Estável: Planejamento terapêutico
Aspectos gerais
O diagnóstico de transtorno do espectro autista (TEA) constitui uma descrição.
Deve-se evitar a comunicação diagnóstica precipitada para as famílias sem que o diagnóstico seja fruto de um processo cuidadoso e compartilhado com elas.
A identificação de sinais iniciais de problemas possibilita a instauração imediata de intervenções são extremamente importantes, uma vez que os resultados positivos em resposta a terapias são mais significativos quanto mais precocemente instituídos.
O processo diagnóstico é compartilhado com a atenção especializada e deve ser conduzido por uma equipe multidisciplinar que possa estar com o paciente em situações distintas:
- Atendimentos individuais
- Atendimentos à família
- Atividades livres e espaços em grupo
Abrange todas as atividades exercidas pelos profissionais de saúde com o objetivo de compreender, de forma abrangente e detalhada, a natureza das dificuldades do paciente, o que inclui o diagnóstico funcional e nosológico.
Há uma variedade de formas clínicas e/ou comorbidades que podem acometer a pessoa com TEA, sendo importante avaliar a necessidade de exames neurológicos, metabólicos e genéticos que podem complementar o processo diagnóstico, exigindo o encontro de uma diversidade de especialidades. Acesse comorbidades e diagnóstico diferencial.
O diagnóstico de TEA é uma descrição dimensional, pois estabelece a gravidade da condição, em um espectro que vai desde o muito discreto e leve, até condições muito intensas e graves.
Pessoas com TEA muitas vezes preferem que a sua condição seja entendida como uma diferença e não como uma patologia psiquiátrica ou uma deficiência, por reduzir o estigma e aumentar suas oportunidades de inserção social. Por outro lado, o reconhecimento da condição como uma patologia e/ou uma deficiência permite o acesso a serviços e recursos. Ambos aspectos são legítimos e devem ser considerados.
Anamnese
É necessária uma escuta qualificada da família e do paciente incluindo:
- História de vida: Dados sobre a gestação, o nascimento, os primeiros anos de vida, os marcos de desenvolvimento
- Configuração familiar: Quem mora na casa, laços familiares, relações com amigos, quem se ocupa prioritariamente do cuidado
- Rotina diária: Creche, escola ou grupo social, dia a dia, autonomia
- História clínica: Intercorrências de saúde, hospitalizações
- História de problemas de desenvolvimento dos pais, dos irmãos e de outros familiares (desenvolvimento físico, problemas emocionais, problemas de linguagem, aprendizagem na escola – leitura/escrita) com ou sem necessidade de tratamento
- Quando surgiram os primeiros sinais e sintomas do paciente e em que área do desenvolvimento
- Problemas no sono: Dificuldades para conciliar o sono ou sono agitado, medos
- Problemas na alimentação: Mastigação, apetite ausente ou excessivamente voraz, bem como particularidades em relação à comida (exigências sobre certos tipos de comida, temperatura da comida - dieta hiperseletiva) de forma rígida
- Problemas na conduta: Agressividade, hiperatividade, comportamento destrutivo e autoagressão
Exame Clínico
Um exame clínico completo deve ser realizado na consulta para avaliação de diagnóstico diferencial e presença de comorbidades. Utilize a Caderneta da Criança (Menino e Menina) para os registros. Consulte exame físico completo. Deixar esta frase oculta até que finalize esta página na Puericultura
Avalie a forma da cabeça, meça o perímetro cefálico e registre o seu valor no Gráfico de Perímetro Cefálico. Verifique se existem alterações fenotípicas.
Certifique-se de que o ambiente para a avaliação seja o mais tranquilo possível e que a criança esteja em boas condições emocionais e de saúde para o exame. Observe a interação do cuidador com a criança (vínculo), utilize alguns brinquedos e objetos que desencadeiam respostas reflexas.
Sinais de alerta do exame físico:
Perímetro cefálico (PC):
- RN com 37 semanas ou mais PC < 31,5 cm
- RN pré-termo PC < -2 desvios-padrão (Intergrowth)
Presença de alterações fenotípicas:
- Fenda palpebral oblíqua
- Olhos afastados
- Implantação baixa de orelhas
- Lábio leporino
- Fenda palatina
- Pescoço curto e/ou largo
- Prega palmar única
- Quinto dedo da mão curto e recurvado
A avaliação objetiva de habilidades motoras, de comunicação, de interação social e cognitiva deve ser realizada de acordo com os marcos propostos na Caderneta da Criança: Menino e Caderneta da Criança: Menina.
Características Clínicas de Crianças com Risco para TEA
De 6 a 8 meses |
De 12 a 14 meses |
Por volta de 18 meses |
Não apresentam iniciativa em começar, provocar e sustentar interações com os adultos próximos (por exemplo: ausência da relação olho a olho) |
Não respondem claramente quando são chamadas pelo nome |
Não se interessam por jogos de faz-de-conta |
Não se interessam pelo prazer que podem provocar no outro |
Não demonstram atenção compartilhada |
Ausência da fala ou fala sem intenção comunicativa |
Silenciamento de suas manifestações vocais, ausência do balbucio, principalmente em resposta ao outro |
Ausência do apontar protodeclarativo, na intenção de mostrar algo a alguém |
Desinteresse por outras crianças: preferem ficar sozinhas e, se ficam sozinhas, não incomodam ninguém |
Ausência de movimentos antecipatórios em relação ao outro |
Não há ainda as primeiras palavras ou os primeiros esboços são de palavras estranhas |
Caso tenham tido o desenvolvimento da fala e interação, podem começar a perder essas aquisições |
Não se viram na direção da fala humana a partir dos quatro primeiros meses de vida |
Não imitam pequenos gestos ou brincadeiras |
Já podem ser observados comportamentos repetitivos e interesses restritos e estranhos (por exemplo: por ventiladores, rodas de carrinhos, portas de elevadores) |
Não estranham quem não é da família mais próxima, como se não notassem a diferença |
Não se interessam em chamar a atenção das pessoas conhecidas e nem em demonstrar gracinhas |
Pode aumentar seu isolamento |
Fonte: Adaptado de Linha de cuidado para a atenção às pessoas com transtornos do espectro do autismo e suas famílias na Rede de Atenção Psicossocial do Sistema Único de Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2015.
Se alguma característica clínica positiva a escala M-CHAT-R (Modified Checklist for Autism in Toddlers-Revised) pode ser utilizada para avaliação complementar.
