Linhas de Cuidado

Avaliação inicial - Aguda

Acolhimento / Triagem

Realizar acolhimento com classificação de risco.

Pacientes com sinais/sintomas sugestivos de insuficiência cardíaca aguda devem ser rapidamente avaliados quanto a presença de sinais de choque e insuficiência respiratória.

O acolhimento deve incluir as seguintes informações:

  • Situação/Queixa/Duração
  • Se dor, classificar a intensidade pela escala de 1 a 10 (Escala visual analógica)
  • Breve histórico (relatado pelo próprio paciente, familiar ou testemunhas)
  • Uso de medicações
  • Verificação de sinais vitais com glicemia
  • Realização de eletrocardiograma se dor torácica

Atenção: Se suspeita de infarto agudo do miocárdio como causa da insuficiência cardíaca, consulte a Linha de Cuidado de Infarto Agudo do Miocárdio.

A classificação de risco se dará nos seguintes níveis:

Vermelho: Prioridade zero - emergência, necessidade de atendimento imediato.

Amarelo: Prioridade 1 – urgência, atendimento o mais rápido possível.

Verde: Prioridade 2 – prioridade não urgente.

Azul: Prioridade 3 – consultas de baixa complexidade – atendimento de acordo com o horário de chegada.

Avaliação clínica

Deve ser realizado de forma sistemática, idealmente dentro dos primeiros 120 minutos de admissão.

A avaliação deve seguir os seguintes passos:

Avaliação da presença de risco imediato de vida

Avaliar:

Sinais de insuficiência respiratória:

Sinais / sintomas de hipoperfusão:

Instabilidade hemodinâmica:

  • Frequência respiratória > 25 ventilações/minuto
  • Saturação de oxigênio < 90% mesmo com administração de oxigênio suplementar por catéter nasal
  • Esforço ventilatório
  • Extremidades frias
  • Pressão de pulso estreita
  • Confusão/agitação mental
  • Frequência cardíaca < 40 ou > 130 batimentos por minuto
  • Hipotensão

Avaliação

Risco de vida

Conduta a ser considerada

Exame clínico

Insuficiência respiratória aguda / Edema agudo de pulmão

Cateter de oxigênio/ ventilação não invasiva/ tubo orotraqueal + suporte mecânico ventilatório

Diurético endovenoso

Choque cardiogênico

Iniciar inotrópicos

Confusão mental e desorientação

Avaliação neurológica

Eletrocardiograma

Taquiarritmias com instabilidade hemodinâmica

Cardioversão elétrica

Bradicardia grave

Marca-passo provisório transcutâneo

Ecocardiograma

Causa mecânica aguda

Avaliação da cirurgia cardíaca de urgência

Fator causal

Infarto agudo do miocárdio (IAM) com supradesnível do segmento ST

Angioplastia primária/ trombolítico

Consulte a Linha de Cuidado de IAM

Emergência hipertensiva

Nitroprussiato de sódio/ nitroglicerina por via intravenosa

Consulte a Linha de Cuidado de Hipertensão Arterial Sistêmica

Embolia pulmonar

Avaliar administração de trombolítico

Sepse

Protocolo de sepse

Avaliação clínica

Deve ser realizado de forma sistemática, idealmente dentro dos primeiros 120 minutos de admissão.

A avaliação deve seguir os seguintes passos:

Diagnóstico de IC aguda

A identificação da presença de congestão pulmonar ou sistêmica por meio da história clínica e do exame físico levam a suspeita clínica de IC aguda.

Os achados clínicos podem ser avaliados pelos critérios diagnósticos de Framingham, para uma maior acurácia diagnóstica. A história clínica pregressa ou de internação por IC, assim como a identificação do fator causal ou agravante, aumentam a probabilidade de IC aguda.

Critérios diagnósticos de Framingham

Critérios maiores

Critérios menores

Dispneia paroxística noturna

Edema de tornozelo bilateral

Turgência jugular a 45 graus

Tosse noturna

Refluxo hepatojugular

Dispneia aos mínimos esforços

Estertores pulmonares crepitantes

Derrame pleural

Cardiomegalia ao raio X de tórax

Taquicardia

Edema pulmonar agudo

Galope de terceira bulha

Fonte: Diretriz Brasileira de Insuficiência Cardíaca Crônica e Aguda. Rio de Janeiro: Arquivos Brasileiros de Cardiologia, 2018. 

