Linhas de Cuidado

Planejamento terapêutico

Pacientes com câncer de mama têm direito de receber o 1º tratamento no SUS em até 60 dias do diagnóstico pelo laudo patológico, ou em prazo menor, conforme necessidade terapêutica individual.

O tratamento do câncer de mama deve ser preferencialmente realizado em Unidades de Assistência de Alta Complexidade (UNACON) e Centros de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (CACON), para oferta da assistência integral e especializada à paciente, através do diagnóstico, extensão da neoplasia (estadiamento), tratamento e cuidados necessários, de acordo com as rotinas e condutas estabelecidas nas UNACON e CACON.

Ambulatório especializado

O diagnóstico precoce tem como objetivo reduzir a morbidade e a mortalidade por câncer da mama. O foco está na identificação da doença em estágios iniciais por meio da imediata avaliação diagnóstica:

Uma boa anamnese, exame clínico e o complemento com exames de imagem são fundamentais para avaliar a necessidade de avaliação histológica (biópsia) de uma lesão.

Avaliação clínica

Solicite o relatório de encaminhamento com as informações clínicas e o motivo do encaminhamento, as receitas dos medicamentos que a paciente está utilizando e os exames complementares realizados recentemente.

Avaliar e caracterizar a queixa específica da paciente.

O nódulo de mama é o sintoma mais comum do câncer de mama. Geralmente é indolor, duro e irregular, mas há tumores que são de consistência branda, globosos e com bordos bem definidos.

Outros sinais:

  • Saída de secreção pelo mamilo (transparente, rosada ou avermelhada) – especialmente quando é unilateral e espontânea
  • Coloração avermelhada da pele da mama
  • Edema cutâneo semelhante à casca de laranja, retração cutânea
  • Dor ou inversão no mamilo, descamação ou ulceração do mamilo
  • Linfonodos palpáveis axilares, supra e infraclaviculares

Avalie e registre em prontuário:

  • Nódulo: Data da percepção, localização, crescimento, relação com ciclo menstrual ou história de traumatismo
  • Dor mamária: Data do início, localização, intensidade da dor, uso de medicações, relação com ciclo menstrual, traumatismo ou relação com esforço físico
  • Derrame papilar: Data do início, cor, espontâneo ou provocado, unilateral ou bilateral e relação com o uso de fármacos
  • Anormalidades de pele/mamilo e sinais inflamatórios: Data do início, localização, saída de secreção purulenta, flogose, presença de retração ou abaulamento, queixa de prurido

O atendimento deve ser realizado de forma integral e individualizada, com detalhamento da história clínica:

  • História de cirurgias e/ou biópsias mamárias
  • História familiar de outros cânceres
  • Hábitos alimentares e atividades físicas
  • Idade da menarca
  • Número de gestações e de nascidos vivos
  • Idade da primeira gestação
  • Realização de aleitamento materno

Mulheres na pré-menopausa:

  • Data da última menstruação
  • Duração e regularidade dos ciclos
  • Uso de anticonceptivos hormonais

Mulheres na pós-menopausa:

  • Data da menopausa
  • Uso de terapia de reposição hormonal, tempo de uso e esquema de terapia

Atenção: Nódulos palpáveis têm indicação de avaliação com exame de imagem (com ultrassonografia se idade < 30 anos, na persistência por mais de 1 ciclo menstrual; e com mamografia se idade ≥ 30 anos).

Os fatores de risco devem ser avaliados na primeira consulta clínica.

A idade é o fator de risco mais importante para desenvolver câncer de mama (quanto maior a idade, maior o risco), associada à fatores genéticos, endócrinos e comportamentais. 

Fatores de Risco:

  • Idade (idade > 50 anos)
  • História familiar (câncer de mama ou ovário em parentes de primeiro grau; casos de câncer de mama antes dos 50 anos; caso de câncer de mama e ovário em um mesmo familiar; câncer de mama bilateral; caso de câncer de mama em homem)
  • Etnia (pacientes com descendência judaica Ashkenazi tem maior frequência de mutações no gene BRCA2)
  • Menarca precoce (antes dos 12 anos) 
  • Menopausa tardia (após os 55 anos)
  • Idade da primeira gestação a termo acima dos 30 anos
  • Nuliparidade 
  • Exposição à radiação torácica 
  • Terapia de reposição hormonal na pós menopausa por tempo prolongado (> 5 anos) 
  • Sobrepeso, obesidade e inatividade física 
  • Ingestão de álcool 
  • Tabagismo
  • Mulheres e homens com mutação ou parentes de 1° grau com mutação comprovada dos genes BRCA 1/2, ou com síndromes genéticas como Li-Fraumeni, Cowden e outras
  • Mulheres com história de:
    • Familiar de primeiro grau (mãe, irmã ou filha) com diagnóstico de câncer de mama em idade < 50 anos
    • Familiar de primeiro grau com diagnóstico de câncer de mama bilateral
    • Familiar de primeiro grau com diagnóstico de câncer de ovário, em qualquer idade
    • Homens, em qualquer grau de parentesco, com diagnóstico de câncer de mama
  • Mulheres com história de câncer de mama invasor ou hiperplasia ductal ou lobular atípica, atipia epitelial plana ou carcinoma ductal in situ
  • Mulheres com história de radioterapia torácica prévia antes dos 30 anos

Pacientes com história pessoal ou familiar de risco elevado para câncer de mama e ovário devem ter a indicação de aconselhamento genético considerada e avaliada individualmente,  conforme disponibilidade local. 

É um processo de comunicação, que lida com problemas associados à ocorrência de uma condição genética em uma família, envolvendo equipe multidisciplinar composta por geneticista, psicólogo, oncologista, mastologista, ginecologista, enfermeiro, biólogo, biomédico e assistente social.  