Recomenda-se que toda a criança seja submetida a uma triagem para o TEA na consulta de 18 meses, através da aplicação da escala M-CHAT-R, mesmo naquelas que não estão sob suspeita diagnóstica de TEA ou outros transtornos, desvios e atrasos do desenvolvimento. O teste pode ser repetido em intervalos regulares de tempo ou quando houver dúvida. Em casos suspeitos, a aplicação da M-CHAT-R deve ser antecipada para uma consulta com 16 meses de idade. Sugere-se que o agendamento seja realizado no momento da vacinação da criança com 15 meses de idade.
A escala M-CHAT-R auxilia na identificação de pacientes com idade entre 16 e 30 meses com possível TEA. É de rápida aplicação, pode ser aplicado por qualquer profissional da saúde, devendo ser respondido pelos pais ou cuidadores durante a consulta.
A avaliação pela M-CHAT-R é obrigatória para crianças em consultas pediátricas de acompanhamento realizadas pelo Sistema Único de Saúde, segundo a Lei nº 13.438, de 26 de abril de 2017.
A escala indica uma suspeita de TEA e não é diagnóstica.
Para todos os itens, a resposta “NÃO” indica risco de TEA; exceto para os itens 2, 5 e 12, nos quais “SIM” indica risco de TEA.
Resultado positivo maior ou igual a 3 pontos: a criança deve ser encaminhada para consulta com especialista em Psiquiatria da Infância e Adolescência ou em Neurologia Pediátrica a fim de realizar a avaliação de seguimento, com a aplicação do M-CHAT-R/F.
Resultados falso-negativos são possíveis. Se o resultado da triagem não for positivo, recomenda-se acompanhamento e monitoramento do desenvolvimento neuropsicomotor do paciente e reavaliação.
Checklist Modificado para Autismo em Crianças Pequenas: versão revisada e consulta de seguimento (M-CHAT-R/F)™
Por favor, responda as questões abaixo sobre o seu filho. Pense em como ele geralmente se comporta. Se você viu o seu filho apresentar o comportamento descrito poucas vezes, ou seja, se não for um comportamento frequente, então responda não. Por favor, marque sim ou não para todas as questões. Obrigado. |
|||
1 |
Se você apontar para algum objeto no quarto, o seu filho olha para este objeto? (POR EXEMPLO, se você apontar para um brinquedo ou animal, o seu filho olha para o brinquedo ou para o animal?) |
Sim |
Não |
2 |
Alguma vez você se perguntou se o seu filho pode ser surdo? |
Sim |
Não |
3 |
O seu filho brinca de faz de contas? (POR EXEMPLO, faz de conta que bebe em um copo vazio, faz de conta que fala ao telefone, faz de conta que dá comida a uma boneca ou a um bichinho de pelúcia?) |
Sim |
Não |
4 |
O seu filho gosta de subir nas coisas? (POR EXEMPLO, móveis, brinquedos em parques ou escadas) |
Sim |
Não |
5 |
O seu filho faz movimentos estranhos com os dedos perto dos olhos? (POR EXEMPLO, mexe os dedos em frente aos olhos e fica olhando para os mesmos?) |
Sim |
Não |
6 |
O seu filho aponta com o dedo para pedir algo ou para conseguir ajuda? (POR EXEMPLO, aponta para um biscoito ou brinquedo fora do alcance dele?) |
Sim |
Não |
7 |
O seu filho aponta com o dedo para mostrar algo interessante para você? (POR EXEMPLO, aponta para um avião no céu ou um caminhão grande na rua) |
Sim |
Não |
8 |
O seu filho se interessa por outras crianças? (POR EXEMPLO, seu filho olha para outras crianças, sorri para elas ou se aproxima delas?) |
Sim |
Não |
9 |
O seu filho traz coisas para mostrar para você ou as segura para que você as veja - não para conseguir ajuda, mas apenas para compartilhar? (POR EXEMPLO, para mostrar uma flor, um bichinho de pelúcia ou um caminhão de brinquedo) |
Sim |
Não |
10 |
O seu filho responde quando você o chama pelo nome? (POR EXEMPLO, ele olha para você, fala ou emite algum som, ou para o que está fazendo quando você o chama pelo nome?) |
Sim |
Não |
11 |
Quando você sorri para o seu filho, ele sorri de volta para você? |
Sim |
Não |
12 |
O seu filho fica muito incomodado com barulhos do dia a dia? (POR EXEMPLO, seu filho grita ou chora ao ouvir barulhos como os de liquidificador ou de música alta?) |
Sim |
Não |
13 |
O seu filho anda? |
Sim |
Não |
14 |
O seu filho olha nos seus olhos quando você está falando ou brincando com ele/ela, ou vestindo a roupa dele/dela? |
Sim |
Não |
15 |
O seu filho tenta imitar o que você faz? (POR EXEMPLO, quando você dá tchau, ou bate palmas, ou joga um beijo, ele repete o que você faz?) |
Sim |
Não |
16 |
Quando você vira a cabeça para olhar para alguma coisa, o seu filho olha ao redor para ver o que você está olhando? |
Sim |
Não |
17 |
O seu filho tenta fazer você olhar para ele/ela? (POR EXEMPLO, o seu filho olha para você para ser elogiado/aplaudido, ou diz: “olha mãe!” ou “óh mãe!”) |
Sim |
Não |
18 |
O seu filho compreende quando você pede para ele/ela fazer alguma coisa? (POR EXEMPLO, se você não apontar, o seu filho entende quando você pede: “coloca o copo na mesa” ou “liga a televisão”)? |
Sim |
Não |
19 |
Quando acontece algo novo, o seu filho olha para o seu rosto para ver como você se sente sobre o que aconteceu? (POR EXEMPLO, se ele/ela ouve um barulho estranho ou vê algo engraçado, ou vê um brinquedo novo, será que ele/ela olharia para seu rosto?) |
Sim |
Não |
20 |
O seu filho gosta de atividades de movimento? (POR EXEMPLO, ser balançado ou pular em seus joelhos) |
Sim |
Não |
Fonte: Checklist Modificado para Autismo em Crianças Pequenas: versão revisada e consulta de seguimento (M-CHAT-R/F)™. Tradução: Losapio, Siquara, Lampreia, Lázaro, & Pondé, 2020.
Para mais informações, acesse Checklist Modificado para Autismo em Crianças Pequenas: versão revisada e consulta de seguimento (M-CHAT-R/F)™.
Classificação Diagnóstica
Pacientes com suspeita diagnóstica devem ser encaminhados pela equipe multiprofissional. O diagnóstico de TEA é realizado na Atenção Especializada pelo profissional médico.
