Linhas de Cuidado

Diagnóstico Precoce

Gestantes com suspeita ou confirmação diagnóstica de infecção pelo vírus Zika durante a gestação

Ações em gestantes

O vírus Zika é transmitido por meio da picada do vetor Aedes aegypti, assim como por transmissão vertical,transfusão de sangue e hemoderivados e via sexual.

Medidas de prevenção: Controle do vetor e medidas protetivas individuais (uso de repelentes e de roupas com mangas longas e calças compridas). Os repelentes mais indicados para as grávidas são à base de “Icaridina”, o “DEET” e o “IR3535” e devem ser usados sobre a pele e por baixo da roupa.

Atenção: A ingestão de tiamina (vitamina B1) não apresenta eficácia comprovada como repelente.

Em áreas endêmicas, orientar o uso contínuo do preservativo durante toda a gestação.

O exame para confirmação de infecção pelo vírus Zika deve ser realizado se houver:

  • Suspeita clínica de febre pelo vírus Zika
  • Exantema maculopapular pruriginoso e/ou febre sem causa definida
  • Contato com fluídos corporais (sêmen, fluidos vaginais, orais, urina ou sangue) de pessoas suspeitas de infecção pelo vírus Zika
  • Gestante receptora de sangue ou hemoderivados durante a gestação
  • Ultrassonografia do feto com padrão alterado do perímetro cefálico (microcefalia)

Atenção: As informações sobre ocorrência de infecções, exantemas ou febres sem causa aparente devem ser investigadas e registradas no prontuário e na caderneta ou cartão da gestante.

Exames para a gestante com doença exantemática: Para o diagnóstico da causa do exantema deverão ser solicitadas amostras sanguíneas para realização de hemograma, teste de detecção do antígeno NS-1 do vírus Zika, sorologia e RT-PCR (para confirmar a presença do RNA do vírus Zika). O hemograma ajuda na diferenciação da infecção virótica com a bacteriana e a contagem de plaquetas informa sobre risco de episódios hemorrágicos.

  • Sorologia (realizada na fase aguda da doença exantemática ou logo após a detecção de microcefalia no feto) para: Zika, Dengue, Chikungunya, Parvovírus B19 e STORCH (Sífilis, Toxoplasmose, Rubéola, Citomegalovírus e Herpes)
  • RT-PCR (Reverse transcriptase-Polimerase Chain-Reaction), realizada entre 0-3 dias de doença exantemática - inferior a cinco dias para: Zika (também poderá ser realizado com amostra de urina, coleta até 15 dias), Dengue e Chikungunya

Coletar sangue e urina da gestante e enviar as amostras para o Laboratório Central de Saúde Pública (LACEN) para a confirmação diagnóstica. Identificar a amostra (nome paciente, data da coleta, material, município e agravo) refrigerar e enviar ao LACEN. em até 14 dias a partir da coleta.

O diagnóstico laboratorial de infecção aguda pelo vírus Zika pode ser feito por:

Detecção do RNA viral por RT-PCR (exame preferencial para o diagnóstico): No soro ou sangue total, preferencialmente nos primeiros cinco dias da doença (coletadas do 1º dia de febre ao 5º dia do início dos sintomas), devido ao curto período de viremia. Se a gestante tiver mais de cinco dias do início dos sintomas, coletar também amostra de urina e saliva.

Teste sorológico (ELISA) para a detecção da fração IgM: Geralmente detectável a partir do 6º dia do início dos sintomas, mas pode ser positivo a partir do 4º dia. As amostras devem ser coletadas do 6º dia de febre ao 30º dia de doença. Caso a IgM seja negativa, solicitar uma segunda amostra de sangue (soro) uma semana após o início dos sintomas, pois há possibilidade de soroconversão.

O diagnóstico de infecção prévia pelo vírus Zika pode ser feito pela detecção de IgG por ELISA (coletadas a partir do 30º dia de sintomas) ou dos anticorpos neutralizantes pelo teste de Neutralização por Redução de Placas (PRNT), que apresenta maior especificidade.

