Linhas de Cuidado

Avaliação e conduta

Acolhimento / Triagem

Realizar acolhimento com classificação de risco.

O acolhimento deve incluir as seguintes informações:

  • Situação/Queixa/Duração
  • Classificar a dor em intensidade pela escala de 1 a 10 (Escala visual analógica)
  • Breve histórico (relatado pelo próprio paciente, familiar ou testemunhas)
  • Uso de medicações
  • Verificação de sinais vitais
  • Verificação da glicemia e eletrocardiograma

Condições clínicas que indicam a necessidade de avaliação na emergência:

  • Suspeita de compressão de cone medular ou síndrome da cauda equina (perda de força e alteração da sensibilidade nos membros inferiores, anestesia em sela, alteração no controle de esfíncteres vesical ou anal)
  • Perda de força progressiva medida de maneira objetiva
  • Dor intensa refratária ao tratamento clínico otimizado
  • Diagnóstico de neoplasia acometendo a coluna vertebral
  • Suspeita de infecção (especialmente em pessoas imunossuprimidas e/ou usuárias de drogas ilícitas endovenosas)
  • Suspeita de fratura ou luxação associada a traumatismo recente

A classificação de risco se dará nos seguintes níveis:

Vermelho: Prioridade zero - emergência, necessidade de atendimento imediato.

Amarelo: Prioridade 1 – urgência, atendimento o mais rápido possível.

Verde: Prioridade 2 – prioridade não urgente.

Azul: Prioridade 3 – consultas de baixa complexidade – atendimento de acordo com o horário de chegada.

Avaliação Clínica

Anamnese

A avaliação inicial deve incluir:

  • História médica pregressa, incluindo patologias de base como síndrome da cauda equina, câncer, fraturas e infecções
  • História de dor lombar prévia, tratamentos e resposta
  • Características da dor: Localização, irradiação, característica, intensidade, fatores desencadeantes e de alívio e duração
  • Presença de alterações de sensibilidade
Avaliação Objetiva da Dor Presente

Fonte: Adaptado de Protocolo Assistencial de Dor em Adultos. Porto Alegre: Hospital de Clínicas de Porto Alegre, 2018.

Diagnóstico diferencial de dor lombar

Condição

Sinais e sintomas

Lombalgia mecânica

Distensão e entorse lombar

Dor difusa na musculatura lombar, pode haver irradiação para as nádegas e raramente para as coxas.

Pode ser acompanhada de escoliose antálgica. O episódio doloroso tem duração média de três a quatro dias

Processos degenerativos de disco e facetas

Dor lombar localizada. Pode haver irradiação para as nádegas e raramente para as coxas

Hérnia de disco

Dor lombar aguda e intensa, irradiada para as pernas abaixo do joelho

A dor nas pernas é, muitas vezes, pior do que a lombar

A dor se exacerba com os esforços

Fratura nos processos ósseos da coluna

Sensibilidade local da coluna

Geralmente história de trauma

Estreitamento do canal raquidiano - compressão de cone medular

A dor melhora quando a coluna é flexionada ou ao sentar. É agravada ao caminhar, principalmente em declive para baixo, mais do que para cima

Sintomas frequentemente bilaterais

Condições não mecânicas da coluna

Neoplasia

Sensibilidade local da coluna

Perda de peso

Artrite inflamatória

Rigidez matinal, melhora com o exercício

Infecção

Sensibilidade local da coluna

Sintomas constitucionais

Doença não espinhal/visceral

Órgãos pélvicos – prostatite, doença inflamatória pélvica, endometriose

Sintomas abdominais inferiores são comuns

Órgãos renais – nefrolitíase, pielonefrite

Queixas urinárias

Geralmente envolve sintomas abdominais

Síndrome aórtica aguda

Dor epigástrica, intensa, com irradiação para as costas

Massa abdominal pulsátil pode estar presente

Sistema gastrointestinal – pancreatite, colecistite, úlcera péptica

Dor epigástrica

Náuseas e vômitos

Herpes Zoster

Dor unilateral em dermátomo

Lesões vesiculares características

Fonte: Adaptado de Evaluation and treatment of acute low back pain. USA: Am Fam Physician, 2007.

Avaliar a presença de sinais de alerta (bandeiras vermelhas)
SINAIS OU SINTOMAS DE GRAVIDADE
SINAIS DE ALERTA (bandeiras vermelhas)
  • Sintomas que iniciaram em paciente com idade > 70 anos ou < 20 anos
  • Paciente com história prévia ou suspeita de câncer
  • Paciente com imunossupressão (HIV, uso crônico de corticóides ou outros imunossupressores)
  • Presença de sinais ou sintomas sistêmicos (perda de peso involuntária, febre, outros achados)
  • Dor com característica não mecânica (não relacionada à atividade/repouso) ou dor predominantemente noturna (suspeita de etiologia inflamatória)
  • Paciente com diagnóstico prévio de osteoporose

Avaliação Clínica

Exame clínico

O objetivo do exame clínico é identificar aqueles pacientes que necessitam de avaliação cirúrgica imediata e aqueles com condições clínicas graves, como neoplasia ou infecção.

Inspeção e palpação: Equimose periumbilical ou em flancos (Sinais de Cullen e Grey-Turner, respectivamente) – doença retroperitoneal.

Manobra de Valsalva: quando há compressão radicular provoca exacerbação da dor ou irradiação dela até o pé.

Manobra de Lasègue: Realizar elevação do membro inferior, fazendo um ângulo de 35º a 70º com o plano horizontal. Considerada positiva quando a dor se irradia, ou se exacerba a 60º, sugere compressão radicular. 

Exame neurológico: Chave para o diagnóstico correto.

