Linhas de Cuidado

Cuidados Paliativos na Unidade de Atenção Primária

O canal de consultoria do Telessaúde Brasil Redes do Ministério da Saúde - 0800 644 6543 pode ser utilizado para discussão de casos.

A assistência deve ser promovida por equipe multidisciplinar, considerando o ambiente familiar, aspectos físicos, sociais, psicológicos e espirituais.

Cabe à atenção primária a acompanhar os pacientes em situações de cuidados paliativos, prevalecendo o cuidado longitudinal com retaguarda dos demais pontos da rede de atenção (Unidade de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia - UNACON, Centro de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia - CACON, Centro de Referência em Tratamento da Dor Crônica, entre outros). 

As equipes de atenção primária têm papel importante na oferta de cuidados paliativos e, em geral, estão mais próximas das pessoas que os serviços especializados. Assim, não necessariamente há a indicação da intervenção de equipes especializadas nesses cuidados, uma vez que isso dependerá da complexidade do cuidado.

Os cuidados paliativos devem considerar:

  • Prevenção e alívio de sofrimento
  • Identificação, avaliação e tratamento da dor e demais sintomas
  • Promover a transferência do cuidado do ambiente hospitalar para o domicílio
  • Preparar os cuidadores para os cuidados em ambiente domiciliar
  • Contribuir para redução da realização de exames complementares quando os resultados não modificam a conduta
  • Considerar a família/cuidadores como objeto do cuidado, durante todo processo, incluindo o luto

A maior parte das ações em cuidados paliativos pode ser realizada pela equipe na unidade de atenção primária ou no domicílio, de acordo com as necessidades do paciente.

Programa melhor em casa

Em situações em que o paciente precise ser visitado semanalmente ou mais,  poderá ser acompanhado por equipes específicas de Atenção Domiciliar, como as que fazem parte do Programa Melhor em Casa. O atendimento é realizado por equipes multidisciplinares.

Avaliar a indicação de atenção domiciliar - Serviço de Atenção Domiciliar (SAD).

Para a prática dos cuidados paliativos e promoção do cuidado integral, exerça uma comunicação empática, entendendo as necessidades do paciente  em seu contexto familiar.

Realizar plano de diretivas antecipadas sobre cuidados e tratamentos que devem ou não ser realizados: deixar registrado no prontuário da paciente.

Para mais informações sobre os principais sintomas e medidas terapêuticas, acesse Cuidados Paliativos Oncológicos - Controle de Sintomas.

O conceito de dor é complexo, envolve fatores físicos, psíquicos, sociais e espirituais.

A equipe deve considerar projetos terapêuticos individualizados, com abordagem farmacológica e não farmacológica (ex.: fisioterapia e práticas complementares alternativas).

A dor oncológica é caracterizada como dor mista: neuropática e nociceptiva (envolvendo estruturas musculoesqueléticas e/ou viscerais).

Escala visual analógica - EVA

Solicite a paciente que fale/aponte a intensidade da dor em uma escala de 0 a 10, correspondendo o zero a ausência de dor e o 10 a pior dor imaginável.

Escala de dor: 8 a 10 dor intenta; 4 a 7 dor moderada; 1 a 3 leve

Fonte: Adaptado de Organização mundial da saúde; Cuidados paliativos oncológicos - Controle da dor, 2001.

Escada analgésica - tratamento da dor

Degraus e fármacos

3

Analgésicos e anti-inflamatórios + fármacos adjuvantes* + opioides fortes

2

Analgésicos e anti-inflamatórios + fármacos adjuvantes* + opioides fracos

1

Analgésicos e anti-inflamatórios + fármacos adjuvantes*

*Fármacos destinados ao tratamento de comorbidades (antidepressivos ou relaxantes musculares).

Fonte: Adaptada de Organização mundial da saúde, 2009; Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas - Dor crônica, 2012.