Investigação Laboratorial: instruções para coleta das amostras biológicas para diagnóstico sorológico e RT- PCR em gestantes com quadro clínico suspeito de Zika

Gestantes em qualquer período gestacional

Método diagnóstico

Amostra biológica

Procedimento de coleta

Armazenamento e conservação

Acondicionamento e transporte

RT-qPCR

(fase aguda, presença de sinais e sintomas)

Sangue/ Soro

  • Coletar 10 mL de sangue total em tubo separador de soro (sem anticoagulante), até o 5º dia após o início dos sintomas
  • Repousar por 30 min para coagulação
  • Centrifugar para separar soro
  • Armazenamento em tubo plástico estéril sem antigoagulante ou aditivos
  • Até duas semanas devem ser refrigeradas 2°C - 8°C
  • Acima de duas semanas devem ser congeladas a -20°C ou -70°C
  • Acondicionar em caixa de transporte de amostra biológica (categoria B UN/3373) com gelo reciclável ou seco, dependendo do período de conservação

Urina

  • Coletar 10 mL de urina em tubo estéril, até 14º dia após o início dos sintomas, preferencialmente
  • Centrifugar, desprezar o precipitado e separar o sobrenadante em tubo plástico, com tampa de rosca e anel de vedação
  • Tubo plástico com tampa de rosca e anel de vedação
  • Até duas semanas devem ser refrigeradas 2°C - 8°C
  • Acima de duas semanas devem ser congeladas a -20°C ou -70°C
  • Acondicionar em caixa de transporte de amostra biológica (categoria B UN/3373) com gelo reciclável ou seco, dependendo do período de conservação

Sorologia

IgM

(ELISA)

Sangue/ Soro

  • Coletar 10 mL de sangue total em tubo separador de soro (sem anticoagulante)
  • Repousar por 30 min para coagulação
  • Centrifugar para separar o soro
  • Armazenamento em tubo plástico estéril sem antigoagulante ou aditivos
  • Até duas semanas devem ser refrigeradas 2°C - 8°C
  • Acima de duas semanas devem ser congeladas a -20°C ou -70°C
  • Acondicionar em caixa de transporte de amostra biológica (categoria B UN/3373) com gelo reciclável ou seco, dependendo do período de conservação

Fonte: Adaptado de Guia de apoio para profissionais da Atenção Primária à Saúde, no contexto da Síndrome da Zika Congênita. Recife: Fundação Altino Ventura, 2020.

Critérios para notificação de gestantes com possível infecção pelo vírus Zika
Definição de casos
para fins de Vigilância
Critérios

Caso suspeito

Toda grávida, em qualquer idade gestacional, com doença exantemática aguda, excluídas outras hipóteses de doenças infecciosas e causas não infecciosas conhecidas

Caso confirmado

Toda grávida, em qualquer idade gestacional, com doença exantemática aguda, excluídas outras hipóteses de doenças infecciosas e causas não infecciosas conhecidas, com diagnóstico laboratorial conclusivo

Caso descartado

Registro de caso suspeito, em qualquer idade gestacional, com RT-PCR negativo e talvez com posterior identificação de outra etiologia para o exantema

Fonte: Adaptado de Guia de apoio para profissionais da Atenção Primária à Saúde, no contexto da Síndrome da Zika Congênita. Recife: Fundação Altino Ventura, 2020.

Atenção: Todos os casos de gestantes suspeitas ou confirmadas para a infecção pelo vírus Zika devem ser notificados no Registro de Eventos em Saúde Pública - RESP e, com base na investigação do recém-nascido ou natimorto, deverá ser feita edição da notificação para classificação final do caso.

Para mais informações sobre as coletas e interpretação do resultado dos exames, acesse o Guia de apoio para profissionais da Atenção Primária à Saúde, no contexto da Síndrome da Zika Congênita.

Atenção: Crianças expostas à infecção pelo vírus Zika na gestação, mesmo quando não apresentem alterações sugestivas da Síndrome de Infecção Congênita pelo vírus Zika, devem realizar consultas de puericultura mensais no primeiro ano de vida, pela probabilidade de que alterações possam se manifestar tardiamente

A gestante com suspeita ou confirmação de infecção pelo vírus Zika deve ter o pré-natal classificado como de alto risco, devendo ser encaminhada para atenção especializada.

A gestante diagnosticada com infecção pelo vírus Zika deve realizar exame ultrassonográfico mensal. Caso haja a suspeita de microcefalia fetal verificada pelo Exame de Ultrassom Obstétrico, a gestante/mãe deve ser vinculada à Maternidade de Referência de alto risco, devido a necessidade de avaliação pediátrica e suporte para possíveis complicações. Desta forma, o recém-nascido poderá ter uma estimulação precoce direcionada e rápida.

A avaliação do recém-nascido com suspeita ou confirmação de infecção pelo vírus Zika durante a gestação deve ser feita logo após o nascimento, na maternidade. A primeira consulta de puericultura na APS deve ser realizada até o 5º dia de vida do recém-nascido.

Para mais informações acesse o Roteiro para o seguimento da criança no Guia de apoio para profissionais da Atenção Primária à Saúde, no contexto da Síndrome da Zika Congênita.

Consulte a Linha de Cuidado de Pré-Natal de baixo risco.

Crianças expostas ao vírus Zika durante a gestação

O diagnóstico precoce e as avaliações de crianças expostas ao vírus Zika durante a gestação ou com alterações fenotípicas suspeitas de SCZ deve ser realizado na maternidade.