  • O exame físico deve identificar lesões de coluna, a partir das alterações motoras e sensitivas dermatoméricas
  • Observar a marcha do paciente (falta de mobilidade; diminuição da velocidade de deslocamento; diminuição do comprimento da passada, instabilidade; descontrole na fase de contato do membro inferior com o solo)

Considerações especiais: Em caso de sintomas de S4-S5 (cauda equina), considerar realizar toque retal (para avaliação de tônus anal reduzido)

Avaliação Clínica

Estratificação de risco

Baixo risco: Sem sinais de bandeira vermelha + exame neurológico normal

Moderado risco: ≥ 1 sinais de bandeira vermelha + exame neurológico normal

Alto risco: ≥ 1 sinais de bandeira vermelha + exame neurológico alterado

Avaliação Clínica

Exames complementares

Atenção: Exames de imagem (Raio-X, tomografia computadorizada e ressonância magnética) não devem ser solicitados de forma rotineira para pacientes com dor não específica ou radicular, na ausência de bandeira vermelha na apresentação clínica.

Ultrassonografia à beira de leito: Esse é outro recurso que pode ser utilizado. A USG consegue avaliar causas vesicais, hidronefrose, dissecção aórtica, celulite ou abscesso.

Solicitação de exames de acordo com a estratificação de risco:

Baixo risco: Não solicitar exames laboratoriais ou de imagem; tratar sintomas; retorno rápido a atividades; acompanhamento na atenção primária.

Moderado risco: Solicitar exame de imagem, idealmente ressonância magnética, se disponível, em 24-48 horas.

Alto risco: Indicar ressonância magnética imediata, se disponível. Caso o risco não esteja claro, combinações de bandeiras vermelhas são mais sugestivas da presença de patologia.

Ressonância magnética: Exame padrão-ouro para pacientes com risco intermediário e alto.

Exames de laboratório:

Velocidade de sedimentação globular (VSG), proteína C-reativa (PCR) e hemograma completo devem ser solicitados para pacientes com dor lombar não explicada. Exame qualitativo de Urina e urocultura quando há suspeita de doenças do trato urinário.

Plano de cuidado

Abordagem medicamentosa considerando a intensidade da dor

Fármacos para Controle da Dor

Dor Leve
(1 - 3)

Dor Moderada
(4 - 7)

Dor Intensa
(8 – 10)

Analgésico simples – Opções e dose

  • Dipirona Sódica: 500 mg/mL, IV ou VO. Dose: 1 g
  • Paracetamol: 200 mg/mL 40-50 gotas ou 1 cp (500 mg)

Sim

Sim

Sim

AINEs – Opções e dose

  • Cetoprofeno*: 100-300 mg IV
  • Tenoxicam*: 20-40 mg IV, IM
  • Cetorolaco de Trometamina*: IM/IV (30 mg/mL). Dose: 30 mg ou 1 mL

Sim

Opioide fraco – Opções e dose

  • Tramadol*: IM/IV (50 mg/mL). Dose: 100 mg, lento

Sim

Opioide forte – Opções e dose

  • Sulfato de Morfina: 1 mg/mL e 10 mg/mL. Doses:
    • IM: 5-20 mg/70 kg de peso
    • IV: 2-10 mg/70 kg de peso
  • Fentanil : IV (50 mcg/mL). Dose: 2 a 4 mL

Sim

IV: intravenoso; VO: via oral; cp: comprimido; AINEs: anti-inflamatórios não esteroides; IM: intramuscular.
* Este medicamento não integra a Relação Nacional de Medicamentos Essenciais RENAME 2020. Sua utilização é condicionada às pactuações locais e disponibilidade.
Fonte: Adaptado de Protocolos de Suporte Avançado de Vida para o SAMU 192 - Serviço de Atendimento Móvel de Urgência. Brasília: Ministério da Saúde, 2ª edição, 2016.

Plano de cuidado

Cuidado de acordo com estratificação de risco

Baixo risco: (Sem bandeiras vermelhas + exame neurológico normal)

  • Tratar sintomas intensos na unidade de emergência
  • Alta quando alívio dos sintomas, indicando tratamento conservador por 4 a 6 semanas
  • Orientar quanto ao retorno às atividades de vida diária
  • Reavaliação na Atenção Primária de referência

Moderado / Alto risco: (≥ 1 bandeira vermelha + exame neurológico normal)

  • Tratar sintomas e seguir avaliação diagnóstica complementar
  • A necessidade de internação hospitalar, o tempo de permanência e nível de cuidado depende do diagnóstico diferencial
  • Pacientes com suspeita de compressão de cone medular ou sinais de síndrome da cauda equina necessitam avaliação cirúrgica de emergência

Plano de Alta

O relatório de alta deve conter um resumo detalhado do quadro clínico e da estratégia terapêutica adotada durante o atendimento

  • Diagnóstico e informação médica relevante
  • Disponibilizar os resultados dos exames realizados
  • Receita médica completa
  • Necessidade de seguimento com equipe multidisciplinar, se necessário (fisioterapeuta, educador físico e etc)
  • Pacientes de baixo risco devem ser reavaliados na Atenção Primária de referência entre 2 a 4 semanas
  • O tempo para a avaliação na Atenção Primária deve ser guiado pela sintomatologia do paciente e pela suspeita clínica da doença de base
  • Pacientes com maior gravidade devem ser encaminhados para atendimento compartilhado com a Atenção Especializada de acordo com a patologia

Orientar quanto:

  • Ao retorno às atividades laborais e à capacidade de conduzir veículos, trabalhando a reinserção do paciente à sua rotina
  • Cuidados específicos de estilo de vida saudável e medidas de promoção de saúde e autocuidado
  • Manejo da dor