Manejo inicial - Situações agudas
Avaliação inicial
Considera-se como abstinência alcoólica se apresentar os sinais diferenciais: tremores, febre, sudorese excessiva, convulsões e delirium.
Considerar intoxicações por outras drogas (frequente associação).
- Avaliar ambiente, sujeitos e segurança (ACENA)
- Avaliação primária
- Realizar avaliação secundária
- Coletar história SAMPLA (sinais vitais, alergias, medicamentos em uso, passado médico, líquidos e alimentos, ambiente), exame clínico
- Valorizar: Tipo de substância, via de absorção e histórico psiquiátrico
- Não havendo evidência de trauma, manter o paciente em posição de recuperação devido ao risco de aspiração de secreções
- Manter o paciente aquecido
- Administrar oxigênio
- Garantir acesso venoso periférico com solução cristaloide
Intoxicação Aguda
Pacientes com risco agudo de suicídio; risco agudo de auto ou heteroagressão (quando não existir suporte sociofamiliar capaz de conter o risco); risco agudo de exposição moral (quando não existir suporte sociofamiliar capaz de conter o risco); sintomas psicóticos agudizados ou síndrome de abstinência a substâncias psicoativas avaliada pelo clínico como moderada a grave devem ser encaminhados para Serviço de emergência.
Condição clínica transitória, com alterações comportamentais ou psicológicas desde a embriaguez, levando depressão respiratória e até ao coma, e mais raramente, a morte.
O álcool é uma substância depressora do sistema nervoso central, e a medida que as doses são consumidas, os efeitos depressores começam a surgir e vão se agravando conforme a concentração de álcool no sangue (CAS) vai aumentando. O número de doses necessário para cada indivíduo atingir uma determinada alcoolemia varia bastante, pois irá depender da sua tolerância, da velocidade de ingestão e de absorção (muito mais rápida se estômago vazio) e do tipo de bebida utilizada (bebidas com maior concentração alcoólica são absorvidas mais rápido).
Durante a avaliação, o paciente pode estar com sintomas de intoxicação associados a um determinado nível de concentração de álcool no sangue, que pode melhorar ou agravar nas próximas horas, dependendo se o paciente ainda está absorvendo álcool ou já está metabolizando o álcool ingerido.
Critérios Diagnósticos de acordo com o DSM-5
- Ingestão recente de álcool
- Alterações comportamentais ou psicológicas clinicamente significativas e problemáticas (p. ex., comportamento sexual ou agressivo inadequado, humor instável, julgamento prejudicado) desenvolvidas durante ou logo após a ingestão de álcool
- Um (ou mais) dos seguintes sinais ou sintomas, desenvolvidos durante ou logo após o uso de álcool:
- Fala arrastada
- Incoordenação
- Instabilidade na marcha
- Nistagmo
- Comprometimento da atenção ou da memória
- Estupor ou coma
- Os sinais ou sintomas não são atribuíveis a outra condição médica nem são mais bem explicados por outro transtorno mental, incluindo intoxicação por outra substância
- Pacientes com perda de consciência, sedação comparável ao de uma anestesia cirúrgica, ou em parada respiratória: Realizar a abordagem inicial de acordo com as diretrizes preconizadas e encaminhar para o Serviço de emergência
Síndrome de abstinência de álcool
A síndrome de abstinência de álcool (SAA) é definida por um conjunto de sintomas apresentados após horas ou dias da redução ou interrupção do uso de álcool, em pacientes que fazem uso pesado e prolongado. A maioria dos pacientes apresenta sintomas leves a moderados, porém alguns pacientes podem apresentar sintomas mais graves.
A redução repentina na ingestão de álcool pode resultar em abstinência grave em pacientes dependentes.
A SAA evolui em estágios, somente o estágio 1 deve ser tratado na Atenção Primária à Saúde (APS). Os pacientes com sintomas dos demais estágios ou com risco de SAA grave, devem ser estabilizados e encaminhados para desintoxicação em ambiente sob observação e com cuidados clínicos de acordo com a gravidade e comorbidades do paciente.
Estágios da síndrome de abstinência de álcool
Estágio |
Tempo após último consumo |
Sintomas |
1 |
6 – 8 horas |
Ansiedade, tremor leve, náusea, taquicardia |
2 |
10 – 30 horas pode durar até 8 dias |
Tremor grosseiro, insônia, sudorese, pesadelos, ilusões podendo evoluir para alucinações (visuais, táteis ou auditivas) 3 – 5% progridem para o estágio 3 |
3 |
12 – 48 horas |
Similar ao estágio 2, associado a convulsões tônico-clônicas 1/3 irá progredir para o estágio 4 se não tratado |
4 |
3 – 5 dias, com duração até 14 dias |
Delirium tremens, desorientação, agitação, hiperatividade, alucinações, diaforese, hipertensão, taquicardia Pacientes em estágio 4 DEVEM ser atendidos na Unidade Hospitalar |
- Confirmar se o paciente recebeu Diazepam (quando estiver na Unidade de saúde), se não, administrar Diazepam 10 mg VO, e repetir mais 10 mg VO em 1h se não tiver melhora significativa dos sintomas. Se apresentar convulsões, administrar diazepam 10 mg EV em bolus até de h/h com dose máxima de 50 mg
- Confirmar se o paciente recebeu Tiamina (quando estiver na Unidade de Saúde), se não recebeu, sempre que disponível, administrar Tiamina. Preferencialmente Tiamina 100 mg via IM/EV em pacientes com sinais de desnutrição, má-absorção ou que já tiveram complicações por SAA grave (Se não houver Tiamina parenteral disponível, considerar complexo B que contenha ao menos 100 mg de Tiamina)
- Na ausência de Tiamina parenteral realizar a profilaxia com Tiamina 300 mg via oral (menos eficaz)
- Corrigir rapidamente a hipoglicemia
- Se < 70 mg/dL ou incapaz de medir, administre glicose 50% - 25 mL EV em 1-3 minutos (de preferência após a administração de Tiamina)
- Repita, se glicemia < 70 mg/dL, após 15 min
- NÃO administrar glicose se o paciente não estiver hipoglicêmico
- NÃO administrar fenitoína para tratar convulsões de abstinência de álcool e NÃO utilizar clorpromazina (diminui limiar convulsivante). Se necessário usar antipsicótico, dar preferência para haloperidol em baixa dose (1 mg a cada 6h), com cautela
- Avaliar se agitação e/ou situação de violência resistente ao manejo verbal, e manejar de acordo com protocolo vigente
- Realizar contato com a Regulação Médica para comunicar a situação clínica atualizada, orientações e definição do encaminhamento. Locais que não dispõem de Regulação Médica, realizar contato com o Centro de Atenção Psicossocial de referência em álcool e drogas ou encaminhar para a Emergência da Unidade Hospitalar
- Orientar os pacientes não removidos que procurem a rede de Atenção Primária ou CAPS de referência