Investigação laboratorial

Realizar RT-PCR e sorologia (IgM) para o vírus Zika e rastreamento de STORCH em recém-nascidos, independentemente da história de exposição à infecção pelo vírus Zika durante a gestação, que apresentem manifestações clínicas ou de imagens sugestivas de SCZ.

Para mais informações sobre outras doenças transmissíveis durante a gestação, acesse:

Confirmação diagnóstica

Casos suspeitos de SCZ

Critérios para definição de casos suspeitos (recém-nascidos ou crianças) de Síndrome de infecção congênita pelo vírus Zika:
Critérios Características
Critério antropométrico
  • Pré-termo (idade gestacional menor que 37 semanas): Circunferência craniana menor que -2 desvios-padrão, segundo a curva de crescimento da InterGrowth, de acordo com a idade e sexo
  • A termo ou pós-termo (idade gestacional igual ou maior que 37 semanas): Circunferência craniana menor que -2 desvios-padrão, segundo a tabela da OMS (disponível na Caderneta da Criança (Menino e Menina)), de acordo com a idade e sexo
Critério clínico
  • Desproporção craniofacial (macro ou microcrania em relação à face)
  • Malformação articular dos membros (artrogripose)
  • Observação da persistência de duas ou mais manifestações neurológicas, visuais ou auditivas, quando não houver outra causa conhecida, independente do histórico materno
  • Duas ou mais manifestações neurológicas, visuais ou auditivas, mesmo não persistente, quando a mãe tem histórico de suspeita/confirmação de STORCH + infecção pelo vírus Zika durante a gestação
  • Alteração do crescimento/desenvolvimento neuropsicomotor (escala de Denver disponível na Caderneta da Criança (Menino e Menina)), sem causa definida, independentemente do histórico clínico de infecção na gestação
Exames de imagem
  • Alterações sugestivas de infecção congênita pelo vírus Zika por qualquer método de imagem (ultrassonografia, tomografia computadorizada ou ressonância magnética), conforme protocolo estabelecido pelo Ministério da Saúde

Fonte: Adaptado de Guia de apoio para profissionais da Atenção Primária à Saúde, no contexto da Síndrome Congênita da Zika. Recife: Fundação Altino Ventura, 2020.

Alterações mais comuns identificadas ao nascer e dentro do 1° mês de vida
Alterações em exame de imagem Alterações na visão ou
audição
Alterações
neurossensoriais
Achados clínicos dismorfológicos
  • Calcificações cerebrais
  • Distúrbio do desenvolvimento cortical cerebral
  • Predomínio fronto parietais do espessamento cortical
  • Polimicrogiria
  • Simplificação do padrão de giração/ sulcação cerebral
  • Ventriculomegalia/ Dilatação ventricular 
  • Alteração do padrão de fossa posterior
  • Hipoplasia de tronco cerebral, cerebelo, corpo caloso
  • Alterações no mapeamento de retina 
  • Lesão do epitélio retiniano, achados incomuns de pigmentação 
  • Lesões circulares atróficas da retina 
  • Alterações de Nervo Óptico (hipoplasia, atrofia parcial ou completa, aumento da escavação papilar) 
  • Alteração da função visual 
  • Avaliação da função auditiva 
  • Alterações do PEATE/EOA
  • Alterações do tônus muscular 
  • Alteração de postura 
  • Exagero dos reflexos primitivos 
  • Hiperexcitabilidade 
  • Hiperirritabilidade 
  • Crises epilépticas 
  • Dificuldade de sucção e deglutição 
  • Disfagia
  • Alterações de fundoscopia (retina e nervo óptico) 
  • Movimentos oculares anormais
  • Microcefalia (-2 dp) 
  • Desproporção craniofacial 
  • Deformidade articulares e de membros

dp=desvio padrão; EOA=emissões otoacústicas evocadas; PEATE= Potencial Evocado Auditivo do Tronco Encefálico

Fonte: Adaptado de Orientações integradas de vigilância e atenção à saúde no âmbito da Emergência de Saúde Pública de Importância Nacional: procedimentos para o monitoramento das alterações no crescimento e desenvolvimento a partir da gestação até a primeira infância, relacionadas à infecção pelo vírus Zika e outras etiologias infecciosas dentro da capacidade operacional do SUS. Brasília: Ministério da Saúde, 2017.

