexos é notada mais nitidamente nas tentativas de oferta de alimentos sólidos pelos cuidadores aos 6 meses, com a introdução da alimentação complementar.

O risco de engasgo deve ser especialmente observado durante a introdução da alimentação complementar saudável aos 6 meses. Sugere-se que os cuidadores sejam orientados quanto às manobras para desobstrução das vias aéreas da criança em caso de broncoaspiração. Para mais informações sobre a manobra de Heimlich, acesse O que fazer quando um bebê ou uma criança engasga.

As principais alterações gastrointestinais observadas são:

  • Disfagia: A avaliação deve, preferencialmente, ser realizada por fonoaudiólogo treinado. Após a investigação clínica, com avaliação direta da deglutição, permanecendo a dúvida, pode-se realizar exames complementares de imagem, como a Videoendoscopia da Deglutição (VED) e a Videofluoroscopia da deglutição (VFD)
  • Alterações da motilidade esofagiana: Os sintomas mais comuns são vômitos, engasgos e irritabilidade durante a alimentação, além de intolerância a grandes volumes de líquidos ou alimentos
  • Constipação: É frequente e relacionada ao imobilismo, dificuldade de prensa abdominal e controle da musculatura pélvica

Alterações de motilidade e sensibilidade esofagiana agravam a disfagia e podem levar à irritabilidade e às crises de apneia, normalmente observadas nos primeiros meses de vida. Por isso, uma parcela das crianças pode melhorar dos sintomas de apneia e irritabilidade com o uso de antiácidos (omeprazol).

Diagnóstico diferencial dos comprometimentos nutricionais
Comprometimentos nutricionais  Sinais e sintomas
Disfagia orofaríngea moderada a grave
  • Tosse
  • Engasgo
  • Lacrimejamento
  • Tempo de alimentação superior a 30 min
Desordens alimentares comportamentais

Durante a alimentação: 

  • Náuseas e vômitos ao contato de diferentes texturas ou sabores na boca
  • Seletividade alimentar - recusa a determinados alimentos determinando monotonia alimentar

Antes da alimentação:

  • Pavor antecipatório ou reação de medo/choro quando o cuidador se propõe a ofertar o alimento

Doença do refluxo gastroesofágico

Durante a alimentação:

  • Irritabilidade 
  • Choro
  • Face de dor

História não associada à alimentação:

  • Vômitos
  • Hematêmese 
  • Ruminação 
  • Sufocação após a alimentação 
  • Quadro súbito de pneumonia 
  • Quadro súbito de apneia

Gastroparesia

  • Tolerância a pequenos volumes 
  • Distensão abdominal 
  • Náuseas frequentes e intensas

Fonte: Adaptado de Guia de apoio para profissionais da Atenção Primária à Saúde, no contexto da Síndrome da Zika Congênita. Recife: Fundação Altino Ventura, 2020.

Fatores que reforçam a suspeita de disfagia: Crianças internadas por alterações respiratórias nos últimos seis meses, curva e peso horizontal ou em queda, ausculta pulmonar com roncos.

Recomenda-se seguir as orientações de promoção, proteção e apoio ao Aleitamento Materno e Alimentação Complementar. 

Técnica de amamentação: Acesse o Guia alimentar para crianças brasileiras menores de 2 anos.

Para mais informações acesse Saúde da criança: aleitamento materno e alimentação complementar.

O acompanhamento de crianças com dificuldades alimentares deve ser realizado por uma equipe multidisciplinar, compartilhado com a atenção especializada, que contenha, sempre que possível, nutricionista, neurologista, gastroenterologista, fonoaudiólogo, cirurgião pediátrico e otorrinolaringologista. Recomenda-se a tomada de decisão conjunta, no caso de necessidade de indicação de via alternativa de alimentação (sonda ou gastrostomia).

Acompanhamento

Manifestações orais no bebê

Crianças com SCZ apresentam uma maior predisposição para a manifestação de alterações bucais tais como cárie, doença periodontal, maloclusão, retrognatismo mandibular, disfagia, bruxismo, abertura reduzida da cavidade oral, trauma dentário e fissuras labiopalatais, lábio superior fino, hipertrofia alveolar, micrognatia, ptose lingual com sialorréia ocasionando respiração bucal e freio lingual encurtado ou inserido no assoalho bucal.