Atualmente o diagnóstico de TEA engloba, de forma única, as condições que anteriormente eram distintas, como autismo e Síndrome de Asperger.
CIDs que fazem parte do TEA:
- F84.0 Autismo infantil
- F84.1 Autismo atípico
- F84.3 Outro transtorno desintegrativo da infância
- F84.5 Síndrome de Asperger
- F84.8 Outros transtornos invasivos do desenvolvimento
Autismo Infantil
Mais prevalente em meninos (4:1), se instala antes dos 3 anos de idade. Os critérios diagnósticos incluem prejuízos persistentes em três áreas:
A criança pode evitar contato visual, recusar contato físico, praticamente não demonstrar iniciativa para se aproximar de outras pessoas e compartilhar com elas os seus interesses, manter-se isolada em situações sociais, não atender quando chamada pelo nome.
Não é incomum que a criança apresente vínculo específico e exagerado com uma pessoa (um dos pais, uma babá ou um irmão, por exemplo), tendo dificuldades para se afastar dela.
Algumas pessoas um pouco mais velhas com autismo podem demonstrar interesse por contatos, mas não entendem as regras que regem o jogo social, mostrando-se inadequadas e não percebendo as necessidades ou o sofrimento do outro. Outras vezes, a aproximação de outras pessoas é considerada por elas um “instrumental”, que utilizam uma parte do outro (a mão e o braço, geralmente) para conseguir um objeto ou para que possam ser levadas ao lugar que desejam.
Podem ter pouco senso de humor ou realizar uma interpretação literal do que escutam. São desajeitadas no contato social, o que as leva a preferir atividades isoladas.
O uso da linguagem e de expressões faciais ou gestos objetivando a comunicação, assim como as habilidades de imitação, estão ausentes, seriamente prejudicados ou são inadequados e idiossincráticos.
O surgimento da fala pode estar atrasado e uma parte das crianças não chega a desenvolver fala funcional. Ecolalia é comum, assim como a repetição estereotipada de frases fora do contexto.
Quando a fala não aparece até os cinco anos, é menos provável que isso venha a ocorrer mais tarde. Aquelas que falam costumam não usar a primeira pessoa (“eu”), referindo-se a si mesmas na terceira pessoa. Crianças com TEA não compreendem o duplo sentido, o humor ou a ironia e, nos casos mais graves, a simples compreensão de ordens ou solicitações é prejudicada.
Há dificuldade na generalização de conceitos abstratos.
É restrito e estereotipado. Os jogos de faz-de-conta e as brincadeiras de imitação estão comumente ausentes.
O foco de interesse da criança pode estar exageradamente ligado a um objeto ou a uma atividade específica. Há preocupação com a manutenção de rotinas, rituais e ordenação de brinquedos ou outros objetos, surgindo angústia se algo se modifica.
Nas crianças mais graves, podem existir vocalizações e movimentos corporais repetitivos. Movimentos de alguns objetos, especialmente os que são contínuos e previsíveis (como o girar de um ventilador ou das rodas de um carrinho ou o fluxo de água de uma torneira), exercem uma grande atração sobre essas crianças, que podem passar longos períodos absorvidas em sua observação.
Comorbidades e Diagnóstico diferencial
A avaliação pediátrica/clínica deve ser completa, bem como neurológica e psiquiátrica ampla, para um diagnóstico diferencial e detecção de quadros associados.
Uma das razões da grande variação na apresentação clínica dos transtornos do espectro do autismo é que eles podem vir acompanhados de outras manifestações físicas ou mentais.
A realização de exames complementares pode ser necessária para investigar as causas e doenças associadas, quando suspeita diagnóstica:
- Cariótipo com pesquisa de X frágil e Síndrome de Rett
- Eletroencefalograma
- Ressonância magnética nuclear cerebral
- Erros inatos do metabolismo
- Teste do pezinho
- Sorologias para sífilis, rubéola e toxoplasmose
- Audiometria ou potencial evocado auditivo troncocerebral
- Testes neuropsicológicos
Condições médicas que podem estar associadas ao TEA:
- Prematuridade
- Epilepsia: as crises convulsivas são mais comuns na população com TEA
- Deficiência intelectual
- Síndrome do X frágil e Síndrome de Rett
- Esclerose Tuberosa
- Encefalopatia Neonatal / Espasmo Infantil
- Paralisia Cerebral
- Síndrome de Down
- Distrofia Muscular
- Neurofibromatose
- Depressão e ansiedade
Uma criança com deficiência intelectual, apesar do início precoce de seus prejuízos, geralmente não manifesta a gama de limitações na interação, na comunicação e no repertório de interesses presentes no TEA.
As crianças com DEL apresentam diferentes graus de dificuldades de linguagem desde o início do seu desenvolvimento, podendo atingir a linguagem escrita.
Períodos relativamente curtos de terapia fonoaudiológica facilitam o diagnóstico diferencial, na medida em que as crianças com DEL tendem a responder melhor à terapia do que crianças com TEA.
As crianças apresentam inibição para falar em situações sociais ou na presença de estranhos, mas se comunicam por gestos, expressões faciais ou monossílabos e frequentemente usam a linguagem no ambiente doméstico.
As depressões podem se apresentar como intensa passividade, quietude ou falta de expressões faciais. Quanto menor a criança, mais difícil o diagnóstico diferencial, sendo necessários o acompanhamento longitudinal e a estimulação constante, para se avaliar a resposta da criança.
A criança apresenta prejuízos no vínculo social em decorrência de negligência ou de cuidados insuficientes e inadequados. Pode haver evitação do contato, diminuição da reatividade emocional, hipervigilância, reações agressivas, mas não existem os prejuízos na comunicação nem as estereotipias ou os comportamentos repetitivos. A elucidação diagnóstica muitas vezes é realizada quando os problemas na oferta de cuidados à criança são resolvidos, como por exemplo, retirar do lar uma criança vítima de abuso doméstico.
Quando há suspeita de TEA devido à falta de comunicação verbal e à falta de resposta aos estímulos sonoros, deve-se descartar o diagnóstico de surdez.
A criança surda mantém a capacidade de estabelecer comunicação não verbal por gestos e pelo olhar. Por outro lado, as crianças com TEA não surdas facilmente mostram que escutam, sendo atraídas ou se incomodando com uma série de barulhos, embora ignorando outros.