Critérios para avaliação de risco genético para câncer de mama e/ou ovário

História pessoal de câncer de mama com qualquer uma das seguintes características:

  • Câncer de mama diagnosticado com idade ≤ 35 anos
  • Câncer de mama triplo-negativo (receptores de estrógeno, progesterona e proteína HER-2) diagnosticado antes dos 60 anos
  • Dois cânceres de mama primários¹
  • Câncer de mama diagnosticado em homem
  • Câncer de mama em qualquer idade, mais história familiar²:
    • ≥ 1 familiar com câncer de mama diagnosticado ≤ 50 anos, ou
    • ≥ 1 familiar com câncer de ovário, ou
    • ≥ 2 familiares com câncer de pâncreas ou câncer de próstata (Gleason ≥ 7), ou
    • ≥ 2 familiares com câncer de mama em qualquer idade
História pessoal de câncer de ovário epitelial em qualquer idade
História pessoal de câncer de pâncreas exócrino em qualquer idade
História pessoal de câncer de próstata metastático em qualquer idade
Ascendência judaica Ashkenazi e câncer de mama ou câncer de próstata de alto grau (Gleason ≥ 7)
Pessoal de qualquer idade com mutação deletéria em um gene de suscetibilidade ao câncer dentro da família ou encontrado em testes de tumores (Ex: BRCA 1/2)

¹ Doença bilateral ou pelo menos dois tumores primários ipsilaterais separados.

² Familiar de 1°, 2° e 3° graus do mesmo lado da família. Os lados materno e paterno devem ser considerados independentemente.

Fonte: Adaptado de Protocolos de encaminhamento para Genética Médica, TelessaúdeRS-UFRGS: 2020.

identificação de Indivíduos com variante deletéria dos genes estudados permite:  

  • Opções de vigilância e rastreamento com a idade de início ideal  
  • Medidas cirúrgicas redutoras de risco 
  • Entendimento dos potenciais riscos familiares e individuais 
  • Orientações sobre o tratamento ideal (nos casos já detectados com câncer) 
  • Identificação de outros membros da família em risco  
  • Oferecer tratamentos específicos, orientações sobre a vida reprodutiva 

A realização do exame clínico das mamas é feita por profissionais treinados, geralmente médicos e enfermeiros. É imprescindível na avaliação de lesões suspeitas de neoplasia mamária, bem como na diferenciação entre nódulos palpáveis e não palpáveis.

Realize e descreva o exame em 3 etapas: Inspeção estática e dinâmica, palpação e avaliação da descarga papilar, consulte Exame clínico das mamas.

Exame de imagem

Indicação diagnóstica: Realizada nas mulheres com sinais e/ou sintomas suspeitos de câncer de mama, controle radiológico de lesão provavelmente benigna (Categoria 3 BI-RADS®), mulheres assintomáticas com alto risco para câncer de mama a partir dos 30 anos de idade e na avaliação de mama masculina. 

Os resultados do exame mamográfico são classificados de acordo com o Breast Imaging Reporting and Data System (BI‐RADS®) e divididos em categorias de 0 a 6. 

Pacientes com suspeita ou diagnóstico de neoplasia mamária (BI-RADS® categoria ≥ 4) devem ter seu planejamento terapêutico realizado em serviços de Mastologia/Oncologia, respeitando-se as referências regionais de cada município. 

Consulte Risco de câncer econduta a partir da categoria de avaliação BI-RADS®

Atenção: Não deve ser utilizado como método no rastreamento do câncer de mama.

Deve ser utilizada como exame adicional à mamografia quando:

  • BI-RADS® = 0 (inconclusivo)
  • Contraindicação à mamografia (pacientes que não possam ser expostas à radiação)
  • Mulheres com alta densidade mamária
  • Substituta da ressonância magnética (quando as mulheres não puderem realizá-la por qualquer motivo)

Como método diagnóstico, na presença de sinais e sintomas do câncer de mama, está indicada para:

  • Diagnóstico diferencial entre lesão sólida e lesão cística, nos nódulos detectados no exame físico e/ou na mamografia
  • Avaliação de lesão palpável sem expressão na mamografia
  • Avaliação de lesão palpável nas pacientes jovens, abaixo de 30 anos
  • Na doença inflamatória e no abscesso
  • Na orientação de procedimentos de drenagem de coleções inflamatórias ou císticas e no seu controle evolutivo
  • Nas alterações da mama no ciclo gravídico puerperal
  • Na avaliação de linfonodos alterados no exame físico

Os achados são classificados de acordo com a categoria de avaliação BI-RADS®e condutas preconizadas, na mesma linha da mamografia.

Achados ultrassonográficos:

  • Cistos (classificado na sessão de casos especiais no BI-RADS®: categorias 2, 3 ou 4)
  • Achados com características provavelmente benignas (BI-RADS® categoria 3)
  • Achados com características suspeitas (BI-RADS® categoria 4)
  • Achados com características altamente suspeitas (BI-RADS® categoria 5)

Indicada como exame de rastreamento: Adicional a mamografia anual, em mulheres de alto risco para câncer de mama (pacientes com mutações conhecidas de BRCA1 ou BRCA2, TP53, ou para risco superior a 20% de câncer de mama ao longo da vida).

Indicação como exame diagnóstico: 

  • Situações não conclusivas: Quando exame clínico, mamografia e/ou ultrassonografia são inconclusivos
  • Carcinoma oculto: Situação em que a primeira manifestação do câncer de mama é o comprometimento neoplásico do linfonodo axilar
  • Suspeita de recidiva: Nas mulheres já tratadas por câncer de mama, quando o exame clínico, mamografia e/ou ultrassonografia mostram lesão que pode representar recidiva
  • Complicações de implantes mamários: Suspeita de deslocamento, ruptura ou coleção 

A ressonância magnética não é um exame isento de falsos positivos, devendo ser solicitada por profissional especialista com critérios bem definidos.

Os resultados são classificados de acordo com a categoria de avaliação BI-RADS® e condutas preconizadas, na mesma linha da mamografia.

Confirmação diagnóstica

O diagnóstico definitivo de câncer é feito através do exame histopatológico.

O método de escolha é a biópsia percutânea, com punção biópsia realizada de duas formas:

  • Por agulha grossa (core biópsia) ou pela mamotomia (biópsia assistida a vácuo): Procedimentos minimamente invasivos, de boa acurácia e que permitem a avaliação histopatológica e imuno-histoquímica do tumor
  • Por punção aspirativa por agulha fina (PAAF): Tem sua principal indicação para avaliação do linfonodo axilar, ou como procedimento inicial na avaliação de lesões sugestivas de benignidade e na diferenciação de lesões ovóides

As punções biópsias podem ser realizadas tanto em lesões palpáveis, quanto impalpáveis, guiadas por exame de imagem (ultrassonografia, mamografia ou ressonância). 