É necessário o acompanhamento ao longo do desenvolvimento da criança com o objetivo de identificar precocemente as manifestações, estimulando de forma multidisciplinar o desenvolvimento da criança com SCZ. Avaliar a criança que possui alterações na formação dentária, em relação à adaptação da amamentação, mastigação e deglutição. As orientações também devem girar em torno da orientação de boa higiene oral.

Os profissionais de saúde devem orientar as famílias quanto aos marcos do desenvolvimento dentário e a higiene bucal. Consulte a Linha de Cuidado da Puericultura.

As crianças com SCZ podem fazer uso de medicamentos anticonvulsivantes que têm como efeito adverso hiperplasias e sangramentos gengivais, como por exemplo a Fenitoína. O quadro pode ser agravado pela remoção inadequada de biofilme, destacando-se a importância de educação em saúde para as crianças com SCZ e cuidadores responsáveis. Além disso, podem ter efeitos de xerostomia, predispondo a criança, caso este tenha uma má higiene oral, a maior predisposição para surgimento de cáries e candidíase oral. 

Informações sobre a orientação dos cuidados bucais da mãe e do bebê devem fazer parte do pré-natal odontológico, acompanhando até a consulta do puerpério e se mantendo ao longo das consultas de puericultura.

As consultas odontológicas devem ser realizadas com regularidade, a cada três meses, seguindo o mesmo padrão de rotina de atendimento de bebês sem alterações aparentes, tendo como foco as ações de promoção em saúde baseada na higiene bucal e na dieta, ressaltando a importância da não introdução de alimentos cariogênicos e fermentáveis. Como também identificar atraso na cronologia da erupção dos dentes decíduos, observar o crescimento dos arcos mandibulares, coloração das mucosas, inserção ou ausência do freio lingual

Acompanhamento

Avaliação das funções metabólicas e hormonais

As crianças com alterações neurológicas possuem risco de disfunção do eixo hipotálamo- hipofisário, assim, as manifestações precoces de disfunção endócrina podem não ser detectadas pelo rastreamento de rotina de recém-nascidos.

  • Hipotireoidismo: Nas crianças com SCZ, mesmo com teste do pezinho normal ao nascimento, deve-se solicitar dosagem sérica do hormônio da estimulação da tireóide (TSH) e tiroxina (T4 livre ou T4 total e T4 livre estimado), em duas semanas após o nascimento e aos 3 meses de idade. Se qualquer um desses resultados for anormal, a criança deve ser encaminhada para uma avaliação com endocrinologista. No hipotireoidismo, devido ao hipopituitarismo, a criança poderá apresentar hipoglicemia por deficiência combinada de GH e/ou do ACTH/cortisol
  • Monitorar a glicemia no pós-parto (através de HGT nas primeiras 48h) de crianças com diagnóstico pré-natal de microcefalia por maior risco de disfunção pituitária com déficit de hormônio do crescimento - GH e/ou hormônio adrenocorticotrófico - ACTH
  • Hipopituitarismo congênito: Hipoglicemia persistente neonatal associada à icterícia neonatal persistente e a uma redução precoce e severa da velocidade de crescimento na infância. Crianças do sexo masculino podem apresentar micropênis
  • Pubarca precoce: As crianças podem apresentar pêlos na área genital no primeiro ano de vida. Quanto associada a lesões no SNC, necessitam de investigação para puberdade precoce central

Na suspeita de disfunção do eixo hipotálamo-hipofisário, solicitar ressonância magnética de encéfalo e da sela túrcica. Os achados mais comuns são agenesia do corpo caloso, ausência do septo pelúcido, hipoplasia cerebelar, aplasia do fórnix e esquizencefalia.

O acompanhamento clínico deve incluir a realização de exames de rotina (TSH / GH / ACTH), uma vez ao ano. Crianças com deficiência de um dos hormônios, devem ter acompanhamento clínico e laboratorial com foco na possibilidade de haver evolução para outras disfunções do eixo hipotálamo-hipofisário. 

O tratamento do hipotireoidismo congênito deve ser iniciado o mais precocemente possível, com levotiroxina por via oral.