Avaliação das funcionalidades
O nível de funcionalidade do indivíduo deve ser determinado para que sejam escolhidas as intervenções necessárias e o nível hierárquico de serviço em que o paciente deve ser atendido.
Os déficits no TEA ocorrem em áreas de funcionamento que estão no âmbito de diferentes áreas de atuação, sendo necessárias avaliações psicológica, fonoaudiológica e terapia ocupacional. O médico tem o papel de gerenciador do caso.
A Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) é um sistema de classificação funcional que avalia as dimensões das atividades (execução de tarefas ou ações), da participação (ato de se envolver em uma situação vital), de desempenho (aquilo que o indivíduo faz no seu ambiente atual/real) e de capacidade (potencialidade ou dificuldade de realização de atividades) nas seguintes áreas:
- Aprendizagem e aplicação do conhecimento
- Tarefas e demandas gerais
- Comunicação
- Mobilidade
- Cuidado pessoal
- Vida doméstica
- Relações e interações interpessoais
- Áreas principais da vida
- Vida comunitária, social e cívica
Para maiores informações sobre a CIF acesse Como usar a CIF: Um manual prático para o uso da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF).
Avaliação de hábitos alimentares
As crianças com TEA podem apresentar comportamentos restritivos, seletivos e ritualísticos levando ao desinteresse e recusa para alimentação.
A alimentação pode ser negativamente afetada pela sensibilidade a texturas, gostos, cheiros e temperaturas dos alimentos.
Outros fatores podem estar associados como, atrasos do desenvolvimento motor oral, resultando em aumento de esforço para mastigação, regurgitação e problemas gastrointestinais, relacionados à presença de intolerância ou alergia alimentar.
Os profissionais de saúde devem estar atentos a estas condições e oferecer suporte às famílias. O ambiente, a maneira de ofertar o alimento, os hábitos alimentares, podem tornar a experiência alimentar mais agradável e estimulante para a criança.
Aspectos que podem auxiliar a aceitação dos alimentos pela criança:
- Uma rotina estruturada, principalmente para as refeições
- Preparar a criança para a hora da refeição, como ajudar a colocar a mesa, lavar as mãos: esse processo antecipa o que vai acontecer e a criança começa a se preparar
- Realizar as refeições em família, assim a criança terá pessoas em quem se espelhar nos movimentos e na motivação para experimentar o que as outras pessoas estão comendo
- Não forçar, mas oferecer. Coloque alimentos variados à mesa, perto da criança, de maneira que ela possa ver e, caso se interesse, possa se servir
- Se a criança aceitar, colocar alimentos diferentes em seu prato, mesmo que ela não coma, para que se familiarize com cores, cheiros e texturas diferentes
- Incentivar a independência durante a alimentação
- Trazer o lúdico: brincar de fazer comida e alimentar bonecas e bichos de pelúcia
- Permitir que a criança escolha o prato e copo de sua preferência para a refeição, isso pode trazer maior interesse para se sentar à mesa
- Convidar a criança a participar de atividades na cozinha, ajudar a lavar tomates, verduras, a fazer salada de frutas ou misturar o bolo, por exemplo
- Plantar temperos, e depois pedir que a criança pegue na horta
- Comemorar cada alimento novo que ela aceitar
- Não utilizar eletrônicos durante as refeições
Para informações complementares quanto a alimentação saudável em crianças acesse:
Guia alimentar para crianças brasileiras menores de 2 anos
Saúde da criança: aleitamento materno e alimentação complementar
Encaminhamento para atenção especializada
A identificação precoce e o encaminhamento ágil e adequado para o atendimento especializado garantem melhor resultado terapêutico e prognóstico dos casos.
Para qualificação do encaminhamento, o caso clínico deve ser discutido com o canal de consultoria do Telessaúde Brasil Redes do Ministério da Saúde - 0800 644 6543.
Fluxo de avaliação para encaminhamento para o especialista
Conteúdo descritivo mínimo que o encaminhamento deve ter:
- Descrição do quadro atual (idade de início, evolução dos sintomas)
- Histórico de outros transtornos psiquiátricos ou internações psiquiátricas atuais e/ou passados
- Tratamento em uso ou já realizado para a condição (se medicamentos, quais estão sendo ou foram utilizados, com dose e posologia)
- História familiar de transtorno do espectro autista (TEA) / deficiência intelectual ou pais consanguíneos
- Número da teleconsultoria, se caso discutido com TelessaúdeRS (0800 644 6543)
Suspeita ou diagnóstico de TEA: tanto o neurologista quanto o psiquiatra estão habilitados para realizar o diagnóstico de TEA, o encaminhamento vai depender dos fluxos de encaminhamento regionais.
Acompanhamento dos pacientes com TEA e que apresentem as seguintes condições:
- Auto/heteroagressividade
- Agitação psicomotora
- Problemas com o sono
- Sintomas psicóticos (alucinações ou delírios)
- Presença de comorbidades psiquiátricas como depressão, ansiedade e transtorno obsessivo compulsivo
Crianças com diagnóstico de TEA devem ser encaminhadas para Estimulação Precoce nos serviços de referência em reabilitação intelectual.
O Centro Especializado em Reabilitação (CER) é um ponto de atenção ambulatorial especializado em reabilitação que realiza diagnóstico, tratamento, concessão, adaptação e manutenção de tecnologia assistiva, constituindo-se em referência para a rede de atenção à saúde da pessoa com deficiência. É organizado a partir da combinação de no mínimo duas modalidades de reabilitação (auditiva, física, intelectual, visual).
A reabilitação/habilitação é realizada de forma interdisciplinar e com o envolvimento direto de profissionais, cuidadores e familiares nos processos de cuidado. O acompanhamento acontece a partir das necessidades de cada indivíduo, considerando o impacto da deficiência sobre sua funcionalidade, bem como, os fatores clínicos, emocionais, ambientais e sociais envolvidos.
O usuário é acolhido no CER por uma equipe multidisciplinar, sendo realizada a triagem inicial com objetivo de elaborar um plano terapêutico que promova uma melhor qualidade de vida.
Todos os estados do país contam com CER habilitados pelo Ministério da Saúde a prestar atendimento em reabilitação.
Atenção: Entre em contato com sua secretaria municipal de saúde para identificar o local de referência para o município.
