Linhas de Cuidado

Planejamento Assistencial - Dor torácica crônica

As unidades de atenção especializada são pontos de atenção oportunísticos para identificar pacientes com dor torácica e com fatores de risco cardiovascular. Ações de promoção de saúde devem ser instituídas em todos os atendimentos.

Os pacientes devem ser referenciados para o controle de fatores de risco cardiovascular na Atenção Primária à Saúde (APS). 

Avaliação Clínica

Anamnese

A equipe de saúde deve estar preparada para identificar as causas de dor torácica potencialmente graves para um rápido início de tratamento e encaminhamento dos pacientes. 

O diagnóstico de angina em pacientes com relato de dor torácica é baseado fundamentalmente na história clínica. Em todos os pacientes em avaliação, deve ser estimada a probabilidade clínica de doença arterial coronariana, baseada nas características da dor, idade, sexo, exame clínico e fatores de risco relacionados. 

Na anamnese do paciente, além dos clássicos fatores de risco cardiovasculares (diabetes, hipertensão arterial, dislipidemia, história familiar, tabagismo, sedentarismo), deve-se avaliar:

  • Presença de outras comorbidades: Doença renal crônica, obesidade abdominal, doença arterial periférica, doença cerebrovascular, doença pulmonar crônica, síndrome da apneia obstrutiva do sono
  • Hábitos alimentares como o consumo excessivo de sódio e cafeína 
  • Sinais e sintomas associados: Febre, tosse, dispneia, ortopneia, hematêmese, etc
  • Sinais de ansiedade, depressão ou problemas sociais relevantes 
  • Medicações em uso 
  • Uso de substâncias ilícitas e álcool
  • Condições sócio-econômicas e de vulnerabilidade
  • Índice de fragilidade nos idosos

Avaliação Clínica

Exame Clínico

Usualmente não apresenta alteração nos pacientes com angina estável. Entretanto, mesmo que o exame clínico não evidencie sinais diretos de doença arterial coronariana (DAC) é importante que seja realizado de forma detalhada, pois pode identificar sinais de doença ateroesclerótica, aumentando a probabilidade de DAC e auxiliar no diagnóstico diferencial de outras condições associadas:

  • Achados que indicam presença de doença ateroesclerótica: Pulsos periféricos diminuídos, endurecimento arterial e aneurisma abdominal
  • Sopros cardíacos: Doenças valvares, cardiomiopatia hipertrófica
  • Presença de fatores de risco da DAC: Pressão arterial elevada, xantomas e exsudatos retinianos, xantelasmas
  • Doenças do pericárdio: Hipofonese das bulhas cardíacas, atrito pericárdico
  • Síndromes músculo-esqueléticas: Dor a palpação da parede torácica

Exames complementares

A utilização de testes diagnósticos bioquímicos e/ou de exames de imagem são preconizados como ferramentas para estratificação de risco e complementação diagnóstica, conforme avaliação clínica.

O ECG deve ser realizado em todos os pacientes com suspeita clínica de angina.

Para interpretação do eletrocardiograma e alterações esperadas, consulte Interpretação do eletrocardiograma.

Os seguintes exames laboratoriais estão indicados na avaliação de todos os pacientes em investigação de dor torácica com o objetivo de investigar fatores de risco e possíveis causas de isquemia secundária:

  • Hemograma completo
  • Perfil lipídico (colesterol total, colesterol HDL, colesterol LDL e triglicerídeos)
  • Creatinina para estimativa da função glomerular
  • Glicemia de jejum e hemoglobina glicada

O TSH (hormônio estimulador da tireoide) deve ser solicitado apenas em pacientes com suspeita clínica de disfunção de tireóide.

Possui como principal finalidade o diagnóstico diferencial da dor torácica, particularmente quando a probabilidade clínica é de dor não cardíaca. Pode ser útil para diagnosticar pacientes com sinais/sintomas sugestivos de pneumonia, pneumotórax, pneumomediastino, fraturas de costela e outras doenças torácicas.

