Linhas de Cuidado

Hiperglicemia aguda sintomática

O objetivo do tratamento é a correção do distúrbio hidroeletrolítico e ácido-base, bem como da hiperglicemia, dependendo do diagnóstico estabelecido.

Glicemia aleatória ≥ 250 mg/dL com sinais ou sintomas:

  • Cetonúria positiva
  • Poliúria 
  • Polidipsia 
  • Perda ponderal
  • Taquipneia
  • Náuseas/vômitos
  • Dor abdominal
  • Desidratação
  • Alteração do nível de consciência

Ao exame clínico podem estar presentes:

  • Respiração de Kussmaul, em situações graves
  • Pele seca e fria, língua seca
  • Hipotonia dos globos oculares
  • Extremidades frias
  • Agitação
  • Face hiperemiada
  • Hipotonia muscular
  • Taquicardia e hipotensão arterial até o choque hipovolêmico

Para definição e diagnóstico solicitar:

  • Gasometria (arterial ou venosa)
  • Hemograma
  • Sódio
  • Potássio
  • Cloro
  • Glicose
  • Creatinina
  • Ureia

Critérios diagnósticos das crises hiperglicêmicas

SSH CAD
Leve Moderada Grave
Glicemia (mg/dL) > 600 > 250 > 250 > 250
pH > 7,30 7,25 a 7,30 7,00 a < 7,24 < 7,00
Bicarbonato sérico (mEq/L) > 18 15 a 18 10 a < 15 < 10
Corpos cetônicos urinários ou séricos Raros Positivo Positivo Positivo
Hidroxibutirato urinário ou sérico (mmol/L) < 3,0 > 3,0 > 3,0 > 3,0
Osmolalidade sérica efetiva* (m0sm/kg) > 320 Variável Variável Variável
Ânion-gap** Variável > 10 > 12 > 12
Nível de consciência Estupor ou coma Alerta/sonolento Alerta/sonolento Estupor ou coma Estupor ou coma

* Osmolalidade sérica efetiva: 2 [(Na+ sérico dosado (mEq/L)] + glicose (mg/dL)/18.

** Ânion-gap = (Na+) - (Cl¯ + HCO3¯ ) (mEq/L)

NA: sódio; Cl: cloro; HCO3¯ : bicarbonato

SHH: Síndrome hiperglicêmica hiperosmolar não-cetótica; CAD: Cetoacidose Diabética

Fonte: Adaptado de Diretrizes Brasileiras de Diabetes 2019-2020

Avaliar fatores precipitantes de descompensação:

  • Diabetes mellitus desconhecido
  • Desidratação
  • Infecções (respiratória, urinária, celulite, etc)
  • Uso incorreto de insulina ou hipoglicemiantes
  • Uso de insulina armazenada incorretamente
  • Medicamentos: corticoides, interferon, glifozinas (inibidores do SGLT2), fenitoína
  • Gravidez
  • Abuso de substâncias: álcool, cocaína
  • Infarto agudo do miocárdio
  • Acidente vascular cerebral
  • Tromboembolismo pulmonar
  • Pancreatite aguda
  • Traumatismo
  • Queimadura
  • Cirurgia

Atenção: Solicitar exames adicionais - Exame qualitativo de urina (EQU)/urina tipo 1, com avaliação de sedimentos (EAS), urocultura, radiografia de tórax e outros exames conforme suspeita clínica de fator de descompensação.

Manejo Inicial

  • Avaliar nível de consciência - Escala de coma de Glasgow
  • Manter a permeabilidade das vias aéreas e a ventilação adequada: Considerar intubação orotraqueal (IOT) em pacientes com rebaixamento de consciência (Glasgow ≤ 8), com claro sinal clínico de insuficiência respiratória), ou se for evidente o risco de aspiração
  • Administrar oxigênio suplementar por cateter nasal ou máscara, se saturação de oxigênio for < 94% (atentar para pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica)
  • Verificar a glicemia capilar, pressão arterial, frequência cardíaca, saturação de oxigênio
  • Manter em monitorização contínua: pressão arterial, frequência cardíaca, saturação de oxigênio
  • Realizar o exame de fita de urina para avaliação de cetonúria
  • Instalar acesso venoso para hidratação parenteral e administração de insulina endovenosa (EV)
  • Instalar sonda nasogástrica em caso de vômitos ou necessidade de intubação orotraqueal (IOT)
  • Manter paciente em jejum
  • Controle de diurese

Cetoacidose diabética (CAD)

Estabelecido o diagnóstico este paciente deve ser mantido em monitorização e ser encaminhado para manejo em Unidade de Tratamento Intensivo em Unidade Hospitalar, conforme regulação local.