Os serviços de reabilitação da Rede de Cuidados à Saúde da Pessoa com Deficiência, em qualquer que seja a modalidade de reabilitação, devem garantir como oferta do cuidado integral e qualificada, tais como:
- Acolhimento do usuário
- Avaliação inicial
- Diagnóstico a partir da análise dos sinais, sintomas, histórico clínico, exames físicos, complementares e avaliação de funcionalidade
- Elaboração de Plano Terapêutico
- Atendimento especializado em reabilitação/habilitação
- Estimulação Precoce às Crianças de 0 a 3 anos
- Orientações aos cuidadores pessoais, acompanhantes e familiares
- Estratégias de Educação permanente
- Sistema de referência e contrarreferência
- Articulação intersetorial com os serviços de proteção social, educação, esporte, cultura, entre outros
Todas as crianças com diagnóstico de TEA devem passar por uma avaliação no CAPSi/CAPS.
Os CAPS são serviços abertos e de caráter comunitário, de referência para o cuidado às pessoas com transtornos do espectro do autismo, independentemente de sua idade. São constituídos por equipe multiprofissional que atua sob a ótica interdisciplinar organizados em diferentes modalidades. As equipes dos CAPS são compostas por diferentes profissionais de saúde entre psicólogos, terapeutas ocupacionais, enfermeiros, fonoaudiólogos, pedagogos, psiquiatras, clínicos gerais, assistentes sociais, técnicos de enfermagem, agentes sociais, entre outros, que desenvolvem suas ações a partir do acolhimento de demandas espontâneas ou referenciadas, pautadas nos projetos terapêuticos.
O cuidado é desenvolvido por intermédio do Projeto Terapêutico Singular - PTS. Sua construção envolve o Profissional de referência, que fará toda a gestão do PTS e da equipe. A articulação intra e intersetorial e os recursos comunitários também fazem parte da rotina do serviço.
É função do CAPS ofertar apoio matricial às equipes de saúde da família e aos pontos de atenção às urgências, apoiando e subsidiando o processo diagnóstico, o acompanhamento direto das situações graves e se co-responsabilizar pela atenção às urgências.
Centros de Atenção Psicossocial Infanto-Juvenil - CAPS ij: serviços especializados para atender crianças e adolescentes que apresentam prioritariamente intenso sofrimento psíquico decorrente de transtornos mentais graves e persistentes, incluindo aqueles relacionados ao uso de substâncias psicoativas e outras situações clínicas que impossibilitem estabelecer laços sociais e realizar projetos de vida, seja em situações de crise ou nos processos de reabilitação psicossocial.
Nos municípios onde não houver CAPS ij, deverá ser garantida a atenção a essa população em outra modalidade existente de CAPS, respeitando-se os princípios e as diretrizes do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Além disso, possui a disponibilidade de atenção em tempo integral ou parcial, considerando-se a complexidade das necessidades do paciente e também a intensidade da atenção desenvolvida pelos familiares.
A assistência prestada no CAPS inclui as seguintes atividades:
- Atendimento individual (medicamentoso, psicoterápico, de orientação, entre outros)
- Atendimento em grupos (psicoterapia, grupo operativo, atividades de suporte social, entre outras)
- Atendimento em oficinas terapêuticas
- Visitas domiciliares
- Atendimento à família
- Atividades comunitárias enfocando a integração do paciente na comunidade e sua inserção familiar e social
O acolhimento dos pacientes e seus familiares é uma estratégia de atenção fundamental para a identificar as vulnerabilidades e necessidades que possam favorecer o planejamento de intervenções clínicas, medicamentosas e psicossociais, com potencial para o cuidado qualificado e a promoção de autonomia e reinserção sócio familiar.
Em geral, as atividades desenvolvidas nos CAPSi são as mesmas oferecidas nos CAPS, como atendimento individual, atendimento grupal, atendimento familiar, visitas domiciliares, atividades de inserção social, oficinas terapêuticas, atividades socioculturais e esportivas, atividades externas. Elas devem ser dirigidas para a faixa etária a quem se destina atender. Assim, por exemplo, as atividades de inserção social devem privilegiar aquelas relacionadas à escola.
Há diversas modalidades de CAPS: I, II, III, álcool e drogas (CAPSad), CAPSad III e CAPS AD IV (alguns que funcionam durante as 24 horas do dia). Os serviços são organizados para ser uma porta aberta às demandas de saúde mental do território e também deve identificar populações específicas e mais vulneráveis que devem ser objeto de estratégias diferenciadas de cuidado.
Em alguns locais onde houver equipes ambulatoriais, é possível que a assistência à criança com desenvolvimento atípico de menor complexidade ocorra em ambulatórios de especialidades. É importante destacar que o foco desses serviços deve ser o tratamento precoce da criança, após elaboração do plano terapêutico, implementado por equipe multidisciplinar com diagnóstico concomitante.
Aspectos Gerais
O tratamento tem como finalidade o desenvolvimento de competências de linguagem, comunicação, sociais, memória, acadêmicas e aprimoramento de foco e atenção e redução de problemas comportamentais.
Quanto mais precoce for iniciada a estimulação, mais chances de ter a trajetória do desenvolvimento da criança otimizada, além da possibilidade de melhorar o seu funcionamento sócio-adaptativo a longo prazo.
O tratamento se concentra em intervenções comportamentais e educacionais direcionadas aos sintomas nucleares do transtorno, como, por exemplo, as deficiências de comunicação e interação social, padrões repetitivos de comportamento, interesses e atividades preferenciais. A escolha do método a ser utilizado no tratamento e a avaliação periódica de sua eficácia devem ser feitas de modo conjunto entre a equipe e a família do paciente, garantindo informações adequadas quanto ao alcance e aos benefícios do tratamento, bem como favorecendo a implicação e a corresponsabilidade no processo de cuidado à saúde.
Deve oferecer recursos e alternativas para que se ampliem os laços sociais, suas possibilidades de circulação, ampliar suas formas de se expressar e se comunicar, favorecendo a inserção em contextos diversos.
O processo diagnóstico se constitui de uma avaliação ampla, mas mantendo o foco nas esferas afetadas, sendo o momento inicial da construção de um projeto terapêutico singular, que deverá ser construído a partir das características específicas da família e não apenas das dificuldades ou dos sinais psicopatológicos do paciente. É necessário utilizar estratégias para incluir a família/cuidadores e a comunidade no projeto terapêutico.
A proposta terapêutica deve partir do contexto do paciente, das rotinas que ele estabelece, de seu cotidiano, do que ele elege e do que evita, da escuta da família e de outros atores importantes. O projeto terapêutico a ser desenvolvido deve resultar do diagnóstico elaborado, das sugestões da equipe, e das decisões da família. Todo projeto terapêutico, portanto, será individualizado e deve atender às necessidades, demandas e interesses de cada paciente e de seus familiares.