Dose de levotiroxina, de acordo com a idade do paciente
Idade Levotiroxina (µg/kg/dia)

0 - 3 meses

10 a 15

3 - 12 meses

6 a 10

1 - 3 anos

4 a 6

3 a 10 anos

3 a 5

10 a 16 anos

2 a 4

Fonte: Adaptado de Guia de apoio para profissionais da Atenção Primária à Saúde, no contexto da Síndrome da Zika Congênita. Recife: Fundação Altino Ventura, 2020.

Na presença de qualquer alteração deve ser encaminhado para avaliação com especialista.

Acompanhamento

Acompanhamento

Manifestações do trato urinário

As manifestações do trato urinário ainda não são bem conhecidas e permanecem em investigação.

Crianças com quadro grave podem apresentar bexiga neurogênica. As alterações do fluxo hidrodinâmico do trato urinário causam diversos graus de disfunções urológicas, que podem afetar a função renal e causar insuficiência renal  se não diagnosticadas e tratadas adequadamente.

Entretanto, as crianças não devem ser submetidas a controle urodinâmico de rotina, a avaliação deve ser solicitada apenas se apresentarem fatores de risco, como pielonefrite e alterações renais e de vias urinárias em ultrassonografia.

A migração espontânea dos testículos ocorre geralmente nos primeiros 3 meses de vida e raramente após os 9 meses. Se os testículos não forem palpáveis ou forem retráteis na primeira consulta, o rastreamento deve ser realizado nas visitas rotineiras de puericultura.

Se aos 6 meses não forem palpáveis no saco escrotal, encaminhar a criança para avaliação de um cirurgião pediátrico.

Se forem retráteis, seguir monitorando a cada 6 a 12 meses, pois, quando identificados corretamente, não há necessidade de tratamento, pois se fixarão definitivamente no escroto com o desenvolvimento da criança, sem qualquer comprometimento anatômico ou funcional.

Acompanhamento

Vacinação

A vacinação das crianças com SCZ deve seguir o calendário vacinal, conforme o calendário do Programa Nacional de Imunização do Ministério da Saúde (PNI/MS) disponível na Caderneta da Criança (Menino e Menina).

Deve-se dar atenção especial para as vacinas “Pentavalente” (DPT, HepB e Hemophilus tipo b), Pneumocócica 10v e Influenza, pelo maior risco apresentado por essas crianças às infecções respiratórias.

Atenção: Existe restrição à vacina DTP, devido aos distúrbios neurológicos não controlados. Doença neurológica progressiva, encefalopatia progressiva e epilepsia não controlada são contra indicações absolutas à vacinação DTP. A vacina DTPa (acelular) pode ser realizada nos Centros de Referência a Imunobiológicos Especiais (CRIE). Crianças com distúrbios neurológicos estáveis ou resolvidos podem realizar a vacinação DTP.

É recomendado fazer a vacinação da tríplice viral/tetra viral com um ano de idade, de acordo com o calendário vacinal básico, e a tetraviral fazer separadamente, em duas doses (tríplice viral e varicela em outro momento), devido quadro convulsivo/neurológico das crianças com SCZ.

Recomenda-se o uso de antitérmico antes e 24/48 horas após a vacinação.

Tratamento

Tratamento

O envolvimento da família no planejamento terapêutico é fundamental para a compreensão das metas a serem alcançadas, assim como uma maior corresponsabilidade.

A estimulação precoce abrange o acompanhamento e intervenção clínico-terapêutica multiprofissional para crianças em risco ou com alteração do desenvolvimento, com a participação do núcleo familiar e da comunidade. Tem como objetivo estimular o potencial para o desenvolvimento da criança, fortalecer o vínculo mãe/bebê e o acolhimento familiar. O acompanhamento deve ser compartilhado com a Atenção Especializada / Centros de Reabilitação.

Tratamento

Estimulação precoce

A plasticidade e a maturação neuronal dependem de estimulação.

Abordagem de caráter sistemática e sequencial, que utiliza técnicas e recursos terapêuticos para estimular todos os domínios que interferem na maturação da criança, com o objetivo de favorecer o desenvolvimento motor, cognitivo, sensorial, linguístico e social, evitando ou amenizando eventuais prejuízos. 