Radiografia de tórax é um exame importante que pode ser utilizado para avaliação de pacientes com dor torácica e sinais/sintomas de insuficiência cardíaca congestiva. Para mais informações, consulte a Linha de Cuidado de Insuficiência Cardíaca.

No paciente estável, a informação do exame é útil, mas não necessária na rotina de todos os casos. Pode fornecer auxílio diagnóstico quando demonstrar anormalidades (hipocinesia ou acinesia) da motilidade segmentar em pacientes com quadro clínico sugestivo de doença arterial coronariana, além de agregar informações prognósticas como a função ventricular (sistólica e diastólica). Além disso, o ecocardiograma auxilia no diagnóstico diferencial com patologias valvares e cardiomiopatias que também podem causar dor torácica.

Recomendações da utilização do ecocardiograma transtorácico para o diagnóstico de DAC:

  • Necessidade de avaliação da função do ventrículo esquerdo e direito (sinais e sintomas de insuficiência cardíaca)
  • Suspeita de complicações, como pseudoaneurisma, aneurisma e insuficiência mitral isquêmica
  • Suspeita de doenças valvares e cardiomiopatia hipertrófica, entre outras, como diagnóstico diferencial

Diagnóstico Diferencial

Quando o paciente apresentar queixa de dor torácica, essa deve ser caracterizada de acordo com sua localização, forma de início, intensidade, irradiação, tipo, duração, recorrência, fatores precipitantes, fatores que melhoram e pioram a dor.

No caso da dor torácica sugestiva de origem cardíaca, é fundamental a determinação das referências temporais: Há quanto tempo começou, como se iniciou (se súbito ou gradativo), quanto tempo dura a crise, como melhora (se súbito ou gradativo), se é contínua ou intermitente. Sendo intermitente, quanto tempo dura o período entre as crises.

Diagnóstico diferencial de dor torácica de acordo com o sistema, características e conduta.

Sistema

Síndrome

Descrição
Clínica

Características e
achados adicionais

Conduta

Cardíaco

Angina estável

Pressão ou desconforto torácico retroesternal, queimação ou peso.

Pode irradiar para pescoço, mandíbula, epigástrio, ombros ou braço esquerdo

Precipitada pelo exercício ou estresse emocional; duração: 2 a 10 minutos

Conduzir avaliação conforme Angina estável 

Síndrome Coronariana Aguda

Pressão torácica retroesternal, queimação ou peso; irradiada ocasionalmente para pescoço, mandíbula, epigástrio, ombros ou braço esquerdo. Usualmente mais intensa do que a estável

Início súbito, geralmente durando > 20 minutos

Pode estar associado à dispneia, sudorese, náuseas/vômitos e síncope.

Pode haver alteração hemodinâmica

Encaminhar para serviço de Emergência

Iniciar manejo conforme indicado em  Manejo inicial para Dor Torácica Aguda

Pericardite aguda

Dor aguda, pleurítica agravada pelas modificações na posição; duração variável

Presença de atrito pericárdico

Encaminhar para serviço de Emergência

Iniciar manejo conforme indicado em  Manejo inicial para Dor Torácica Aguda

Vascular

Síndrome aórtica aguda

Dor muito intensa, lacerante, de início abrupto, na parte anterior do tórax, frequentemente se irradiando para o dorso

Dor marcadamente intensa, refratária; geralmente ocorre em um contexto de hipertensão ou de um distúrbio subjacente do tecido conjuntivo, como a síndrome de Marfan