Deve oferecer recursos e alternativas para que se ampliem seus laços sociais e suas possibilidades de circulação, ocupação e trabalho.
Não existe uma única abordagem a ser privilegiada no atendimento de pessoas com transtornos do espectro autista. Contudo, recomenda-se que a escolha entre as diversas abordagens existentes considere a fundamentação em sólido alicerce científico e que tenha como premissa a sua efetividade e segurança, e seja tomada de acordo com a singularidade de cada caso.
Cabe destacar que a abordagem comportamental (Applied Behavior Analysis - ABA) é considerada uma prática com embasamento científico forte e recomendada como melhor terapêutica pelas principais organizações médicas mundiais focadas no TEA. A prática consiste em identificar habilidades preservadas, potencialidades e preferências de cada paciente, bem como áreas comprometidas
Objetivos do tratamento
- Compreender o funcionamento individual de cada paciente, respeitando seus limites e suas possibilidades de desenvolvimento
- Desenvolver um programa individualizado de tratamento por meio da aprendizagem de novas habilidades, ampliando os repertórios de potencialidades e reduzindo comportamentos mal adaptativos ou disfuncionais
- Desenvolver ou melhorar as habilidades de autocuidado, propiciando maior autonomia
- Desenvolver habilidades sociais, com o objetivo de melhorar o repertório social dos pacientes para proporcionar interações sociais mais positivas
- Melhorar a qualidade do padrão de comunicação, seja verbal ou não verbal
- Reduzir ou extinguir repertórios inadequados e comportamentos mal adaptativos, que dificultam a interação social ou aquisição de novas habilidades, como agitação psicomotora, comportamentos auto ou heteroagressivos e estereotipias
- Realizar orientações frequentes aos pais e/ou cuidadores de modo a inseri-los no programa de tratamento, proporcionando novas situações de aprendizagem, não apenas durante as sessões, mas tendo os cuidadores como coterapeutas, reproduzindo as orientações recebidas e possibilitando a replicação dos comportamentos adequados em outros contextos
O plano terapêutico deve incluir a adaptação do indivíduo ao ambiente escolar. É importante não apenas acompanhar o rendimento acadêmico, mas, principalmente, discutir a implementação de estratégias para melhor adaptação social e desenvolvimento no cenário escolar.
Educação Inclusiva: Tem como princípio que todos se beneficiam quando as escolas promovem respostas às diferenças individuais dos estudantes. Na perspectiva da educação inclusiva, a educação especial passa a integrar a proposta pedagógica da escola regular, promovendo o atendimento às necessidades educacionais especiais de alunos com TEA.
As crianças com transtornos do neurodesenvolvimento têm direito de acesso ao atendimento educacional especializado, que tem como função identificar, elaborar e organizar recursos pedagógicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a participação dos alunos, considerando suas necessidades específicas. As atividades desenvolvidas diferenciam-se daquelas realizadas na sala de aula comum, não sendo substitutivas à escolarização e sim de complementação.
Ao longo de todo o processo de escolarização esse atendimento deve estar articulado com a proposta pedagógica do ensino comum. Por meio desse atendimento, é possível organizar recursos, mediações e estratégias para o acesso desses estudantes à rotina escolar e às atividades pedagógico-acadêmicas.
Para mais informações sobre estratégias no manejo de crianças com TEA na escola, acesse a Cartilha Autismo & Educação e Saberes e práticas da inclusão: dificuldades acentuadas de aprendizagem - Autismo (2ª ed. rev).
Para mais informações sobre educação inclusiva, acesse o Decreto Legislativo nº 186, de 2008, Decreto Executivo nº 6.949, de 25 de agosto de 2009 e a Política Nacional de Educação Especial: Equitativa, Inclusiva e com Aprendizado ao Longo da Vida.
É um dos aspectos principais para o êxito do tratamento. A família fica muito fragilizada ao receber o diagnóstico de TEA para um de seus membros e deve ser constantemente fortalecida e instrumentalizada para os cuidados com o paciente e seus demais integrantes.
Os atendimentos de apoio familiar devem ser feitos de forma a atender às demandas individuais das famílias e também a ajudá-los a formar uma rede de apoio.
Compreende a psicoeducação, o apoio psicológico aos pais e/ou cuidadores e a instrumentalização para eles serem agentes terapêuticos.
Grupos de psicoeducação (conhecimento da doença e seu tratamento): devem ser realizados para que a família possa ter esclarecidas suas dúvidas, entender a situação e compartilhar as decisões do projeto de vida do paciente. Conforme o paciente esteja apto a participar dessas decisões, ele deve passar a tomá-las conjuntamente com a família e equipe terapêutica.
Os agentes comunitários podem realizar acompanhamento das famílias em domicílio, auxiliando na atuação delas como instrumento terapêutico e fazendo os ajustes necessários quando possível ou levando as situações de dificuldade para a equipe terapêutica.
Treinamento parental (Caregiver Skills Training programme): programa preconizado pela OMS com abordagem centrada na família, desenvolvido para ser ofertado em parceria com não especialistas (enfermeiros, agentes comunitários ou pares) como parte de uma rede de serviços de saúde e assistência social para as crianças e suas famílias.
O programa compreende 9 sessões em grupo e 3 visitas domiciliares individuais com objetivo de treinar os cuidadores durante a rotina de casa e atividades diárias, oportunizando esse momento para aprendizagem e desenvolvimento. As sessões são focadas em aprimoramento das habilidades de comunicação, engajamento, habilidades básicas do dia a dia, comportamentos desafiadores e acompanhamento dos cuidadores. Adicionalmente, módulos focados no bem estar dos cuidadores e módulos especializados para crianças minimamente verbais também estão disponíveis.
Componentes principais do treinamento para o desenvolvimento de habilidades parentais para famílias com crianças com desenvolvimento atípico
Fonte: COCAM/DAPES/SAPS/MS.
Considerar o contexto familiar na capacitação dos pais sobre os comportamentos e estratégias que permitam a melhor interação com seus filhos, permite que os resultados do Plano Terapêutico Singular sejam melhor alcançados e que a família desenvolva habilidades e autonomia para lidar com a criança.
Para materiais de apoio aos cuidadores de pessoas com TEA acesse o site Autismo e Realidade.
Um aspecto importante para que os pacientes tenham um papel ativo no tratamento é conhecer o transtorno que lhes acomete. Grupos de psicoeducação devem ser realizados para que a família possa ter contempladas suas dúvidas, entender a situação e compartilhar as decisões do projeto de vida do paciente.