Para o diagnóstico de insuficiência cardíaca: Dois critérios maiores e um menor, ou um maior e dois menores. Para a utilização dos critérios menores é necessária a ausência de qualquer condição que possa justificar a presença de um dos critérios.

Exames complementares devem ser solicitados na admissão, para complementar a avaliação diagnóstica, definir o fator causal e o diagnóstico diferencial, detectar comorbidades, definir e quantificar a congestão pulmonar e sistêmica e a presença de baixo débito cardíaco.

Exames laboratoriais

Indicação

Gasometria arterial

Solicitar se evidências de choque cardiogênico

Troponinas

Para identificação de infarto do miocárdio como causa da IC ou de descompensação

BNP ou NT-proBNP, se disponível

Para auxílio no diagnóstico de IC aguda, se dúvida diagnóstica

Afastam o diagnóstico (alta sensibilidade): e níveis séricos de BNP < 100 pg/mL e NT-proBNT < 300 pg/mL

Indicam fortemente diagnóstico: E BNP > 500 pg/mL e NT-proBNP > 900 pg/mL

Hemograma e função renal (uréia, creatinina, sódio, potássio)

Detectar comorbidades e/ou complicações de IC aguda

Eletrocardiograma

Permite suspeitar da etiologia da IC e da causa da descompensação

Radiografia de tórax

Permite avaliação da área cardíaca e da congestão pulmonar, e ajuda na diferenciação de causas torácicas e pulmonares da dispneia

Ecocardiograma

Deve ser realizado em todos os pacientes dentro das primeiras 48 horas da admissão. Se há instabilidade hemodinâmica, a ecocardiografia deve ser imediata.

Importante para definição do fator etiológico, grau da disfunção ventricular, avaliação da congestão pulmonar e sistêmica e identificação se fator mecânico

Ultrassom de tórax

Utilizado para complementar a avaliação clínica à beira de leito, podendo ser realizado por não especialista em ecocardiografia, com alta acurácia na detecção de congestão pulmonar e sistêmica

Permite também repetidas reavaliações, fornecendo monitorização clínico-hemodinâmica em resposta à terapêutica

BNP: Peptídeo natriurético do tipo B; NT-proBNP: Peptídeo natriurético N-terminal pró-tipo B.

Avaliação clínica

Deve ser realizado de forma sistemática, idealmente dentro dos primeiros 120 minutos de admissão.

A avaliação deve seguir os seguintes passos:

Pesquisa de fatores de descompensação

Cerca de 50% dos pacientes apresentam um fator clínico responsável pela descompensação ou agravamento da IC. É importante identificá-lo para melhor manejo terapêutico.

Fatores de descompensação:

  • Medicamentos inadequados ou má adesão ao tratamento
  • Hipertensão Arterial Sistêmica não controlada
  • Embolia pulmonar
  • Dissecção aórtica
  • Insuficiência mitral ou aórtica agudizada
  • Infarto Agudo do Miocárdio
  • Miocardite
  • Arritmias ventriculares frequentes
  • Fibrilação atrial ou flutter atrial
  • Marcapasso DDD ou VVI
  • Anemia
  • Doença da tireóide não compensada
  • Diabetes não controlado
  • Álcool/drogas
  • Desnutrição
  • Insuficiência renal aguda
  • Presença de infecção

Avaliação clínica

Deve ser realizado de forma sistemática, idealmente dentro dos primeiros 120 minutos de admissão.

A avaliação deve seguir os seguintes passos:

Perfil de risco prognóstico intra-hospitalar

A presença ou não de congestão pulmonar/sistêmica e de baixo débito cardíaco, estabelece quatro modelos clínicos-hemodinâmicos.

DPN: Dispnéia paroxística noturna; RHJ: Refluxo hepatojugular; B3: Terceira bulha; PPP: Pressão de pulso proporcional (PPP=PAS-PAD/PAS) onde PAS: Pressão arterial sistólica e PAD: Pressão arterial diastólica; se PPP < 0,25 há 91% de chance de o índice cardíaco ser < 2,2 L/Kg/m².