Encaminhar para serviço de Emergência

Iniciar manejo conforme indicado em  Manejo inicial para Dor Torácica Aguda

Embolia pulmonar

Início súbito de dispneia e dor, geralmente pleurítica

Dispneia, taquipneia, taquicardia e sinais de insuficiência cardíaca direita

Encaminhar para serviço de Emergência

Iniciar manejo conforme indicado em  Manejo inicial para Dor Torácica Aguda

Hipertensão pulmonar

Pressão torácica subesternal exacerbada pelo esforço

Dor associada à dispnéia e sinais de hipertensão pulmonar

Encaminhar para serviço de Emergência

Iniciar manejo conforme indicado em  Manejo inicial para Dor Torácica Aguda

Pulmonar

Pleurite e/ou pneumonia

Dor pleurítica, geralmente breve, sobre a área envolvida

Dor pleurítica e lateral à linha média, bem localizada, associada à dispneia, febre e tosse com expectoração

O Raio X de tórax (se disponível)  é um exame complementar à avaliação clínica. Iniciar tratamento independente do Raio X, conforme protocolos vigentes.

Encaminhar para serviço de emergência se

Iniciar manejo conforme indicado em  Manejo inicial para Dor Torácica Aguda

Traqueobronquite

Desconforto em queimação em linha média

Localização na linha média, associada à tosse, sibilância ao exame físico

Iniciar manejo conforme protocolos vigentes 

Encaminhar para serviço de emergência se

Iniciar manejo conforme indicado em  Manejo inicial para Dor Torácica Aguda

Pneumotórax espontâneo

Início súbito de dor pleurítica unilateral, com dispneia

Início abrupto de dispneia e dor, presença de timpanismo à percussão; murmúrio vesicular abolido no hemitórax comprometido; pode haver descompensação hemodinâmica

Encaminhar para serviço de Emergência

Iniciar manejo conforme indicado em  Manejo inicial para Dor Torácica Aguda

Gastrointestinal 

Refluxo gastroesofágico

Desconforto em queimação retroesternal e epigástrico, 10-60min de duração

Agravada por refeições pesadas e por deitar-se após as refeições, piora com ingestão de alguns alimentos, aliviada por antiácidos

Normalmente associada a sintomas de refluxo gastroesofágico (azia, pirose, eructação, plenitude pós-prandial, náusea, distensão abdominal

Se não houver , iniciar com manejo específico e fazer acompanhamento ambulatorial 

Pacientes com sinais de alerta devem ser encaminhados para avaliação na atenção especializada. Solicitar endoscopia digestiva alta (se disponível)

Úlcera péptica

Queimação epigástrica ou subesternal prolongada

Aliviada por antiácidos ou por alimentos

Pode haver melena

Iniciar manejo conforme protocolos vigentes

Solicitar endoscopia digestiva alta (se disponível)

Encaminhar para avaliação ambulatorial especializada pacientes com melena, refratariedade dos sintomas ou

Doença da vesícula biliar

Dor em cólica prolongada epigástrica ou no quadrante superior direito

Não provocada ou após as refeições

Se não houver , iniciar tratamento sintomático 

Solicitar ultrassonografia de abdome superior (se disponível) e encaminhar ao ambulatório especializado 

Se aguda, encaminhar para serviço de emergência 

Iniciar manejo conforme indicado em  Manejo inicial para Dor Torácica Aguda

Pancreatite

Dor epigástrica e subesternal prolongada e intensa, em faixa no abdômen superior

Pode estar acompanhada de náuseas e vômitos

Fatores de risco incluem álcool, hipertrigliceridemia e medicamentos

Encaminhar para serviço de Emergência

Iniciar manejo conforme indicado em  Manejo inicial para Dor Torácica Aguda

Musculoesquelético

Costocondrite

Início súbito de dor intensa e fugaz, bem localizada, em pontada

Pode ser reproduzida pela pressão sobre a articulação afetada; ocasionalmente os pacientes apresentam edema e inflamação sobre a articulação costocondral

Iniciar tratamento específico e fazer acompanhamento ambulatorial

Doença do disco cervical

Início súbito de dor fugaz

Pode ser reproduzida pelo movimento do pescoço

Pode apresentar parestesia e grande fraqueza muscular

Iniciar tratamento específico 

Realizar exames de imagem - Raio X e encaminhar ao neurocirurgião e/ ou ortopedista