A biópsia cirúrgica é indicada quando a biópsia percutânea é inviável (questões técnicas), ou quando a core biópsia/mamotomia for inconclusiva ou não concordante com o grau de suspeição dos exames clínicos e de imagem (por exemplo, BI-RADS® 5 com laudo da punção biópsia de tecido mamário normal).

  • Biópsia cirúrgica após marcação pré-operatória com fios metálicos: Método mais utilizado para localização e exérese cirúrgica de lesões impalpáveis da mama. A lesão é localizada pela Mamografia, Ultrassonografia ou Ressonância Nuclear Magnética 
  • Existem outras técnicas de marcação pré-operatória que podem ser utilizadas na biópsia cirúrgica de lesões impalpáveis da mama: Com injeção de radioisótopo (Radioguided Occult Lesion Localization - ROLL), em combinação ou não com biópsia de linfonodo sentinela (Sentinel Node and Occult Lesion Localization - SNOLL), com sementes de titânio irradiadas iodo e até partículas de carvão
Risco relativo para câncer com base na avaliação histológica

Risco não aumentado (alterações não proliferativas)

  • Adenose
  • Metaplasia apócrina
  • Ectasia ductal
  • Macrocistos e microcistos
  • Hiperplasia simples
  • Fibroadenoma
  • Metaplasia escamosa

Risco levemente aumentado (1,5 a 2x – alterações proliferativas sem atipias)

  • Hiperplasia moderada ou florida
  • Adenose esclerosante
  • Papiloma (provavelmente)
  • Cicatriz radial (lesão esclerosante complexa)

Risco moderadamente aumentado (5x – alterações proliferativas com atipias)

  • Hiperplasia ductal atípica
  • Hiperplasia lobular atípica

Risco alto (10x – carcinoma in situ)

  • Carcinoma lobular in situ
  • Carcinoma ductal in situ

Fonte: Adaptado de Rotinas em Ginecologia, Artmed: 2017.

A concordância entre os resultados da biópsia e a clínica/imagemsegurança ao diagnóstico e auxilia no planejamento terapêutico. Quando há discordância é necessário reforçar a investigação diagnóstica.

Tumores Diagnóstico Conduta
Cistos Mamários Cistos simples: Não precisam ser aspirados, se assintomáticos Expectante
Cisto sintomático, complicado ou com múltiplas septações: Realizar PAAF - enviar para exame citopatológico se paciente de alto risco

Realizar biópsia excisional se:

- conteúdo do aspirado sanguinolento

- persistir massa palpável ou densidade mamográfica após remoção de todo o líquido

Fibroadenoma PAAF ou core biópsia Indicação cirúrgica baseada nas, dimensões do nódulo e aumento progressivo durante conduta expectante
Tumor Filoides Biópsia com agulha grossa (core biopsy ou mamotomia)

Tratamento cirúrgico: Ressecção local da lesão com retirada de 1 a 2 cm de tecido mamário peritumoral

A linfadenectomia axilar não está indicada (tumor de disseminação hematogênica)

Hamartoma (fibroadenolipomas) Se aspectos característicos na mamografia e/ou ultrassonografia não está indicada biópsia Remoção cirúrgica se sintomático
Papiloma

Potencial de malignidade baixo

Em pacientes com mais de 50 anos, afastar o diagnóstico de carcinoma papilífero ou ductal

Exérese seletiva do ducto (microductectomia) ou de todo sistema ductal terminal

O estudo imunohistoquímico pode ser necessário para diferenciar lesões papilares do carcinoma papilar

PAAF: Punção aspirativa por agulha fina.

O diagnóstico é realizado por abordagens histológicas, moleculares e genéticas.

Lesões Potencial de malignidade Conduta
Hiperplasia Ductal Atípica (HDA)

Histologicamente se assemelha ao carcinoma ductal in situ de baixo grau (CDIS), sendo a extensão intraductal critério importante na diferenciação

Excisão cirúrgica se histologia com HDA ou CDIS

A categorização definitiva é realizada nas amostras da excisão cirúrgica

Carcinoma Ductal in situ (CDIS)

Fatores no controle local e indicadores de prognóstico:

- Extensão da lesão

- Margens cirúrgicas livres

- Grau histológico: Alto e baixo

Lesões palpáveis e as microcalcificações extensas ou lineares indicam maior risco de doença invasiva

Indicada cirurgia conservadora com radioterapia associada, ou mastectomia com biópsia de linfonodo sentinela para lesões intraductais extensas

A terapia sistêmica com tamoxifeno está indicada para tumores com receptores hormonais positivos

Adenose Microglandular (AMG)

Apresenta aberrações genéticas que podem constituir risco para o desenvolvimento de carcinoma invasivo

Excisão completa da lesão, com margens cirúrgicas livres

Adenose Microglandular Atípica (AMGA)

Lesão clonal, com aberrações genéticas que podem constituir risco para o desenvolvimento do carcinoma invasivo

Recomenda-se excisão completa da lesão, com margens cirúrgicas livres

Lesões de Células Colunares (LC)

Quando associadas a atipias são classificadas como atipia epitelial plana, com chance de progressão para carcinoma invasivo ao redor de 2 a 7%

Ressecção cirúrgica nos casos de atipia epitelial plana

Neoplasia Lobulares:

Hiperplasia Lobular Atípica (HLA)

Carcinoma lobular in situ (CLIS)

Lesões de risco para o carcinoma lobular invasivo, uni ou bilateral

Podem ser manejados com vigilância após resultado confirmatório da core biópsia e imunohistoquímica

A identificação das formas não clássicas de CLIS requer excisão cirúrgica com margens livres

CLIS: Realizar quimioprevenção por 5 anos de tamoxifeno nas mulheres na pré-menopausa e inibidores da aromatase ou tamoxifeno para mulheres na pós-menopausa

Mastectomia bilateral redutora de risco: Considerada em situações de exceção, onde o uso da quimioprevenção não é recomendável pelos efeitos adversos ou nos casos de pacientes com alto risco familiar/hereditário

Lesões Potencial de malignidade Conduta

Hiperplasia Atípica:

- Ductal (HAD)

- Lobulares (HLA)

Consideradas de alto risco para câncer de mama, entretanto, não são obrigatoriamente lesões precursoras de câncer

Quimioprevenção com tamoxifeno em mulheres acima dos 35 anos

Nas pós-menopáusicas os inibidores da aromatase são opção ao tamoxifeno

Mastectomia bilateral redutora de risco: considerada em situações de exceção, onde o uso da quimioprevenção não é recomendável pelos efeitos adversos ou nos casos de pacientes com alto risco familiar/hereditário

Consiste no uso de moduladores seletivos dos receptores de estrogênio (SERMs) e inibidores de aromatase para prevenção primária de câncer de mama em pacientes de alto risco.