Os primeiros anos de vida são considerados críticos para o desenvolvimento das habilidades motoras, cognitivas e sensoriais, pois neste período ocorre o processo de maturação do sistema nervoso central, sendo a fase ótima da plasticidade neuronal. 

estimulação precoce em crianças de zero a 4 anos de idade que apresentem risco potencial de atrasos no desenvolvimento neuropsicomotor é justificada por ser o período mais suscetível a transformações provocadas pelo ambiente externo e as respostas positivas podem ser mais efetivas.

Possui como meta estimular a criança a ampliar suas competências, tendo como referência os marcos do desenvolvimento típico, através de orientações aos pais de estímulos aplicados a cada faixa etária, reduzindo, desta forma, os efeitos negativos de uma história de riscos. 

criança deve ser reavaliada em até 30 dias para avaliação da resposta e após, conforme planejamento terapêutico. 

Fundamental destacar que a estimulação precoce não tem contra-indicações. Ao mínimo sinal de alteração em qualquer um dos marcos do desenvolvimento ou simples queixa/suspeita do cuidador, deve ser implementada de forma imediata e concomitante à qualquer abordagem para confirmação diagnóstica. 

Para mais informações sobre como orientar a estimulação precoce, acesse as Diretrizes de estimulação precoce: crianças de zero a 3 anos com atraso no desenvolvimento neuropsicomotor.  

Tratamento

Intervenção nutricional

Cada criança deve ser avaliada individualmente para a identificação de necessidades nutricionais e planejamento alimentar individualizado.

Objetivos:

  • IMC para idade ou peso para idade nos gráficos padrões da OMS maior que -2,00 desvios-padrão de Z-score. Curvas disponíveis na Caderneta da Criança (Menino e Menina)
  • Velocidade de ganho de peso de 4-7 g por dia em crianças com mais de 1 ano de idade
  • Ingestão de macro e micronutrientes semelhante ao recomendado para crianças saudáveis da mesma idade

Para mais informações sobre crescimento, consulte a Linha de Cuidado da Puericultura.

A base da alimentação deve seguir as recomendações dos guias alimentares do Ministério da Saúde para crianças brasileiras menores de 2 anos e para a população brasileira.

A equipe de saúde deve orientar os cuidadores quanto ao favorecimento de uma alimentação segura, com o controle do tônus e da postura corporal, inibição dos reflexos patológicos orais e posturais.

❌ Evitar Correto

Hiperextensão da cabeça e do pescoço: Dificulta a elevação da laringe e diminui a proteção da via aérea, podendo causar aspiração do alimento, da saliva ou de líquidos, além de ocasionar padrões anormais na movimentação da língua, movimentos exagerados na mandíbula, que podem repercutir em uma sucção ineficiente

Posicionamento de maneira inclinada (quase deitada): Favorece a penetração laríngea e aspirações, além de reforçar a manutenção de padrões posturais patológicos

✅ Alimentar a criança sentada, com a cabeça e ambos os braços centralizados para frente

✅ O cuidador pode controlar os ombros da criança para estabilizar a cintura escapular, o que ajuda a criança a manter a cabeça na linha média

✅ Fazer pressão com a mão sobre a parte inferior do tórax do bebê e apresentar o alimento de frente pode auxiliar no controle da cabeça e da deglutição

✅ Para beber, a criança pode ser posicionada sentada com os pés apoiados, com o tronco e a cabeça para frente e o copo apresentado de frente. Utilizar copo adaptado (cortado na frente) para evitar a inclinação da cabeça para trás

✅ A criança deve permanecer na posição sentada por trinta minutos, no mínimo, após o término da refeição

Crianças que evoluem para desnutrição ou obesidade devem ser avaliadas por um nutricionista, com o objetivo de realizar modificações e adaptações na dieta. Muitas crianças recuperam o crescimento com suporte nutricional via oral.

Uma equipe que tenha fonoaudiólogo deve, idealmente, acompanhar crianças que apresentem uma via oral insegura, pois algumas alterações de motilidade oral podem ser rapidamente modificadas com implementação de medidas de manejo da disfagia, adequação de textura e consistência dos alimentos, uso adequado de utensílios, controle de ritmo e volume de oferta e mudança da postura corporal adotada para a dieta. A substituição do sólido por purês e o uso de espessantes nos líquidos são exemplos de adaptações alimentares que podem facilitar a deglutição segura.