Infeccioso

Herpes zoster

Dor em queimação prolongada, com distribuição em dermátomo

Período prodrômico de dor, parestesia e queimação de aproximadamente três dias

Aparecimento de vesículas, agrupadas, sobre base eritematosa, de distribuição unilateral, seguindo um dermátomo

Iniciar tratamento, preferencialmente, nas primeiras 72 horas do aparecimento das vesículas

Fazer acompanhamento ambulatorial, em geral, resolução do quadro em 3 semanas

Condição pós COVID-19

Dor torácica atípica

Tem sido descrita de forma consistente em estudos, com frequência em torno de 13%

Identificar sintoma e fazer acompanhamento ambulatorial. Descartar causas de dor cardíaca pós COVID-19 (miocardite, pericardite)

Se sintoma agudo, Iniciar manejo conforme indicado em  Manejo inicial para Dor Torácica Aguda

Psicológico

Síndrome do pânico

Aperto torácico, frequentemente acompanhado por dispneia, com duração geralmente entre 20-40 min, não relacionado ao esforço ou ao movimento

O paciente frequentemente apresenta outras evidências de distúrbios emocionais

Realizar avaliação da saúde mental do paciente e, se for necessário, solicitar apoio da Atenção Psicossocial Especializada de referência

Fonte: Adaptado de Cadernos de Atenção Básica (nº28): Acolhimento à demanda espontânea: queixas mais comuns na Atenção Básica (volume II). Brasília: Ministério da Saúde, 2013.

O manejo terapêutico deve seguir os protocolos vigentes específicos de cada condição.

Para qualificação do encaminhamento, discutir com o canal de consultoria do Telessaúde Brasil Redes do Ministério da Saúde - 0800 644 6543.

Para mais informações sobre a avaliação das condições específicas, acesse Acolhimento à demanda espontânea – Queixas mais comuns na Atenção Básica, volume II.

Exames diagnósticos

Nos pacientes em que a doença arterial coronariana (DAC) não pode ser excluída clinicamente, testes diagnósticos não invasivos estão recomendados para estabelecer o diagnóstico e avaliar o risco de eventos cardiovasculares (prognóstico)

Existem uma variedade de métodos disponíveis, como eletrocardiograma (ECG) de esforço, ecocardiograma com estresse, cintilografia miocárdica com estresse, tomografia e Ressonância Cardíaca e Cineangiocoronariografia (CATE).

A escolha do método deve ser baseada em:

  1. Estimativa de probabilidade de DAC
  2. Dados do paciente: Capacidade de realizar exercício e tolerabilidade ao esforço, assim como ausência ao ECG de repouso de condições que possam dificultar ou impedir sua interpretação ao teste de esforço (Ex. bloqueio de ramo esquerdo, marca-passo definitivo, alterações significativas de repolarização ventricular ou síndrome de pré-excitação)
  3. Acurácia de cada método (sensibilidade, especificidade, valores preditivos) associada a sua disponibilidade, custo-efetividade e expertise da equipe que irá realizá-lo
  4. Preferências e ocupação do paciente: Algumas profissões exigem a necessidade de um diagnóstico preciso pelo risco a outras pessoas ou ausência de socorro médico caso haja um eventual infarto agudo do miocárdio
Escolha do teste diagnóstico

* Cineangiocoronariografia deve ser solicitada como primeira opção em pacientes com angina classificada como instável, naqueles com evidência clínica de insuficiência cardíaca, e nos que tenham apresentado episódio de arritmia ventricular grave ou morte súbita ainda não investigados.

Fonte: Adaptado de 2019 ESC Guidelines for the diagnosis and management of chronic coronary syndromes. Oxônia: European heart journal, 2020.