Tamoxifeno 20mg/dia: Pacientes saudáveis, com mais de 35 anos, com expectativa de vida maior que 10 anos e definidas como de alto risco para câncer de mama (> 20 % de chance ao longo da vida). Doses menores de tamoxifeno, de até 5 mg/dia, também são efetivas.

Embora o cloridrato de raloxifeno 60 mg/dia possa ser indicado na pós-menopausa quando o risco ou comorbidades impedem o uso do tamoxifeno, os inibidores da aromatase tem sido a classe de medicamentos mais frequentemente prescrita nesta faixa etária.

Podem ser realizadas em mulheres com alto risco para o desenvolvimento de câncer de mama. É necessária avaliação de equipe multidisciplinar (composta por psicólogo, geneticista, mastologista e equipe de cirurgia reconstrutora) esclarecendo riscos, complicações e a chance de resultado estético insatisfatório.

Tipos: Mastectomia profilática e/ou a salpingo-ooforectomia bilateral.

Indicações: História familiar ou pessoal de câncer de mama, presença de mutação genética patogênica, múltiplas biópsias mamárias com lesões proliferativas com atipias e carcinoma lobular in situ.

Carcinoma mamário

Divididos em carcinomas in situ (tipos ductal e lobular) e carcinomas invasores.

Atribui escores de 1 a 3 a cada uma das seguintes características: Arranjo tubular, pleomorfismo nuclear e contagem mitótica.

O comprometimento de vasos deve ser avaliado fora dos limites do tumor invasivo (peritumoral) e em espaços com células endoteliais visíveis, sendo um potente fator prognóstico.

Recomenda-se notificar se o comprometimento vascular é focal ou multifocal.

A presença de receptores de membrana para estrogênio (RE) e progesterona (RP) discrimina os dois grupos de carcinomas mamários: Os receptores hormonais (RH) positivos e os receptores hormonais negativos. Os RH-positivos são potencialmente suscetíveis à terapia hormonal e de melhor prognóstico do que as neoplasias RH-negativas.

Algumas características histológicas podem indicar menor chance de resposta ao tratamento hormonal e maior risco de recorrência, como baixa porcentagem de células neoplásicas RE-positiva, baixa expressão de receptor de progesterona e alta atividade proliferativa (ki67 ≥ 14%). Neste cenário, a inclusão de testes genéticos prognósticos e preditivos contribuem para tratamentos mais personalizados.

A superexpressão de HER2 implica em pior prognóstico, sendo um fator preditivo de resposta tratamento com os anticorpos monoclonais trastuzumabe e pertuzumabe. Tem-se evitado a terapia concomitante de trastuzumabe e quimioterápicos antracíclicos pelo risco de insuficiência cardíaca congestiva.

A determinação dos receptores de estrogênio e progesterona, HER2 e Ki-67 estima o perfil molecular, importante para o planejamento terapêutico.

Perfil molecular por imunohistoquímica do carcinoma de mama

Receptores hormonais

HER2

Ki-67

LUMINAL A

RE e RP positivos

Negativo

< 14%

LUMINAL B

RE io positivo, RP positivo ou negativo

Negativo

≥ 14%

HER

RH Positivos ou / negativos

Positivo (super-expresso)

Qualquer %

TRIPLO NEGATIVO (basal-like)

RE e RP Negativos

Negativo

Qualquer %

RE: receptor de estrogênio; RP: receptor de progesterona.

Fonte: Adaptado das Diretrizes Diagnósticas e Terapêuticas do Carcinoma de Mama, Brasil: 2018; Mastologia: do diagnóstico ao tratamento, Sociedade Brasileira de Mastologia: 2017.

Para o planejamento terapêutico da paciente é fundamental realizar o estadiamento da doença, classificando a neoplasia pela disseminação local (restrita à mama), regional (mama e envolvimento dos linfonodos) ou à distância (metástases).

O estágio clínico é classicamente realizado pelo sistema TNM:

  • Tamanho do tumor (T)
  • Status dos linfonodos (N)
  • Existência de metástases (M): Sítios mais comumente afetados são os ossos, pulmões e fígado

Todos os parâmetros são importantes para o tratamento, entretanto, a presença de metástases modifica o tratamento, ao transformá-lo de neoadjuvante ou adjuvante para sistêmico paliativo.

O estadiamento inclui o exame clínico completo, para avaliar a extensão locorregional e os exames de sangue e de imagem para definir se há disseminação sistêmica (metástases).

Os linfonodos intramamários são codificados como axilares e os supraclaviculares como regionais. Metástases para outros linfonodos, incluindo os cervicais, axilares e mamários internos contralaterais, são classificadas como distantes (M1).

Os Linfonodos axilares são classificados como:

  • Nível I (axilar inferior): Situados lateralmente à borda lateral do músculo pequeno peitoral
  • Nível II (axilar médio): Situados entre as bordas medial e lateral do músculo pequeno peitoral e linfonodos interpeitorais (Rotter)
  • Nível III (axilar apical): Linfonodos apicais e aqueles situados medialmente à margem medial do músculo pequeno peitoral, excluindo aqueles designados como subclaviculares ou infraclaviculares
Estádio Anatômico/Grupos Prognósticos

Estádio

T

N

M

0

Tis

N0

M0

IA

T1

N0

M0

IB

T0

N1mi

M0

T1

N1mi

M0

IIA

T0

N1

M0

T1

N1

M0

T2

N0

M0

IIB

T2

N1

M0

T3

N0

M0

IIIA

T0

N2

M0

T1

N2

M0

T2

N2

M0

T3

N1

M0

T3

N2

M0

IIIB

T4

N0

M0

T4

N1

M0

T4

N2

M0

IIIC

Qualquer T

N3

M0

IV

Qualquer T

Qualquer N

M1

Fonte: Adaptado de Mastologia: do diagnóstico ao tratamento. Sociedade Brasileira de Mastologia: 2017.