A decisão por uma via alternativa de alimentação (sondas de curta/longa duração ou gastrostomia) envolve uma avaliação cuidadosa. Indicações:

  • Via oral ineficaz em manter o aporte nutricional adequado para o crescimento. Cabe ressaltar que a gastrostomia pode ser uma alternativa para alimentação mista, complementar a via oral
  • Via oral insegura, ou seja, risco de aspiração de alimentos para vias respiratórias que podem causar sequelas graves ou morte

Atenção: A gastrostomia pode ser uma alternativa para alimentação mista, complementar a via oral.

A indicação de gastrostomia pode ser um processo extremamente doloroso para as famílias, pois representa o luto da função de alimentar. A condução desse processo deve ser realizada por profissionais que estabeleçam um bom vínculo com a família, devendo ser respeitado o tempo de aceitação de cada família.

A gastrostomia deve ser realizada, preferencialmente, por procedimento minimamente invasivo - endoscopia ou laparoscopia.

Antes do procedimento, realizar o protocolo de preparação com fisioterapia respiratória, suporte nutricional à criança e emocional às famílias, e o uso prévio de sonda (nasogástrica, orogástrica, nasoentérica ou oroentérica) no período máximo de três meses.

Cuidados - orientações aos cuidadores

  • Limpeza local com água e sabão neutro e, após a fase inicial de cicatrização, deixar sem oclusão
  • A gastrostomia não impede a realização de terapias, brincadeiras, ida à escola e banhos de piscina ou mar (após a cicatrização e maturação, em geral, depois de três meses)
  • Observar se há presença de secreção peri estomia ou extravasamento de dieta pelo orifício da estomia. Caso ocorra, suspender imediatamente a infusão da dieta enteral e contatar profissionais da equipe de saúde. Na vigência de secreção digestiva, há suspeita de complicações, como exteriorização por tracionamento acidental ou rompimento do balonete 
  • Avaliar a inserção da sonda de estomia diariamente, acompanhando o número demarcado na extensão, e observar a posição do anteparo externo, assegurando que este não faça pressão na pele ou que a sonda não tenha rotação livre
  • Utilizar uma fixação na extensão da sonda de estomia a fim de evitar tracionamento acidental e perda do dispositivo
  • Manter a sonda sempre fechada enquanto não estiver em uso
  • Administrar a dieta enteral sempre com a cabeceira da cama elevada (acima de 45 graus) ou com a pessoa sentada e lentamente. Após o término, manter a cabeceira elevada. Utilizar equipo específico para terapia nutricional enteral, controlando o gotejamento rigorosamente
  • Lavar a sonda de estomia com 20 mL a 40 mL de água filtrada, fervida previamente e em temperatura ambiente ou água mineral antes e após a administração de dietas e/ou entre as medicações
  • Diluir bem as medicações antes de administrar. Quando possível, utilizar medicamentos na apresentação líquida ou fórmula magistral
  • Considerar volumes a partir de 100 mL para diluição de medicamentos com apresentação em pó
  • Em caso de náuseas ou vômitos durante a alimentação, pausar a infusão da dieta enteral e observar as possíveis causas. Na melhora do quadro, reiniciar a infusão com velocidade reduzida. Não administrar a dieta rapidamente, pois pode causar náusea e vômito 
  • Em caso de obstrução das sondas de gastrostomia, injetar lentamente 20 mL de água filtrada, fervida e em temperatura ambiente ou água mineral. Caso não tenha êxito, contatar profissionais de saúde

Para mais informações sobre os cuidados, acesse Guia de atenção à saúde da pessoa com estomia.

Manuseio dietético: Prescrição de fórmulas com baixa osmolaridade e orientação de evitar o uso em excesso de gordura nos preparos. Crianças em uso de via alternativa de alimentação, observar o tempo adequado de infusão da dieta para evitar os vômitos.

 Cuidados na infusão da Nutrição Enteral:

  • Devem ser infundidas durante trinta a sessenta minutos, gota a gota, com ou sem bomba de infusão e intervalos de três a quatro horas entre uma dieta e outra 
  • Recomenda-se que a cabeceira esteja elevada e posicionada em ângulo de 45°, a fim de evitar refluxo gastroesofágico e broncoaspiração

Prescrever laxantes catárticos (com ação apenas na consistência das fezes): O óleo mineral é contraindicado em crianças com disfagia.