Sensibilidade e especificidade das avaliações funcionais

Modalidade

Sensibilidade

Especificidade

Teste ergométrico

45-61%

70-90%

Ecocardiograma de estresse com dobutamina

72-90%

79-95%

Cintilografia miocárdica com estresse farmacológico

88-91%

75-90%

Angiotomografia de coronárias

93-99%

64-90%

Método não invasivo utilizado com maior frequência por ser, na maioria dos casos, o exame mais acessível. Tem como objetivo a confirmação diagnóstica, determinação prognóstica e auxílio na definição de conduta terapêutica.

Contra-indicações: Angina em repouso (CCS IV), infarto agudo do miocárdio nas últimas 48 horas, estenose aórtica grave sintomática, miocardite/pericardite aguda, tromboembolismo pulmonar agudo, insuficiência cardíaca descompensada, bradi ou taquiarritmias causando sintomas ou instabilidade hemodinâmica, dissecção aguda de aorta.

Limitações: Necessidade do paciente conseguir deambular e alterações prévias no eletrocardiograma de repouso (como presença de bloqueio completo do ramo esquerdo, presença de infradesnível do segmento ST maior que 1 mm em repouso e uso de marcapassos). Nesses casos, o paciente poderá necessitar de métodos de imagem com estresse farmacológico, como cintilografia miocárdica, ecocardiografia de estresse ou ressonância cardíaca.

Para interpretação do exame, devem ser consideradas os seguintes aspectos:

  • Sintomas: Presença ou não de angina durante o exame. Se presente, é importante caracterizar se foi limitante para o esforço e em que momento do teste
  • Capacidade funcional: Mensurada pelo equivalente metabólico (MET - unidade de consumo de oxigênio em repouso ) e VO2 máximo (capacidade máxima do corpo de um indivíduo de transportar e metabolizar oxigênio durante um exercício) 
  • Eletrocardiográficas: Alterações do segmento ST, presença de bradi ou taquiarritmias
  • Hemodinâmicas: Resposta pressórica e da frequência cardíaca ao exercício e recuperação

Teste positivo para resposta isquêmica: Infradesnivelamento do segmento ST maior do que 1 mm, persistente por mais de 0,08 segundos, e a presença de dor anginosa. Este resultado deve ser relacionado com a probabilidade pré-teste individual.

Achados do teste de esforço que sugerem isquemia miocárdica grave:

  • Baixa capacidade funcional
  • Isquemia que ocorre em baixa intensidade: Menor que 5 METs 
  • Diminuição da pressão arterial sistólica com aumento de carga
  • Infradesnivelamento do segmento ST de 2 ou mais milímetros
  • Supradesnivelamento do segmento ST em derivação sem onda Q
  • Taquiarritmias ventriculares
  • Escore de risco elevado ao teste (escore de Duke -11)
  • Envolvimento de múltiplas derivações eletrocardiográficas (5 ou mais)
  • Alterações do segmento ST que persistem na recuperação por 5 ou mais minutos

O paciente que não atinge pelo menos 85% da frequencia cardíaca máxima estimada para o sexo e idade apresenta um teste denominado como “inconclusivo” para fins diagnósticos de DAC, por redução da sensibilidade do teste.

A incidência de exames falso-positivos aumenta significativamente nos pacientes com probabilidade pré-teste baixa, nos portadores de hipertrofia de ventrículo esquerdo, nos pacientes com alterações da repolarização no ECG de repouso e em mulheres.

Um teste normal em um indivíduo utilizando medicamentos anti-isquemia (betabloqueadores e vasodilatadores) não exclui a presença de DAC. No entanto, se o teste tiver como objetivo a avaliação prognóstica da DAC já diagnosticada, avaliação da efetividade da terapia implementada e/ou avaliação de critérios de gravidade para nortear revascularização miocárdica, o teste ergométrico deve obrigatoriamente ser realizado em uso dos medicamentos habituais do paciente.