Observação: Se houver lesão concomitante de estruturas do sistema nervoso e escores elevados na escala de Dor LANSS (dor mista ou neuropática), considerar medicamentos para dor neuropática (antidepressivos tricíclicos e antiepilépticos, associar opioides quando dor a eles refratária).

Antidepressivos: A depressão é uma comorbidade frequente em pacientes com dor crônica.

Relaxantes musculares: Desaconselhados em casos de dor crônica. Utilizar em situações de dor crônica agudizada, por pequeno período, se necessário.

Para mais informações acesse o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas - Dor Crônica e a Pergunta da Semana início de morfina para tratamento de dor oncológica na APS.

A passagem para um degrau acima ocorrerá caso os analgésicos prescritos não atenuem os sintomas de forma esperada, após uma semana de uso e com a associação utilizada em doses máximas preconizadas.

A avaliação da dor, pelas escalas e LANSS, deve ser aplicada após uma semana do início do tratamento e antes da troca do medicamento.

Meta inicial:

  • Noites de sono livres de dor (alcançada em 24 - 48h): Quebrar o ciclo dor - insônia - exaustão - maior dor
  • Aliviar a dor no repouso
  • Aliviar a dor durante sustentação de seu peso e movimentos (sempre que possível)
Classe Medicamento Esquema de administração Via de administração Observações

Analgésico

Dipirona 500 mg a cada 6 horas até 1.000 mg a cada 8 horas Oral

Atentar à possível exacerbação de hipotensão

Sem necessidade de associação de protetor GI

Paracetamol 500-1.000 mg a cada 6 horas (dose máxima de 4.000 mg/dia) Oral

Precaução na disfunção hepática e renal

Sem necessidade de associação de protetor GI

Anti-inflamatórios não esteroides (AINES)

Ácido acetilsalicílico 500 a 1.250 mg a cada 4-6-8 horas (dose máxima de 5.000 mg/dia) Oral

Toxicidade em uso com citostáticos (interferon e metotrexato)

Verificar história de sangramentos

Associar protetor GI

Ibuprofeno 200-400 mg a cada 4-6 horas (dose máxima de 2.400 mg/dia Oral

Precaução na disfunção hepática e renal

Toxicidade em uso com ciclosporina, tacrolimo, metotrexato

Associar protetor GI

Antidepressivos

Amitriptilina 25-100 mg/dia (dose máxima 150 mg/dia) Oral

Contraindicado em uso de inibidores reversíveis seletivos da MAO nas 2 últimas semanas

Administrar à noite

Precaução na presença de retenção urinária

Atentar ao risco de indução de mania ou hipomania em pacientes com THB

Pode causar piora de sintomas paranoides em pacientes paranóides

Não usar se glaucoma ou hipertireoidismo

Diminui efeito da Metadona

Clomipramina Adultos: 25-250 mg/dia (dose máxima diária de 250 mg).
Idosos: 10-75 mg/dia (dose máxima diária de 75 mg)
Oral

Contraindicado em uso de inibidores reversíveis seletivos da MAO nas 2 últimas semanas

Requer-se cuidado em pacientes com constipação crônica

Não deve ser partido ou mastigado

Nortriptilina Adultos: 10-25 mg (dose máxima diária de 150 mg)
Idosos: 10-50 mg/dia
Oral

Contraindicado em uso de inibidores reversíveis seletivos da MAO nas 2 últimas semanas

Não deve ser partido, aberto ou mastigado

Antiepilépticos

Ácido valpróico 250-750 mg/dia (dose máxima de 60 mg/kg/dia) Oral

Realizar anualmente hemograma e dosagem dos níveis das enzimas hepáticas (AST/TGO e ALT/TGP). Suspender o uso, se alteração significativa

Contraindicado se doença hepática

Não deve ser partido, aberto ou mastigado

Carbamazepina 400-1.200 mg/dia (dose máxima diária de 2.000 mg) Oral

Realizar anualmente hemograma e dosagem dos níveis das enzimas hepáticas (AST/TGO e ALT/TGP). Suspender o uso, se alteração significativa