Deve-se corrigir o teor de fibras na dieta para o recomendado à idade. O uso de fibras solúveis é indicado para regular o fluxo intestinal. Recomenda-se não utilizar complementos que contenham fibra insolúvel, pois promovem aumento do volume do bolo fecal e geram mais dificuldade para evacuar pela incoordenação da musculatura.

A ingestão de líquidos diários deve ser adequada para evitar constipação, observando a necessidade de espessamento de líquidos para as crianças com disfagia grave.

Também é importante estabelecer uma estratégia para proporcionar o hábito de evacuações regulares.

Tratamento

Atenção psicossocial a famílias e cuidadores

A equipe de saúde deve realizar apoio psicossocial às famílias/cuidadores de crianças com a SCZ, por meio de abordagem em grupo e ou individual, fortalecendo o suporte socioafetivo e promovendo a autonomia e garantia dos direitos.

Deve-se identificar a mulher com risco elevado de depressão pós-parto, ou outros transtornos psíquicos..

Realizar a aplicação do questionário PHQ-9, composto por nove questões. Pontuação ≥ 9 indicam rastreio positivo para episódio depressivo.

Como avaliação complementar, a Escala de depressão perinatal de Edinburgh - EPDS pode ser aplicada. Ela auxilia na identificação de depressão (teste de screening-não é diagnóstica).

Pode ser aplicada no segundo ou terceiro trimestre da gestação e no primeiro ano após o parto.

  • Escore igual ou maior que 11: Risco para o desenvolvimento da depressão perinatal
  • Escore entre 9 e 10: Manter observação e repetir a EPDS em consultas subsequentes

Avalie se há necessidade de encaminhamento para Atenção especializada em saúde mental (Centros de Atenção Psicossocial - CAPS ou outros serviços de referência em Saúde Mental do município ou da região de saúde) a mulher com risco elevado de depressão pós-parto, ou outros transtornos psíquicos. Atentar que o cuidado em saúde mental deve primariamente ser oferecido pela equipe da Atenção Primária e/ou pela equipe que já esteja acompanhando a puérpera, favorecendo o cuidado integral materno-infantil.

Em caso de dúvidas, discutir com o canal de consultoria do Telessaúde Brasil Redes do Ministério da Saúde - 0800 644 6543.

Consulte a página de condições especiais-Gestante e puérperas na Linha de Cuidado da Depressão para mais informações.

Tratamento

Manejo da espasticidade

Objetivos:

  • Melhorar a qualidade de vida da criança, colaborando com a função motora
  • Prevenir contraturas e deformidades que podem trazer prejuízos funcionais
  • Reduzir a dor durante a movimentação ativa e passiva, as transferências e a higienização
  • Postergar procedimentos cirúrgicos

A atuação conjunta da equipe multidisciplinar é essencial para um melhor resultado, além de garantir o acesso para monitorar o crescimento, o desenvolvimento e as intervenções preventivas e terapêuticas. O tratamento deve ser compartilhado com a Atenção especializada.

Alternativas medicamentosas: Baclofeno (vias oral e intratecal), benzodiazepínicos e tratamento com toxina botulínica.

Tratamento

Tratamento ortopédico

O tratamento instituído deve ser individualizado a cada paciente, de acordo com os riscos, benefícios e objetivos a serem alcançados. Deve haver acompanhamento de equipe multidisciplinar, com a participação do terapeuta ocupacional e do fisioterapeuta, compartilhado com a atenção especializada.

O manejo ortopédico pode ser dividido em: 

Conservador: Uso de órtese, reabilitação, gesso seriado e bloqueio neurolítico com toxina botulínica (TBA) ou fenol a 5%.

Cirúrgico: Alongamento musculares, liberação de partes moles, osteotomias, tenotomias - as técnicas empregadas são adaptações de cirurgias já existentes.

Tratamento

Manejo das crises convulsivas

A equipe de saúde deve conhecer a indicação e os possíveis efeitos colaterais do esquema terapêutico para crises convulsivas, no seguimento de crianças com alterações neurológicas ligadas à SCZ.