As estratégias de reabilitação psicossocial buscam promover e intensificar ações para a garantia de efetiva participação social e de acesso aos direitos, à cultura e à educação.
Iniciativas de geração de trabalho e renda, empreendimentos solidários, cooperativas sociais e ações de caráter intersetorial para a inserção no trabalho, destinadas às pessoas com transtornos mentais, devem articular sistematicamente as redes de saúde e de economia solidária para garantir a melhoria das condições de vida, a ampliação da autonomia e a inclusão social dos pacientes e de seus familiares.
Estimulação precoce
A plasticidade e a maturação neuronal dependem de estimulação.
Abordagem de caráter sistemática e sequencial, que utiliza técnicas e recursos terapêuticos para estimular todos os domínios que interferem na maturação da criança, com o objetivo de favorecer o desenvolvimento motor, cognitivo, sensorial, linguístico e social, evitando ou amenizando eventuais prejuízos.
Os primeiros anos de vida são considerados críticos para o desenvolvimento das habilidades motoras, cognitivas e sensoriais, pois neste período ocorre o processo de maturação do sistema nervoso central, sendo a fase ótima da plasticidade neuronal.
A estimulação precoce em crianças de zero a 4 anos de idade que apresentem risco potencial de atrasos no desenvolvimento neuropsicomotor é justificada por ser o período mais suscetível a transformações provocadas pelo ambiente externo.
Possui como meta estimular a criança a ampliar suas competências, tendo como referência os marcos do desenvolvimento típico, através de orientações aos pais de estímulos aplicados a cada faixa etária, reduzindo, desta forma, os efeitos negativos de uma história de riscos.
A criança deve ser reavaliada em até 30 dias para avaliação da resposta e após, conforme planejamento terapêutico.
Fundamental destacar que a estimulação precoce não tem contra-indicações. Ao mínimo sinal de alteração em qualquer um dos marcos do desenvolvimento ou simples queixa/suspeita do cuidador, deve ser implementada de forma imediata e concomitante à qualquer abordagem para confirmação diagnóstica.
Para mais informações sobre como orientar a estimulação precoce, acesse as Diretrizes de estimulação precoce: crianças de zero a 3 anos com atraso no desenvolvimento neuropsicomotor.
Medidas Preventivas
Muitos problemas comportamentais graves podem ser controlados ou evitados através de pequenas medidas preventivas de reorganização do ambiente físico ou social.
A organização adequada do ambiente físico é um passo simples e bastante efetivo na prevenção de problemas de comportamento.
Para mais informações, acesse o Capítulo IV da Cartilha Autismo e Educação.
Práticas Integrativas e Complementares em Saúde
Incluem ao cuidado as práticas de meditação, yoga, Tai Chi Chuan e conceitos da medicina tradicional chinesa como orar e contemplar, movimentar o corpo, alimentar-se bem e nutrir a afetividade. Em unidades que contam com profissionais habilitados, podem ser consideradas como uma oferta para pacientes com quadros leves de TEA.
Para mais informações, acesse a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS.
Tratamento medicamentoso
O emprego de técnicas adequadas ao tratamento psicossocial e educacional reduz a necessidade de uso de medicação nos pacientes. Entretanto, algumas medicações podem ser úteis quando houver sintomas específicos que prejudicam de forma significativa o rendimento e a funcionalidade, como agitação psicomotora, agressividade, impulsividade e irritabilidade, ressaltando que não são utilizadas para tratar os sintomas centrais do TEA.
A indicação deve ser realizada por profissionais especializados. Vale ressaltar que até o momento não existe uma medicação específica para o tratamento do TEA. Os Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) podem oferecer diferentes tipos de atividades terapêuticas. Esses recursos vão além das consultas consultas e de medicamentos, e caracterizam o que vem sendo denominado clínica ampliada. Essa ideia de clínica vem sendo (re)construída nas práticas de atenção psicossocial, provocando mudanças nas formas tradicionais de compreensão e de tratamento dos transtornos mentais.
Haloperidol: antipsicótico de primeira geração mais utilizado, no entanto, tem sido cada vez mais substituído pelos antipsicóticos de segunda geração (atípicos), devido ao perfil de efeitos colaterais. Utilizar em doses baixas, com lenta titulação:
Crianças de 3 a 12 anos com peso de 15 a 40 kg: iniciar com 0,5 mg/dia, via oral, dividida em 2 a 3 doses; a dose pode ser aumentada 0,5 mg a cada 5 a 7 dias até a dose usual de manutenção de 0,05 a 0,075 mg/kg/dia dividida em 2 a 3 doses. A dose máxima não é estabelecida, entretanto, não é observado melhora com doses superiores a 6 mg/dia.
Crianças com > 40 kg e adolescentes: 0,5 a 15 mg/dia, via oral, dividida em 2 a 3 doses; a dose pode ser aumentada a cada 5 a 7 dias até a dose máxima de 15 mg/dia.
Risperidona: indicada para o tratamento de irritabilidade associada ao TEA, em crianças e adolescentes, incluindo sintomas de agressão a outros, autoagressão deliberada, crises de raiva e angústia e mudança rápida de humor.
O tratamento deve ser iniciado com 0,25 mg/dia para pacientes com peso inferior a 20 kg e 0,5 mg/dia para pacientes com peso maior. A dose deve ser ajustada em um regime de aumento de 0,25 mg e 0,5 mg, respectivamente, com intervalo maior do que 2 semanas, sendo recomendadas as doses diárias máximas de 1,5 mg em pacientes < 20 kg, de 2,5 mg em pacientes ≥ 20 kg ou 3,5 mg em pacientes > 45 kg. A receita de risperidona, no SUS, exige o preenchimento de solicitação de medicamento especial.
Acompanhamento
As crianças/adolescentes devem permanecer em acompanhamento na Atenção Primária à Saúde durante todo o tratamento no CAPSi/CAPS e Atenção Especializada, avaliando a necessidade de intervenções durante esse processo
Todas as ações voltadas à população infantojuvenil devem pautar-se pelo Estatuto da Criança e do Adolescente e pela Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001, ressaltando-se a necessidade de viabilizar a presença e o acompanhamento de familiares ou responsáveis nestes espaços.
As reavaliações devem ser realizadas a cada 6 meses, pela equipe multidisciplinar, com o objetivo de observar os ganhos obtidos, pontos de estagnação e quais as novas necessidades para uma reorientação individualizada das intervenções.