Tumor Primário (T)

TX

Tumor primário não pode ser avaliado

T0

Sem evidência de tumor primário

Tis

Carcinoma in situ

Tis (DCIS)

DCIS

Tis (CLIS)

CLIS

Tis (Paget)

Doença de Paget do mamilo NÃO está associada a carcinoma invasivo e/ou carcinoma in situ (DCIS e/ou LSIS). Os carcinomas no parênquima mamária, associados à doença de Paget, são classificados de acordo com o tamanho e as características da doença parenquimatosa

T1

Tumor < 20 mm na maior dimensão

T1mi

Tumor < 1 mm na maior dimensão

T1a

Tumor > 1 mm, mas < 5 mm na maior dimensão

T1b

Tumor > 5 mm, mas < 10 mm na maior dimensão

T1c

Tumor > 10 mm, mas < 20 mm na maior dimensão

T2

Tumor > 20 mm, mas < 50 mm na maior dimensão

T3

Tumor > 50 mm na maior dimensão

T4

Tumor de qualquer tamanho com extensão direta para a parede torácica e/ou pele (ulceração ou nódulos cutâneo)

T4a

Extensão à parede torácica, não incluindo apenas aderência/invasão do músculo peitoral

T4b

Ulceração e/ou nódulos satélites ipsilaterais e/ou edema (incluindo pele em casca de laranja) da pele, desde que não preencha os critérios de carcinoma inflamatório

T4c

Ambos T4a e T4b

T4d

Carcinoma inflamatório

Fonte: Adaptado de Mastologia: do diagnóstico ao tratamento, Sociedade Brasileira de Mastologia: 2017.

Linfonodos Regionais (N)

Clínicos

NX

Linfonodos regionais não podem ser avaliados (e.g., removidos previamente)

N0

Sem metástases para linfonodos regionais

N1

Metástases para linfonodos axilares ipsilaterais móveis níveis I e II

N2

Metástases para linfonodos axilares ipsilaterais níveis I e II, clinicamente fixos ou fusionados; ou

Metástases em linfonodos mamários internos ipsilaterais clinicamente detectados, na ausência de metástases para linfonodos axilares clinicamente evidentes

N2a

Metástases para linfonodos axilares ipsilaterais níveis I e II, fixados um ao outro (fusionados) ou a outras estruturas

N2b

Metástases para linfonodos mamários internos ipsilaterais apenas detectados clinicamente e na ausência de metástases para linfonodos axilares níveis I e II clinicamente evidentes

N3

Metástases para linfonodos infraclaviculares ipsilaterais (axilar nível III), com ou sem comprometimento de linfonodos axilares níveis I e II OU Metástases para linfonodos mamários internos ipsilaterais clinicamente detectados, com metástases para linfonodos axilares clinicamente evidentes níveis I e II OU Metástases para linfonodos supraclaviculares ipsilaterais, com ou sem comprometimento de linfonodos axilares mamários internos

N3a

Metástases para linfonodos infraclaviculares ipsilaterais

N3b

Metástases para linfonodos mamários internos e axilares ipsilaterais

N3c

Metástases para linfonodos supraclaviculares ipsilaterais

Fonte: Adaptado de Mastologia: do diagnóstico ao tratamento, Sociedade Brasileira de Mastologia: 2017.

Linfonodo patológico (pN)

pNX

Linfonodos regionais não podem ser avaliados (e.g., previamente removidos ou não removidos para exame patológico)

pN0

Sem metástases para linfonodos regionais identificadas na histologia

Observação: ITCs são definidas como pequenos agrupamentos celulares ≤ 0,2 mm, ou células tumorais únicas, ou um agrupamento de ≤ 200 células em um único corte histológico transversal. Podem ser detectadas por métodos histológicos ou por IHC. Os nódulos que contêm ITCs são excluídos da contagem total para a classificação N, mas devem ser incluídos no número total de nódulos avaliados

pN0(i-)

Sem metástases para linfonodos regionais na histologia, IHC negativo

pN0(i+)

Células malignas em linfonodos regionais ≤ 0,2 mm (detectados por H&E ou IHC)

pN0(mol-)

Sem metástases para linfonodos regionais na histologia, achados moleculares negativos (RT-PCR)

pN0(mol+)

Achados moleculares positivos (RT-PCR), mas sem metástases para linfonodos regionais detectadas por histologia ou IHC

pN1

Micrometástases; ou

Metástases em 1-3 linfonodos axilares e/ou Metástases para linfonodos mamário internos, com metástases detectadas por biópsia de linfonodos sentinela, mas não detectadas clinicamente

pN1mi

Micrometástases (> 0,2 mm e/ou > 200 células, mas nenhuma > 2,0 mm)

pN1a

Metástases em 1-3 linfonodos axilares, pelo menos uma metástases > 2,0 mm

pN1b

Metástases nos nódulos mamários internos, com micrometástases ou macrometástases detectadas por biópsias de linfonodos sentinela, mas não detectadas clinicamente

pN1c

Metástases em 1-3 linfonodos axilares e linfonodos mamários internos, com micrometástases ou macrometástases detectadas por biópsias do linfonodo sentinela, mas não detectadas clinicamente

pN2

Metástases em 4-9 linfonodos axilares; ou

Metástases em linfonodos mamários internos clinicamente detectados, na ausência de metástases para linfonodos axilares

pN2a

Metástases em 4-9 linfonodos axilares (pelo menos 1 depósito tumoral > 2 mm)

pN2b

Metástases em linfonodos mamários internos clinicamente detectadas, na ausência de metástases em linfonodos axilares

pN3

Metástases em ≥ 10 linfonodos axilares; ou

Metástases em linfonodos infraclaviculares (axilares nível III); ou

Metástases em linfonodos mamários internos ipsilaterais clinicamente detectadas, na presença de um ou mais linfonodos axilares positivos níveis I e II; ou

Metástases em > 3 linfonodos axilares e mamários internos, com micrometástases ou macrometástases detectadas por biópsia do LS, mas não detectadas clinicamente; ou

Metástases em linfonodos supraclaviculares ipsilaterais

Observações:
1-A classificação é baseada na biópsia do linfonodo sentinela (LS) ou dissecção axilar. Quando apenas o LS for realizado, sem dissecção axilar, mesmo após tratamento neoadjuvante, deve ser usado o sufixo (sn), como por exemplo pN0(sn)
2-A classificação X será utilizada (ypNX) se nenhum LS ou dissecção axilar for realizado após tratamento neoadjuvante.