Drogas Antiepilépticas

Tipos de Crises

Apresentação

Dose Usual

Efeitos Adversos

Fenobarbital

Crises focais e generalizadas 

Solução oral 4% 1 mg/gota

3 a 7 mg/kg/dia

Sonolência, letargia, irritabilidade (particularmente em crianças com déficit cognitivo) e rash cutâneo

Clobazam

Crises de ausência, atonias, mioclonias, focais e tônico-clônicas generalizadas

Comprimidos de 10 mg e 20 mg

0,5 a 1 mg/kg/dia

Efeitos neurocognitivos

Topiramato

Crises de ausência, atônitas, mioclonias, focais e tônico-clônicas generalizadas

Comprimidos de 25 mg, 50 mg e 100 mg

3 a 9 mg/kg/dia

Efeitos neurocognitivos, problemas de linguagem e alentecimento psicomotor

Valproato de sódio

Crises do tipo espasmos infantis, tônico-clônicas generalizadas, crises focais e mioclonias

Solução de 250 mg/5 mL Comprimidos de 250 e 500 mg

15 a 30 mg/kg/dia

Efeitos neurocognitivos, náuseas, vômitos, queda de cabelos, trombocitopenia

Fonte: Adaptado de Guia de apoio para profissionais da Atenção Primária à Saúde, no contexto da Síndrome da Zika Congênita. Recife: Fundação Altino Ventura, 2020.

Tratamento

Tratamento oftalmológico

A criança com deficiência visual deverá ser acompanhada por equipe multidisciplinar, envolvendo a equipe de saúde da Atenção Primária à Saúde, o oftalmologista e terapeutas especializados em baixa visão, em programa de habilitação visual com intervenção precoce, no escopo da Atenção Especializada. A participação da família e cuidadores é fundamental no processo da habilitação visual.

Objetivos:

  • Promover o desenvolvimento visual e global
  • Ampliar a integração da criança com o meio
  • Desenvolver as potencialidades da criança, favorecendo uma vida inclusiva
  • Controle da iluminação: De grande importância e muitas vezes esquecido. A presença de fotofobia e a baixa sensibilidade ao contraste devem ser controlados por filtros, iluminação posicionada adequadamente, uso de boné ou viseiras e utilização de materiais em alto contraste
  • Estimulação visual: Utilizam-se objetos de tamanhos e tipos variados, coloridos, especialmente amarelo e vermelho, por apresentarem maior brilho, iluminados, de acordo com a idade e interesse da criança. Inicialmente são usados objetos da própria família, de formas simples, aumentando a sua complexidade de acordo com a resposta visual apresentada

Tratamento

Tratamento otorrinolaringológico

Crianças com perdas auditivas sensorioneurais necessitam de reabilitação auditiva com uso de Aparelho de Amplificação Sonora Individual (AASI). Pacientes com perda auditiva sensorioneural severa e que não tiverem uma resposta adequada com o uso de AASI, devem ser avaliados para implante coclear. Encaminhamentos preferencialmente através dos Centros Especializados de Reabilitação - CER.

Todo manejo deve ser associado com o tratamento fonoaudiológico voltado para o desenvolvimento da linguagem/comunicação, sendo imprescindível para o sucesso da habilitação auditiva.

Mesmo as crianças expostas que passaram na triagem devem ser submetidas à primeira avaliação audiológica (realizada pelo especialista otorrinolaringologista/audiologista) entre 7 meses e 12 meses e a segunda entre 18 meses e 24 meses.

Tratamento

Tratamento odontológico

Desafio Recomendações

Procedimentos invasivos

Exame cardiológico é necessário antes da realização de procedimentos invasivos em pacientes com problemas cardíacos

Instrução aos cuidadores

Instruir os cuidadores da importância da higienização oral com uso de dentifrícios fluoretados e da quantidade de pasta apropriada para cada faixa etária

Defeitos de esmalte

Realizar aplicações tópicas de verniz fluoretado, contendo 5% de fluoreto de sódio, semanalmente, por 4 semanas consecutivas

Lesões hipoplásicas cavitadas com exposição de dentina ou com envolvimento de cúspides dentárias requerem restaurações precoces com ionômero de vidro

Bruxismo

Tratamento compartilhado com o neurologista, usando relaxantes musculares, exercícios de relaxamento muscular e compressas quentes na região do masseter

Auto ferimento

Dependendo da região traumatizada é indicada polir as superfícies incisais e/ou oclusais dos dentes