Alterações mais comuns identificadas após o 1° mês de vida
Alterações físicas Alterações funcionais Alterações neurossensoriais

Mais frequente

  • Desproporção craniofacial
  • Alteração de PC/ hidrocefalia pela expansão da fontanela anterior
  • Visuais (desatenção visual/estrabismo manifestos/nistagmo)
  • Hipertonia
  • Luxação congênita de quadril

Frequente

  • Alterações auditivas (perda auditiva sensório-neural uni ou bilateral)

Raramente

  • Microftalmia
  • Alteração em genitália – criptorquidia / hipospádia

Mais frequente

  • RGE/disfagia
  • Epilepsia/espasmos
  • Irritabilidade
  • Alterações visuais
  • Hipertonia/persistência dos reflexos arcaicos

Frequente

  • Alterações auditivas (perda auditiva sensório-neural uni ou bilateral)

Mais frequente

  • Alterações estruturais do SNC (calcificação, dismorfias do corpo caloso e ventriculomegalia)
  • Alterações do PEATE/ EOA
  • Alterações no mapeamento de retina/ reflexo olho vermelho / Foto documentação digital da retina

Raramente

  • Catarata
  • Glaucoma
  • Microftalmia
  • Coloboma

EOA=emissões otoacústicas evocadas; PEATE= Potencial Evocado Auditivo do Tronco Encefálico; RGE=refluxo gastro-esofágico; SNC=sistema nervoso central

Fonte: Adaptado de Orientações integradas de vigilância e atenção à saúde no âmbito da Emergência de Saúde Pública de Importância Nacional: procedimentos para o monitoramento das alterações no crescimento e desenvolvimento a partir da gestação até a primeira infância, relacionadas à infecção pelo vírus Zika e outras etiologias infecciosas dentro da capacidade operacional do SUS. Brasília: Ministério da Saúde, 2017.

Confirmação diagnóstica

Casos confirmados de SCZ

O caso suspeito com critérios clínicos e achados em exames de imagens que atender às seguintes condições:

  • Resultado positivo ou reagente para o vírus Zika em amostra do recém-nascido
  • Resultado negativo ou inconclusivo em pelo menos uma STORCH (sífilis, toxoplasmose, rubéola, citomegalovírus ou herpes simplex) em amostra do RN ou da mãe (durante a gestação)

Quando não for possível identificar o agente infeccioso, o caso pode ser classificado como provável ou confirmado de infecção congênita sem identificação etiológica.

Confirmação diagnóstica

Notificação de casos

O surto de SCZ de 2015/2016 foi considerado uma Emergência de Saúde Pública de Importância Nacional, dado o seu impacto na saúde. Assim, considerando que o Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC) apresenta um tempo de atualização dos nascimentos de até 30 dias, os casos suspeitos e confirmados devem ser prontamente notificados às Secretarias Municipais de Saúde e Ministério da Saúde, utilizando o formulário eletrônico de Registro de Eventos de Saúde Pública - RESP.

Atenção: O RESP possibilita que qualquer profissional de saúde ou cidadão notifique um caso suspeito ou confirmado de SCZ sem a necessidade de cadastro ou inscrição prévia.

Atenção: A notificação do caso suspeito ou confirmado de SCZ no RESP não exclui a necessidade de notificação das anomalias congênitas presentes no recém-nascido também na Declaração de Nascido Vivo, que alimenta o Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC).

  • Sinan (Sistema de Informação de Agravos de Notificação)
  • Sinasc (Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos)
  • SIM (Sistema de Informações sobre Mortalidade)
Local de registro das notificações
Local de registro Momento da identificação do caso
Pré-natal Ao nascer Na puericultura
RESP
  • Feto
  • Aborto
  • Óbito fetal/natimorto
  • Recém-nascido com microcefalia (PC < -2 desvios-padrão para IG e sexo) e/ou outras anomalias congênitas
  • Recém-nascido
  • Criança
Declaração de Nascido Vivo (Sinasc)

-

  • Recém-nascido com microcefalia grave (PC <- 3 desvios- padrão p/ IG e sexo) e/ou outras anomalias congênitas

– 

Declaração de Óbito (SIM)

– 

  • Natimorto 
  • Óbito
  • Óbito
Ficha de Notificação no Sinan
  • Gestante com suspeita ou confirmação de infecção pelo vírus Zika
  • Gestante com suspeita ou confirmação de infecção pelo vírus Zika
  • Mãe com suspeita ou confirmação de infecção pelo vírus Zika durante a gestação
  • RN ou criança com suspeita ou confirmação de infecção pelo vírus Zika

Fonte: Adaptado de Orientações integradas de vigilância e atenção à saúde no âmbito da Emergência de Saúde Pública de Importância Nacional: procedimentos para o monitoramento das alterações no crescimento e desenvolvimento a partir da gestação até a primeira infância, relacionadas à infecção pelo vírus Zika e outras etiologias infecciosas dentro da capacidade operacional do SUS. Brasília: Ministério da Saúde, 2017.