Possibilita a avaliação em tempo real da motilidade ventricular esquerda, pelo esforço físico ou farmacológico (inotrópico ou vasodilatador), permitindo a documentação da extensão e da gravidade das alterações transitórias da motilidade ventricular esquerda.

Está indicado a realização com estresse farmacológico na avaliação de isquemia miocárdica em indivíduos com angina típica estável que não podem realizar teste ergométrico máximo ou quando o teste ergométrico não é diagnóstico, em pacientes com bloqueio do ramo esquerdo ou alterações que impeçam adequada análise. eletrocardiográfica de isquemia. O exame requer uma adequada “janela ecocardiográfica” (ou “janela acústica”) de forma a oferecer acurácia diagnóstica satisfatória.

Técnicas de sincronização eletrocardiográfica e de quantificação regional, associadas ao estudo tomográfico, permitem obter informações da perfusão miocárdica e da motilidade parietal e função global do ventrículo esquerdo, aumentando o poder diagnóstico do método. 

O estresse físico deve ser preferencialmente o método indicado. Caso o paciente tenha um eletrocardiograma de repouso não interpretável para esforço (BRE, ritmo de marcapasso definitivo, síndrome de pré-excitação, alterações significativas de repolarização com infradesnivelamento do segmento ST > 1 mm) ou incapacidade física, o estresse farmacológico está indicado

É importante destacar as contraindicações ao uso de dipiridamol: História de broncoespasmo grave, asma em atividade, estenose aórtica grave, cardiomiopatia hipertrófica na forma obstrutiva, mulheres grávidas ou lactantes, pacientes com bloqueio átrio-ventricular de 2º ou 3º grau e doença do nó sinusal, assim como na hipotensão arterial significativa (PAS < 90 mmHg).

Possui duas técnicas diferentes que fornecem informações distintas: O Escore de Cálcio (EC) e a angiotomografia coronariana.

Escore de cálcio: A quantificação da calcificação nas artérias coronárias se correlaciona com a carga total de aterosclerose. O escore de cálcio é utilizado como preditor de risco de DAC obstrutiva (estratificação de risco não-invasiva) e de eventos cardiovasculares futuros (valor prognóstico).

Angiotomografia coronariana: Permite a avaliação das artérias coronárias de maneira não invasiva. Esse método, pelo seu alto valor preditivo negativo, possui sua maior aplicabilidade em pacientes sintomáticos de risco baixo a intermediário com objetivo de excluir DAC. Pode também ser utilizado quando há testes de isquemia prévios conflitantes, normais ou inconclusivos em pacientes com suspeita clínica mantida. 

Teste com acurácia e reprodutibilidade para avaliação funcional e morfológica cardíaca, permitindo a análise das funções global e segmentar de ambos os ventrículos, assim como medir massas e volumes. A técnica do realce tardio permite identificar a presença e o padrão da fibrose, possibilitando a diferenciação etiológica das cardiomiopatias em isquêmicas e não isquêmicas. A ressonância cardíaca possui também a vantagem de não utilizar radiação ionizante e nem meio de contraste iodado.

Para a análise da contratilidade segmentar/reserva contrátil miocárdica, geralmente se utiliza a dobutamina. Na avaliação da perfusão miocárdica, a ressonância cardíaca é realizada em repouso e sob estresse farmacológico (dipiridamol) para detecção de isquemia miocárdica. As contraindicações ao uso de dipiridamol são as mesmas citadas para a cintilografia. 

A técnica do realce tardio tem sido utilizada para detecção de infarto miocárdico agudo e crônico, delimitação de áreas peri-infarto (grey zone) e detecção de fibrose miocárdica de origem isquêmica e não isquêmica (cardiomiopatias, miocardites, valvopatias etc.).