Pode ser ainda utilizado protetor bucal caso o cirurgião-dentista julgue necessário a fim de evitar auto ferimento devido a espasmos e convulsões. Importante contatar um neurologista para buscar orientação para medicação de controle dos espasmos e convulsões

A extração dentária deve ser utilizada como último método possível diante da situação

Maloclusão

O acompanhamento periódico deve se concentrar na redução de má-oclusão. Dependendo de comorbidades sistêmicas, indicar tratamento ortodôntico e/ou ortopédico

Comorbidades

Tratamento multidisciplinar é indicado para melhorar tônus muscular, deglutição e a respiração

Fonte: Adaptado de Atendimento odontológico de crianças com Síndrome Congênita do Vírus Zika. Campinas: Rev Gaúch. Odontol, 2020.

Encaminhamento para atenção especializada

Para qualificação do encaminhamento, o caso clínico deve ser discutido com o canal de consultoria do Telessaúde Brasil Redes do Ministério da Saúde - 0800 644 6543.

O referenciamento para a atenção especializada deve conter as seguintes informações:

  • Condição que indique acompanhamento em serviço especializado
  • Número da teleconsultoria, se caso discutido com Telessaúde Brasil Redes do Ministério da Saúde - 0800 644 6543

Centros Especializados de Reabilitação (CER): Atenção ambulatorial especializada em reabilitação que realiza diagnóstico, tratamento, concessão, adaptação e manutenção de tecnologia assistiva, constituindo-se referência no território para a Rede de Atenção à Saúde da criança com Síndrome de infecção congênita pelo vírus Zika. Possui quatro modalidades de atenção: Física, intelectual, auditiva e visual.

Devem ser encaminhadas para diagnóstico e avaliação multidisciplinar (incluindo neurologista) em Centros Especializados de Reabilitação (CER), ou centros de referência, conforme fluxo regional:

  • Crianças no primeiro mês de vida com alterações compatíveis com a SCZ
  • Crianças com desenvolvimento atípico
  • Crianças com disfagia para avaliação, classificação e estratégias de manejo

Devem ser encaminhadas para avaliação multidisciplinar em Centros Especializados de Reabilitação (CER), ou centros de referência, conforme fluxo regional:

  • Crianças com necessidade de manejo da espasticidade
  • Crianças com grave comprometimento motor, quando indicado prescrição de auxílio de locomoção ou uso de órteses
  • Crianças com necessidade de fisioterapia respiratória

Encaminhar toda criança com suspeita ou exposta ao vírus Zika na gestação para realizar um exame oftalmológico completo e avaliação por equipe multidisciplinar. O seguimento e frequência das consultas deve ser definido pelo especialista, de acordo com os achados encontrados.

Devem ser encaminhadas para diagnóstico em Centros Especializados de Reabilitação (CER) com modalidade auditiva, ou aos Serviços de Saúde Auditiva de Alta Complexidade para avaliação multidisciplinar:

  • Crianças com falha no teste da Triagem Auditiva Neonatal, para caracterização do tipo e do grau da perda auditiva
  • As crianças que passaram na triagem auditiva neonatal devem ser encaminhadas para a primeira avaliação audiológica (realizada pelo especialista otorrinolaringologista/audiologista) entre 7 meses e 12 meses e a segunda entre 18 meses e 24 meses
  • Crianças com perda auditiva e/ou com desenvolvimento auditivo e de linguagem atípicos
  • Nos casos em que a equipe da APS não conte com profissional fonoaudiólogo habilitado para avaliação e classificação de disfagia, a criança deve ser encaminhada para atenção especializada

Crianças com necessidade de via alternativa de nutrição.

Criança com doença grave do refluxo gastroesofágico refratária ao tratamento.

Meninos que aos 6 meses não tiverem os testículos palpáveis no saco escrotal, encaminhar para avaliação.

Crianças em uso de vias alternativas de alimentação (gastrostomia, sonda), com desnutrição, obesidade ou com necessidades de adaptação alimentar em decorrência de disfagia grave e refluxo.

Crianças com SCZ que apresentem limitações temporárias ou permanentes que impossibilitem a realização de procedimentos na APS.

Famílias que necessitem de suporte socioafetivo e mulheres com risco elevado de depressão pós-parto, refratária à intervenção na atenção e/ou no serviço de origem.