Fonte: Adaptado de Mastologia: do diagnóstico ao tratamento, Sociedade Brasileira de Mastologia: 2017.

Metástases à Distância (M)

M0

Sem evidências clínicas ou radiológicas de metástases à distância

cM0(i+)

Sem evidências clínicas ou radiológicas de metástases à distância, mas depósitos de células tumorais detectados por métodos moleculares ou microscopia na circulação do sangue, medula óssea ou outro tecido linfático não regional, que são ≤ 0,2 mm em uma paciente sem sinais ou sintomas de metástase

M1

Metástases à distância detectadas por sinais clínicos e radiológicos clássicos e/ou por histologia > 0,2 mm

Fonte: Adaptado de Mastologia: do diagnóstico ao tratamento, Sociedade Brasileira de Mastologia: 2017.

Uma nova classificação, embora mais complexa, mas mais precisa na avaliação do prognóstico das pacientes, adiciona ao sistema de estadiamento anatômico TNM outras informações da biologia tumoral.

Estágio clínico prognóstico para todas as pacientes, independente da terapia recebida
Estágio clínico prognóstico para todas as pacientes, independente da terapia recebida

Fonte: Adaptado de Introduction of a New Staging System of Breast Cancer for Radiologist: An Emphasis on the Prognostic Stage, Korean journal of radiology: 2019.

Estágio patológico prognóstico para pacientes que realizaram cirurgia como tratamento inicial
Estágio patológico prognóstico para pacientes que realizaram cirurgia como tratamento inicial

Fonte: Adaptado de Introduction of a New Staging System of Breast Cancer for Radiologist: An Emphasis on the Prognostic Stage, Korean journal of radiology: 2019.

A classificação TNM realizada após o tratamento cirúrgico deve ser precedida pela letra “p”, pois refere-se ao anatomopatológico. Caso a paciente tenha sido submetida à tratamento neoadjuvante (hormonioterapia ou quimioterapia pré-operatórias), o estadiamento anatomopatológico deve incluir as letras yp. Se a paciente foi classificada antes da terapia neoadjuvante como M1 (metastática), permanece como M1, independente da resposta à terapia.

A avaliação patológica inclui todas as informações utilizadas para o estadiamento clínico, além dos dados da remoção cirúrgica: Exame patológico do carcinoma primário, dos linfonodos regionais e sítios metastáticos (se aplicáveis).

A presença de tumor residual após o tratamento neoadjuvante pode ser descrita pelo símbolo R:

  • RX: A presença de tumor residual não pode ser avaliada
  • R0: Ausência de tumor residual
  • R1: Tumor residual microscópico
  • R2: Tumor residual macroscópico

Exames complementares

Os exames complementares de rotina para o estadiamento são: Hemograma completo, dosagens séricas de glicose, uréia, creatinina, fosfatase alcalina, transaminases, eletrocardiograma e radiografia simples de tórax. Estes exames servem primariamente como parâmetro de comparação para seguimento futuro.

Na avaliação da possibilidade de disseminação metastática, em tumores diagnosticados já localmente avançados, incluir outros exames de imagem de acordo com os estágios clínicos:

Nos estágios clínicos iniciais I e II, os sinais e sintomas da paciente determinam a inclusão de mais exames diagnósticos:

  • Cintilografia óssea em caso de dor óssea e/ou aumento de fosfatase alcalina; se suspeita clínica permanecer apesar do exame negativo, solicitar ressonância nuclear magnética da área acometida pelo sintoma
  • Tomografia computadorizada ou ressonância magnética de abdome e pelve em caso de aumento de fosfatase alcalina, aumento de transaminases, sintomas abdominais e/ou alteração de exame clínico de abdome ou pelve
  • Tomografia computadorizada de tórax se sintomas respiratórios

Nos estágios clínicos III e IV: Solicitar tomografia de tórax, abdome e pelve e cintilografia óssea. O PET/CT que combina a tomografia e a emissão de pósitrons, quando disponível, pode substituir a solicitação das tomografias tradicionais e da cintilografia óssea.

Tratamento

A abordagem terapêutica é realizada de acordo com o estadiamento da doença, incluindo os achados clínicos, de imagem, análise histológica, genética e de imunohistoquímica.

Cirurgias

Consiste na retirada de um segmento da mama, que inclui o tumor e margens circundantes de tecido mamário normal. Sempre que se tratar de carcinoma infiltrante ou invasor, a avaliação axilar, através da biópsia excisional do(s) linfonodo(s) sentinela(s) ou linfadenectomia axilar, é realizada. A cirurgia conservadora ou parcial da mama é sempre seguida de radioterapia local (mama) ou locorregional (mama e cadeias linfáticas), de acordo com o estadiamento da paciente.

Retração da pele, papila ou do parênquima não são sinais de doença avançada e não contra indicam a cirurgia conservadora, desde que seja possível a ressecção do tumor com margens livres e de que se obtenha um resultado estético satisfatório.

Após toda cirurgia parcial ou conservadora por neoplasia maligna da mama há a possibilidade de novo procedimento cirúrgico para ampliação das margens de ressecção peritumorais, ou mesmo de mastectomia, em função da extensão tumoral (carcinomas intraductais extensos, tumores multifocais) diagnosticada pelo relatório anatomopatológico.