Glicemia ≥ 250 mg/dL acompanhada de: pH sérico ≤ 7,3; Bicarbonato sérico ≤ 18 mEq/l; Ânion-gap > 10 (Ânion-gap = Na+ - (HCO3¯ + Cl¯ ) Normal: 7-9); Cetonúria/cetonemia positiva.

Por grande período atribuíu-se CAD a uma complicação específica do DM1. Entretanto, pode ocorrer em indivíduos com DM2, geralmente com maior duração da doença e em uso de insulina. É uma complicação grave relacionada a evolução do diabetes.

As principais complicações relacionadas à mortalidade da cetoacidose diabética (CAD) são edema cerebral, hipopotassemia, hipofosfatemia, hipoglicemia, complicações intracerebrais, trombose venosa periférica, mucormicose, rabdomiólise e pancreatite aguda.

  • Manter em jejum
  • Avaliar gasometria venosa e eletrólitos (Sódio, Potássio e Cloro) a cada 2 - 4h
  • Se pH ≤ 6,9, considerar administração de bicarbonato 100 mEq diluído em 400 mL de água destilada a cada 2/2h até pH ≥ 7,0
  • Hidratação EV: 1 - 1,5 litros de NaCl 0,9% na primeira hora. Após, reposição conforme sódio sérico
  • Insulina Regular EV: bolus 0,1 UI/kg, seguido de início de infusão contínua 0,1 UI/kg/h (diluir 25 UI de Insulina Regular em 250 mL de NaCl 0,9%)
    • * durante infusão contínua realizar glicemia capilar de 1/1h
  • Reposição de Potássio (K): manter K sérico entre 4,0 - 5,0 mEq/L

Atenção: se K sérico < 3,3 mEq/L manter paciente sem insulina EV até que seja atingido valor de K ≥ 3,3 mEq/L.

Fluxo cetoacidose diabética - tratamento inicial

BI: bomba de infusão; CAD: cetoacidose diabética; G: glicemia; IV: intravenosa; KCL: cloreto de potássio; SC subcutâneo; SG: soro glicosado.

Fonte: Adaptado de Diretrizes Brasileiras de Diabetes 2019-2020

Síndrome hiperglicêmica hiperosmolar não-cetótica (SHH)

Estabelecido o diagnóstico este paciente deve ser mantido em monitorização e ser encaminhado para manejo em Unidade de Tratamento Intensivo, conforme regulação local.

Glicemia ≥ 250 mg/dL (usualmente glicemia > 600 mg/dL) acompanhada de: pH sérico > 7,3, Ânion-gap normal, Osmolalidade sérica efetiva > 320 mOsm/kg, Cetonúria/cetonemia negativa ou discreta.

  • Manter o paciente em jejum
  • Avaliar gasometria venosa e eletrólitos (Sódio, Potássio e Cloro) a cada 2 - 4h
  • Se pH ≤ 6,9, considerar administração de bicarbonato 100 mEq diluído em 400 mL de água destilada a cada 2/2h até pH ≥ 7,0
  • Hidratação EV: 1 - 1,5 litros de NaCl 0,9% na primeira hora. Após, reposição conforme sódio sérico
  • Insulina Regular EV: bolus 0,1 UI/kg, seguido de início de infusão contínua 0,1 UI/kg/h (diluir 25 UI de Insulina Regular em 250 mL de NaCl 0,9%)
    • * durante infusão contínua realizar glicemia capilar de 1/1h
  • Reposição de Potássio (K): manter K sérico entre 4,0 - 5,0 mEq/L

Atenção: se K sérico < 3,3 mEq/L manter paciente sem insulina EV até que seja atingido valor de K ≥ 3,3 mEq/L.

BI: bomba de infusão; G:glicemia; IV:intravenosa; KCL: cloreto de potássio; SC subcutâneo; SG:soro glicosado; SHH: síndrome hiperglicêmica.

Fonte: Adaptado de Diretrizes Brasileiras de Diabetes 2019-2020


Acesso Rápido