Manejo inicial

  • Avaliar nível de consciência:
    • Considerar intubação orotraqueal em pacientes com rebaixamento de consciência (Glasgow ≤ 8), com diagnóstico clínico de insuficiência respiratória aguda, ou evidente risco de aspiração
  • Manter o paciente em repouso com decúbito elevado
  • Instalar acesso venoso periférico em membro superior
  • Manter a permeabilidade das vias aéreas e a ventilação adequada
  • Oxigenação deve ser monitorada por oximetria de pulso (SpO2):
    • Oxigenoterapia deve ser considerada em pacientes com SpO2 < 90%
    • Ventilação Não-Invasiva (VNI) está indicada em pacientes com esforço ventilatório e deve ser iniciada o mais breve possível. VNI reduz o esforço ventilatório e reduz a taxa de intubação endotraqueal
  • Obter avaliação de Equilíbrio Ácido-Básico na admissão através de gasometria, especialmente em pacientes com edema agudo de pulmão e/ou história prévia de DPOC e/ou choque cardiogênico.

O manejo específico da IC deve ser de acordo com o perfil clínico hemodinâmico.

Objetivo do tratamento: Aliviar a congestão.

Diuréticos são fundamentais, devendo ser usados por via endovenosa (EV). As doses são variáveis conforme o quadro clínico, embora doses mais altas nesta fase podem ser superiores às mais baixas.

Dose de diurético

IC aguda nova ou sem uso prévio de diurético

IC prévia estabelecida ou em uso crônico de diurético oral

Furosemida

Inicial: 40 mg EV
Máxima: 120 - 240 mg EV a cada 6 - 12h
Contínua: 0,1 - 0,5 mg/kg/h

EV em bolus em dose pelo menos equivalente à dose oral
Máxima: 120 - 240 mg EV a cada 6 - 12h
Contínua: 0,1 - 0,5 mg/kg/h

Hidroclorotiazida

Inicial: 25 mg VO
Máxima: 100 mg VO/dia

Espironolactona

Inicial: 25 mg VO
Máxima: 200 - 400 mg VO/dia

EV: Endovenoso; VO: Via oral.

As drogas vasodilatadoras orais em uso pelo paciente devem ser mantidas e ajustadas caso o paciente esteja hipertenso. Os inibidores da conversão da angiotensina (IECA) ou bloqueadores da angiotensina (BRA) devem ser utilizados, preferencialmente, se os níveis séricos de potássio e função renal permitirem.

A segunda opção de vasodilatadores é a combinação de Hidralazina e Isossorbida, por provocarem vasodilatação arterial e venosa.

Atenção: Manter a pressão arterial em níveis normais.

Beta-bloqueadores: Em pacientes que já vem em uso, manter em doses mais baixas (metade da dose diária) e, se qualquer sinal de baixo débito ou choque, suspender. Em pacientes sem uso prévio, iniciar apenas em pacientes hemodinamicamente estáveis e sem sinais clínicos de congestão.

Alvos clínicos com a terapêutica diurética de descongestão:

  • Diurese: 1 litro nas primeiras 6 horas; 1,5 a 2,5 mL/kg/hora
  • Ausência de ortopneia e esforço respiratório em 24 horas
  • SatO2 > 90% em ar ambiente
  • Frequência cardíaca < 100 batimentos por minuto
  • Frequência respiratória < 22 ventilações por minuto
  • Pressão arterial Sistólica: 110 a 130 mmHg

Objetivo do tratamento: Prioritariamente, restabelecer o débito cardíaco e, subsequente, aliviar congestão.

Os níveis de pressão devem ser utilizados para a escolha da estratégia inicial.

Paciente com pressão arterial sistólica (PAS) ≥ 85 mmHg

Os vasodilatadores endovenosos, Nitroprussiato de sódio (NPS) ou Nitroglicerina (NTG), devem ser iniciados em dose baixa e ajustados conforme resposta clínica. A resposta usual é de aumento discreto da pressão arterial e melhora da perfusão periférica, aumento da diurese e consequente melhora clínica.