Indicação da Cirurgia Conservadora:
  • Estágios clínicos I e II
  • Estágio clínico III, após boa resposta à terapia neoadjuvante, com redução significativa das dimensões tumorais
  • Em tumores em qualquer quadrante ou mesmo junto do complexo aréolo-papilar. O fundamental é a obtenção de margens livres e resultado estético satisfatório, mais frequentemente alcançados pela associação de técnicas oncoplásticas
Contraindicações:
  • Doença multicêntrica com dois ou mais focos que dificultem a obtenção de margens livres ou resultado estético satisfatório
  • Microcalcificações difusas por toda mama que traduzem a existência de extenso carcinoma intraductal
  • Margens comprometidas após várias tentativas de excisão/ampliação
  • Carcinoma inflamatório

As pacientes portadoras de lúpus e colagenoses têm contraindicações relativas à radioterapia da pele, devendo ser avaliadas por equipe multidisciplinar, para decisão entre cirurgia conservadora ou mastectomia com reconstrução mamária.

Esquema de tratamento radioterápico:

A radioterapia é aplicada sempre após a cirurgia conservadora da mama, e também nas submetidas à mastectomia por tumores localmente avançados. O tratamento radioterápico convencional de toda mama, em 25 sessões diárias, durante 5 semanas. O boost, reforço do tratamento no leito tumoral, após cirurgia conservadora, corresponde à adição de mais 5 sessões diárias. Mais recentemente a terapia hipofracionada tem sido incorporada, durante 3 semanas, com doses diárias de radiação um pouco maiores. Com a redução do tempo de tratamento há menos necessidade de deslocamento das pacientes, mais vagas e menores custos para o sistema de saúde.

A radioterapia parcial da mama consiste na aplicação da radioterapia somente no quadrante do tumor, sendo utilizada em situações especiais, de baixo risco de recidiva local. Pode ser realizada através do sistema de braquiterapia. Quando aplicada no mesmo momento da cirurgia é chamada de radioterapia intra-operatória. Por vezes é associada a boost complementar.

A radioterapia nas cadeias linfáticas (axilar, supraclavicular e da mamária interna) é realizada de acordo com o estadiamento da paciente.

O manejo da doença metastática, em especial das metástases cerebrais e ósseas, inclui a associação do tratamento radioterápico.

Fornece informações relacionadas ao estadiamento e prognóstico, além de influenciar diretamente na terapia sistêmica.

Esvaziamento axilar (EA): Tratamento cirúrgico radical da axila, reservado para doença localmente avançada, geralmente não responsiva ao tratamento pré-operatório/neoadjuvante, ou nos casos de recidiva axilar, após cirurgia prévia com exérese do(s) linfonodo(s) sentinela(s).

Biópsia excisional do(s) linfonodo(s) sentinela(s) (BLS): Corresponde ao primeiro ou primeiros linfonodos que recebem a drenagem linfática da mama. É a técnica de escolha para o estadiamento axilar cirúrgico nos casos de axilas clinicamente negativas.

Aceita-se a não realização do EA de rotina diante de BLS positiva em casos selecionados: Pacientes com tumores em estádios iniciais, axilas clinicamente negativas, não submetidas à terapia neoadjuvante e com até dois linfonodos sentinelas positivos.

A realização de BLS após quimioterapia neoadjuvante é indicada quando a axila é clinicamente negativa após o tratamento primário, sendo recomendada a remoção de pelo menos três linfonodos e uso de técnica combinada (radiofármaco e azul patente) para reduzir a taxa de falsos negativos.

Mastectomia radical clássica: Remoção completa da mama, dos 2 músculos peitorais e dos 3 níveis dos linfonodos axilares. Foi o tratamento cirúrgico padrão até o final dos anos 70, quando começaram as cirurgias conservadoras associadas à radioterapia.

Sempre que possível se dá preferência à preservação da mama, através da cirurgia conservadora. Quando a mastectomia está recomendada, os músculos peitorais são sempre preservados, a não ser que haja comprometimento por extensão tumoral direta. Também se preserva o máximo de pele da mama e até mesmo o complexo aréolo-mamilar, a fim de facilitar a reconstrução mamária e obter melhores resultados estéticos.

Indicações de Mastectomia:
  • Lesões proporcionalmente grandes em relação ao volume mamário
  • Componente intraductal extenso diagnosticado pela biópsia de microcalcificações irregulares difusas pela mama
  • Câncer multifocal ou multicêntrico
  • Falha na cirurgia conservadora em obter margens negativas
  • Recorrência tumoral na mama após cirurgia conservadora e radioterapia prévias
  • Lesões extensas com envolvimento cutâneo ou da parede torácica
  • Carcinoma inflamatório após terapia neoadjuvante
  • Doenças reumatológicas em atividade como lúpus eritematoso sistêmico ou esclerodermia, com contraindicação à radioterapia
  • Escolha da paciente
  • Cirurgia redutora de risco em portadoras de mutação genética patogênicas como BRCA1, BRCA2 e TP53

O manejo cirúrgico do câncer da mama durante a gestação, depende do estadiamento e do trimestre no qual foi realizado o diagnóstico, não havendo técnica cirúrgica padrão, o planejamento deve ser individualizado.

A cirurgia e/ou radioterapia estão indicadas nas pacientes estágio IV apenas para controle locorregional (sangramento, dor, infecção ou ulceração), com objetivo de melhorar qualidade de vida, sem objetivar ou ter impacto na melhora da sobrevida global.

Cuidados no pós operatório

Tem por objetivo o conforto do paciente e a prevenção de complicações relacionadas à cirurgia.

  • Controle da dor
  • Atividade física

Estimular a saída do leito e deambulação assim que possível. Incentivar inspiração profunda e movimentos dos membros inferiores quando o paciente estiver no leito. Orientar não realizar esforços com os membros superiores nas primeiras duas semanas.