Indicações: Efetiva para o diagnóstico de DAC no grupo de pacientes inadequados para a avaliação pela ecocardiografia, devido à janela acústica subótima. Além de valor diagnóstico, possui também valor prognóstico ao fazer a avaliação da viabilidade miocárdica e detecção / quantificação da fibrose miocárdica. Uma outra importante indicação é a avaliação de anomalias coronarianas congênitas.

Limitações: Presença de dispositivos ferromagnéticos não compatíveis com ressonância cardíaca (clipes cerebrais, marcapassos e cardiodesfibriladores não compatíveis, implantes cocleares e fragmentos metálicos nos olhos), doença renal com clearance de creatinina < 30 mL/min/1,73m², gravidez, claustrofobia, obesidade extrema e instabilidade clínica impossibilitam a realização do método. 

É o método mais acurado para diagnóstico de lesões coronarianas obstrutivas. Na maioria dos casos, os testes não invasivos devem ser realizados prioritariamente e o CATE solicitado quando estes exames são positivos e apresentam critérios de gravidade, ou quando o paciente está evoluindo com angina “refratária” e limitada qualidade de vida diante do sintoma anginoso. 

Assim como a angiotomografia de coronária, o CATE é uma opção diagnóstica em pacientes de alto risco para doença arterial coronária e com resultados dos testes não invasivos conflitantes, particularmente naqueles pacientes com profissões de risco populacional, como pilotos de aviões e ônibus. O CATE é a primeira opção em pacientes com angina classificada como instável, naqueles com evidência clínica de insuficiência cardíaca de causa potencialmente isquêmica, e com episódio de arritmia ventricular grave ou morte súbita ainda não investigados. 

É importante destacar que o CATE não deve ser solicitado para pacientes com angina que se recusam a procedimentos invasivos, que não são candidatos a intervenção coronariana percutânea ou a cirurgia de revascularização do miocárdio (por comorbidades ou preferências pessoais), ou nos quais não se espera que a revascularização melhore o estado funcional, qualidade de vida e/ou sobrevida.

Definição de alto risco para eventos cardiovasculares de acordo com os diferentes testes diagnósticos

Teste ergométrico

Baixa capacidade funcional (menor que 5 METs), isquemia que ocorre em baixa intensidade, infradesnivelamento do segmento ST de 2 ou mais milímetros, e escore de risco elevado (escore de Duke < - 11)

Cintilografia miocárdica

Área de isquemia ≥ 10% do miocárdio do ventrículo esquerdo, dilatação do ventrículo esquerdo durante a fase de estresse ou aumento na captação pulmonar utilizando o tálio

Ecocardiografia de estresse

≥ 3 de 16 segmentos com hipocinesia ou acinesia induzidas pelo estresse, particularmente as alterações que ocorrem com com baixa frequência cardíaca (< 120 bpm) ou com baixa dose de dobutamina (< 10 µg/kg/minuto)

Ressonância cardíaca

≥ 2 de 16 segmentos com defeitos de perfusão induzidos pelo estresse ou ≥ 3 segmentos com disfunção induzida por dobutamina

CATE

Doença de 3 vasos com estenoses proximais, estenose de tronco de coronária esquerda ou doença proximal da coronária descendente anterior

MET: unidade metabólica correspondente ao consumo de oxigênio de repouso

Fonte: Adaptado de 2019 ESC Guidelines for the diagnosis and management of chronic coronary syndromes. Oxônia: European heart journal,  2020.

Contrarreferência para Atenção Primária à Saúde

Pacientes com diagnóstico de angina estável, com classe funcional CCS I e II (Avaliação da CCS), sem mudança de padrão, sem disfunção ventricular importante (FEVE < 40%) e sem eventos cardiovasculares (síndrome coronariana aguda ou necessidade de revascularização) nos últimos 2 anos podem ser contrarreferenciados para acompanhamento clínico e controle de fatores de risco na Atenção Primária à Saúde.

Estes pacientes devem retornar ao ambulatório de especialidade se piorarem a classe funcional ou apresentarem novo evento cardiovascular agudo.