Sugere-se que seja utilizada a escala Autism Treatment Evaluation Checklist (ATEC), Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF), bem como a reavaliação da Escala de Avaliação Global de Funcionamento (AGF), a Escala de Avaliação Global para Crianças e Adolescentes (C-GAS) e a escala de seguimento (M-CHAT-R/F).
Consulte instrumentos auxiliares.
Na passagem para a adolescência, além da possibilidade do surgimento de crises convulsivas, pode acontecer piora das situações de agitação e agressividade ou, menos comumente, maior apatia e lentidão em crianças que eram mais inquietas.
O manejo das questões de sexualidade pode se apresentar como uma dificuldade associada. Em pequena parcela das pessoas com TEA há perda autolimitada, mas permanente, de habilidades de linguagem e declínio cognitivo no período da adolescência.
Casos de menor gravidade devem ser mantidos em tratamento na Unidade de Atenção Primária à Saúde, com apoio da atenção especializada (equipes multiprofissionais ambulatoriais do CAPSi/CAPS), responsável pelo projeto terapêutico e a referência em saúde mental para o cuidado ao TEA e, quando necessário, o CAPSi/CAPS pode acionar outros pontos da rede, como serviços de referências específicas para atendimento ao TEA.
Casos de maior gravidade devem ser acompanhados pela equipe especializada do próprio CAPSi/CAPS e Atenção Especializada Ambulatorial.
Independente da complexidade do serviço em que o paciente esteja sendo atendido, o vínculo com a Atenção Primária à Saúde deve ser mantido (coordenadora do cuidado).
O projeto terapêutico singular deve ser revisto sistematicamente, levando-se em conta os projetos de vida, o processo de reabilitação psicossocial (com vistas à produção de autonomia) e a garantia dos direitos.
A partir da Lei nº 12.764, de 27 de dezembro de 2012, a pessoa com TEA passou a ser considerada pessoa com deficiência para todos os efeitos legais. Em 2015 foi regulamentada a Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015.
Além disso, benefícios estão previstos por leis aos portadores de TEA: Benefício de Prestação Continuada (BPC) e direito ao transporte gratuito, conforme Lei nº 8.899, de 29 de junho de 1994. A seguridade social faz parte da rede de cuidados à saúde do usuário com TEA.
De acordo com a Lei nº 13.977, de 8 de janeiro de 2020, a Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (Ciptea) deve ser emitida gratuitamente pelos órgãos estaduais, distritais e municipais, que possibilita prioridade de atendimento em serviços públicos e privados, em especial nas áreas de saúde, educação e assistência social.
Para mais informações sobre leis e portarias, acesse Sou Gestor.
Acompanhamento nas áreas de Atuação
Objetivo: Desenvolver e melhorar os sintomas comportamentais, linguagem e comunicação verbal e não verbal, estimulando e capacitando a interação e inclusão social da criança/adolescente.
O profissional atua junto à equipe interdisciplinar, nos serviços de saúde e na escola, na inclusão social e escolar e no contexto familiar.
Principais aspectos da abordagem:
- Avaliação para identificar as características comunicativas
- Elaboração de um plano terapêutico individualizado considerando as possibilidades familiares e educacionais disponíveis na comunidade na qual a criança/adolescente está inserida
- Aumentar as interações comunicativas e categorias pragmáticas, direcionadas para a aquisição da linguagem e trocas fonéticas, possibilitando a compreensão da fala e, principalmente, no desenvolvimento da semântica e pragmática
- uso da linguagem em contexto comunicativo de forma significativa, proporcionando autonomia e interação social
As avaliações e intervenções devem respeitar as políticas públicas de saúde e educação.
A escolha do método que será utilizado no tratamento e o acompanhamento dos resultados devem ser feitos em conjunto com a família, garantindo a troca de informações quanto à evolução e corresponsabilizando os processos de cuidado.
Para mais informações acesse as Diretrizes de Atenção à Reabilitação da Pessoa com Transtornos do Espectro do Autismo (TEA).
Programas de comunicação aumentativa e/ou alternativa, bem como aplicativos, como o Let me talk, podem ser úteis.
Possui como objetivo melhorar o desempenho em atividades, como alimentação, vestuário, higiene, mobilidade, desempenho escolar e ensino de procedimentos de segurança.
A atuação do terapeuta ocupacional envolve, ainda, visitas escolares e domiciliares periódicas com o objetivo de orientar os profissionais e os pais / cuidadores. A participação da escola e da família é fundamental, pois as habilidades com atividades do cotidiano requerem frequência e realização diárias: quanto mais a criança tiver a oportunidades para praticar em seu ambiente natural, maiores as chances de uma vida independente.
As áreas a serem trabalhadas, de acordo com a característica de cada paciente, são:
- Cuidados Pessoais: Alimentação – ensino passo a passo da tarefa de comer de forma independente; Toalete – controle de esfíncter e treino específico do uso do toalete; Higiene – lavar as mãos, tomar banho, escovar dentes; Vestuário – tirar e colocar roupas e sapatos; Sono – qualidade do sono e rotina na hora de dormir
- Atividades Domésticas: Arrumar a cama, guardar brinquedos, preparar um lanche, fazer compras em loja, preparar lista de compras, conhecer dinheiro (troco, contar)
- Mobilidade: Atravessar rua, pegar transporte público, solicitar ajuda quando perdido
- Educação: Ambiente escolar – localizar a sala, ir e vir independentemente; organização do espaço físico da sala, potencial grau de distraibilidade; adaptação do mobiliário e do material para escrita; coordenação motora global e fina; Rotinas escolares – grau de independência para tomar lanche, guardar material, brincar de forma compartilhada, utilizar o banheiro
- Emprego: Preparar adolescentes para uma atividade laborativa - pré- requisitos para atividades laborativas (assiduidade, pontualidade); habilidades para trabalho: exigências físicas (força, coordenação, postura) e cognitivas (memória, resolução de problemas)
- Processamento sensorial: Avaliar e intervir para melhorar o input sensorial, seja por problemas na modulação sensorial (defensividade tátil e auditiva, inquietação motora, insegurança gravitacional, intolerância e movimento), seja na coordenação (integração bilateral, sequenciamento e dispraxias, dificuldade de planejamento motor)
Fluxo de atenção após suspeita de TEA na Atenção Primária à Saúde
Rede de Cuidados à Saúde da Pessoa com TEA
Fonte: Adaptada de Linha de cuidado para a atenção às pessoas com transtornos do espectro do autismo e suas famílias na Rede de Atenção Psicossocial do Sistema Único de Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2015.