Vasodilatadores intravenosos: Posologia e ajustes na insuficiência cardíaca aguda

Vasodilatador

Posologia

Ajuste

Nitroglicerina

Início: 10-20 μg/minuto

Máximo: 200 μg/minuto

A cada 15 minutos

Aumento: 10-20 μg/minuto

Nitroprussiato de sódio

Início: 0,3 μg/kg/minuto

Máximo: 5 μg/kg/minuto

A cada 15 minutos

Aumento: 0,3-0,5 μg/kg/minuto

Fonte: Diretriz Brasileira de Insuficiência Cardíaca Crônica e Aguda. Rio de Janeiro: Arquivos Brasileiros de Cardiologia, 2018.

Paciente com pressão arterial sistólica (PAS) < 85 mmHg

Em pacientes gravemente hipotensos e/ou com sinais de choque cardiogênico, deve-se iniciar uma droga inotrópica positiva.

Os inotrópicos têm como objetivos a melhora do débito cardíaco, a manutenção da pressão de perfusão e o fluxo adequado para os órgãos.

A dobutamina é o agente inotrópico mais usado. Pode ser associada à noradrenalina, em pacientes com choque cardiogênico. Apresenta como fatores limitantes seu potencial arritmogênico e a redução de sua ação com o uso prolongado e em pacientes em uso de BB.

Dobutamina

Dose inicial: 1 - 5 μg/kg/min

Dose máxima: 20 μg/kg/min

Observar resposta com base na: Perfusão periférica, diurese horária, função renal, débito cardíaco, queda de pressão pulmonar.

Atenção: Os agentes inotrópicos devem ser utilizados por curto espaço de tempo, visando a substituição por uma estratégia vasodilatadora tão logo quanto possível.

Diurético

IC aguda nova ou sem uso prévio de diurético

IC prévia estabelecida ou em uso crônico de diurético oral

Furosemida

Inicial: 40 mg EV
Máxima: 120 - 240 mg EV a cada 6 - 12h
Contínua: 0,1 - 0,5 mg/kg/h

EV em bolus em dose pelo menos equivalente à dose oral
Máxima: 120 - 240 mg EV a cada 6 - 12h
Contínua: 0,1 - 0,5 mg/kg/h

Hidroclorotiazida

Inicial: 25 mg VO
Máxima: 100 mg VO/dia

Espironolactona

Inicial: 25 mg VO
Máxima: 200 - 400 mg VO/dia

EV: Endovenoso; VO: Via oral.

Objetivo do tratamento: Prioritariamente, restabelecer a volemia; subsequentemente, restabelecer o débito cardíaco.

O fator principal do manejo é o diagnóstico ou não de hipovolemia. Frente a um quadro de hipovolemia, o paciente deverá receber volume. Esta reposição volêmica deve ser realizada com cautela, preferencialmente com medidas seriadas das pressões de enchimento através da avaliação invasiva.

Uma vez restabelecida a volemia, este paciente passará a ser manejado como um paciente do perfil C.

Alvos clínicos

  • Diurese: 1 litro nas primeiras 6 horas; 1,5 a 2,5 mL/kg/hora
  • Ausência de ortopneia e esforço respiratório em 24 horas
  • SatO2 > 90% em ar ambiente
  • Frequência cardíaca < 100 batimentos por minuto
  • Frequência respiratória < 22 ventilações por minuto
  • Pressão arterial Sistólica: 110 a 130 mmHg

Critérios de alta da emergência

  • Paciente com relato de melhora subjetiva
  • Frequência cardíaca de repouso < 100 batimentos por minuto
  • Sem hipotensão ao levantar-se
  • Débito urinário adequado
  • SpO2 > 95% em ar ambiente
  • Sem piora ou piora leve/moderada da função renal (se insuficiência renal crônica presente previamente)

Atenção: Pacientes com primeiro episódio de IC não devem, a princípio, ser liberados da Emergência para casa, devem internar para investigação diagnóstica.

Critérios de Internação

  • Enfermaria: Pacientes perfil B que mantém sinais de congestão após 24h de manejo na emergência
  • UTI: Pacientes perfil C ou D