Evitar uso se doença hepática e renal

Ingerir com alimento e não com antiácidos

Não deve ser mastigado

Fenitoína 100-600 mg/dia (dose máxima diária de 600 mg) Oral

Erupções cutâneas

Risco de toxicidade em uso com metotrexato

Monitorar concentrações plasmáticas do tacrolimo quando em uso associado

Gabapentina 300-1.800 mg/dia Oral

Cautela ao prescrever concomitantemente com opióides devido ao risco de depressão do SNC

Não deve ser partido, aberto ou mastigado

Opióide fraco

Codeína Adultos: 30-60 mg de 4/4 horas (dose máxima de 360 mg/dia).
Idosos: dose inicial de 15 mg de 4/4 horas (dose máxima de 360 mg/dia)

Oral

Intramuscular

Subcutâneo

Náusea e Cefaléia

Supressão da tosse

Efeito diminuído com barbitúricos, carbamazepina e rifampicina

Diminui efeito da Zidovudina

Não deve ser partido ou mastigado

Opióide forte

Metadona 2,5 mg - 10 mg de 6/6 ou 12/12 horas (dose máxima diária de 40 mg).

Atenção: devido às propriedades farmacocinéticas e à alta variabilidade entre pacientes na absorção, no metabolismo e na potência analgésica, recomenda-se parcimônia no ajuste de doses e abordagem individualizada na prescrição
Oral

Meia vida longa e imprevisível

Evitar uso concomitante com benzodiazepínicos ou outros depressores do SNC

Morfina

Morfina de ação curta - comprimidos, solução oral e gotas: Adultos: dose inicial de 10 mg de 4/4 horas
Idosos robustos: dose inicial de 5 mg de 4/4 horas
Idosos frágeis ou pacientes com caquexia: dose inicial de 2,5 mg 4/4 horas

Morfina de ação curta – ampolas: a conversão de dose oral para parenteral deve considerar a proporção 1:3 (venosa-oral)

Morfina de ação lenta - prolongada – cápsulas: Deve-se estabelecer a dose analgésica com morfina de ação rápida e, após, introduzir a morfina de liberação prolongada. Dose inicial de 30 - 100 mg a cada 8-12 horas

Oral

Endovenoso

Não há “dose limite” diária para o uso (a dose máxima é limitada pela ocorrência de efeitos adversos de difícil controle)

Se vômitos, alternar antieméticos e neurolépticos

Depressão respiratória em altas doses

Antagonizada por: Naloxona/Narcan EV

SNC – Sedação, tonturas, alucinações e hipotensão postural

Avaliar constipação, se necessário associar laxativos

Comprimido 30 mg: Após partido, válido por 76 horas

Não triturar o comprimido, nem usar sonda

GI: gastrointestinal; MAO: monoamina oxidase; THB: transtorno do humor bipolar; AST/TGO: aspartato aminotransferase/ transaminase glutâmica oxalacética; ALT/TGP: alanina aminotransferase/transaminase glutâmica pirúvica; SNC: sistema nervoso central; EV: endovenosa.

Fluxograma sobre dor oncologica

¹ O número de gotas por mL deve ser conferido na bula do medicamento dispensado, pois pode haver variações entre fabricantes.

² Delirium, sonolência profunda, depressão respiratória.

³ Nunca triturar nem usar em sonda.

Fonte: TelessaúdeRS, 2019.

Uma abordagem clara ao paciente e familiares sobre o alívio dos sintomas refratários no final da vida, utilizando o recurso de sedação, é de extrema importância. Nenhum paciente deve passar pelo processo sem o adequado alívio de seus sintomas.

Sedação terminal: Opção terapêutica quando outras estratégias falharam em aliviar adequadamente o sofrimento. 

Processo contínuo de cuidados

Fluxograma sobre o processo de cuidados continuo

No diagnóstico de câncer avançado, o tratamento é prioritário. À medida que a doença avança, os cuidados paliativos ganham preferência gradualmente. A atenção ao luto com a família deve ser parte do processo de cuidados, mesmo após a morte.