Complicações pós operatórias
  • Seroma é a complicação mais frequente, sendo indicada a utilização de drenos, especialmente após mastectomias e/ou linfadenectomias axilares. Quando mesmo com o uso de drenos, há acúmulo de seroma, pode-se manejar com conduta expectante ou por meio de punções aspirativas
  • Tromboembolismo venoso: Usar meias elásticas ou botas de retorno venoso no trans-operatório e administrar heparina não fracionada ou enoxaparina profiláticas no pós-operatório
  • Infecções de ferida operatória, abscesso e celulite mamária
  • Morbidade do braço ipsilateral: Complicação frequente envolvendo dor, inchaço, dormência ou restrição de mobilidade, sendo sugerido acompanhamento de equipe de fisioterapia, sempre que possível
  • Estar atento ao risco de linfedema em pacientes submetidos ao esvaziamento axilar e radioterapia das cadeias linfáticas
  • Isquemia e necrose do retalho cutâneo da mastectomia e do complexo aréolo-papilar, são mais frequentes em tabagistas, diabéticos e portadores de vasculites. O histórico médico é muito relevante na escolha da técnica cirúrgica e na possibilidade da associação da reconstrução mamária imediata ou tardia

Tratamento

A abordagem terapêutica é realizada de acordo com o estadiamento da doença, incluindo os achados clínicos, de imagem, análise histológica, genética e de imunohistoquímica.

Quimioterapia

Definida como a realização do tratamento sistêmico antes do tratamento locorregional (cirurgia e radioterapia).

Objetivos:
  • Tornar tumores localmente avançados inoperáveis em operáveis
  • Possibilitar a redução do tamanho do tumor e do comprometimento axilar com consequente redução da radicalidade da cirurgia inicial, convertendo mastectomias em cirurgias conservadoras e de linfadenectomias axilares em biópsia excisional do linfonodo sentinela
  • Possível controle de micrometástases
  • Obtenção de informação preditiva e prognóstica quando o tumor apresenta resposta patológica completa (ausência de tumor residual na peça cirúrgica de paciente submetida a tratamento neoadjuvante)
Esquema quimioterápico neoadjuvante (QT neo)

Na definição da indicação da terapia sistêmica neoadjuvante, a análise dos diferentes subtipos moleculares é essencial. As principais candidatas à estratégia neoadjuvante são as pacientes com tumores TN e HER2 amplificados. Na ausência de resposta patológica completa, há indicação da associação complementar de terapia com capecitabina por 6 meses, nas pacientes triplo negativas, e de TDM-1, naquelas Her2+ e tratadas primariamente com quimioterapia e duplo bloqueio com terapia alvo (trastuzumabe e pertuzumabe).

Para pacientes RH positivos pós-menopausadas, especialmente as Luminal A, a terapia neoadjuvante é baseada na endocrinoterapia, não há benefício da quimioterapia nesse grupo de pacientes.

Para maiores informações sobre esquemas quimioterápicos acesse a Portaria conjunta nº 19/SAS/MS, de 3 de julho de 2018.

Acompanhamento

Durante o tratamento neoadjuvante as pacientes devem ser avaliadas periodicamente com exame clínico (mamas e axilas), com o objetivo de verificar a resposta terapêutica e assegurar a não progressão da doença:

  • A cada ciclo de quimioterapia
  • Para pacientes em hormonioterapia, a avaliação pode ser feita a cada 2 a 3 meses

Exames de imagem podem ser realizados diante da suspeita de progressão, não sendo indicados de rotina durante o tratamento sistêmico. A clipagem do centro do tumor (demarcação com pequeno clipe metálico) é fundamental no início do tratamento, pois em cerca de ⅔ das pacientes o tumor palpável pode regredir totalmente, servindo o clipe como guia para a cirurgia.

Após o término do tratamento: Repetir o exame clínico e solicitar exame de imagem para avaliar a resposta e definir qual a melhor opção de cirurgia. A escolha do método de imagem é baseada nas anormalidades no momento do diagnóstico, sendo a mamografia o padrão-ouro.

A cirurgia mamária após terapia neoadjuvante deve sempre ter como foco a ressecção de toda doença residual, com obtenção de margens cirúrgicas livres.

A decisão entre mastectomia ou cirurgia conservadora deve contemplar a resposta ao tratamento sistêmico primário, a análise criteriosa dos exames de imagem, os fatores de risco para recidiva e o desejo da paciente, após aplicação do termo de consentimento esclarecido.

A linfadenectomia axilar é o tratamento padrão para as pacientes com axila persistentemente comprometida após o tratamento sistêmico primário.

A associação da Radioterapia para pacientes submetidos à quimioterapia neoadjuvante é feita baseada no estadiamento no momento do diagnóstico da neoplasia, avaliando o risco de recidiva locorregional.

A terapia adjuvante baseia-se no estadiamento clínico, no perfil imunohistoquímico do tumor e, em alguns casos, no estudo da expressão de painéis gênicos com informação prognóstica.

A indicação da terapia citotóxica e das drogas alvo moleculares pode ser auxiliada por modelos matemáticos validados, que estimam o ganho absoluto de sobrevida em 10 anos. Estima-se benefício da quimioterapia quando este ganho for maior que 5%. Resultados entre 3 e 5% merecem análise individualizada, avaliação multidisciplinar rigorosa, e discussão sobre riscos e benefícios com a paciente. O impacto na sobrevida livre de doença, também é aferido nos estudos clínicos, e também impacta nas decisões clínicas.

A programação da adjuvância sistêmica é direcionada de acordo com o perfil molecular dos tumores.

Perfil molecular por imunohistoquímica do carcinoma de mama

Receptores hormonais

HER2

Ki-67

Conduta

LUMINAL A

Estrogênio e progesterona positivos

Negativo

< 14%

Hormonioterapia, sem benefício da quimioterapia

LUMINAL B

Estrogênio positivo, progesterona positivo ou negativo

Negativo

≥ 14%

Terapia hormonal é indicada

A associação da quimioterapia depende da individualização de fatores de risco clínicos, anatomopatológicos e, se disponíveis, da análise molecular tumoral com painéis de expressão gênica

HER

Positivo / negativo

Positivo (super-expresso ou amplificado)

qualquer valor

Indicada quimioterapia, associada ao duplo bloqueio com anticorpos monoclonais anti-HER2 trastuzumabe (terapia alvo molecular contra o domínio extracelular da proteína HER2) e pertuzumabe

Deve-se manter o anticorpo após o término da quimioterapia até completar um ano

TRIPLO NEGATIVO (basal-like)

Negativo

Negativo

qualquer valor

Quimioterapia é a única opção de tratamento sistêmico. Preferência para quimioterapia neoadjuvante, mesmo para para tumores estágio I, pois quando não há resposta patológica completa, se complementa a terapia com capecitabina oral por 6 meses

Fonte: Adaptado das Diretrizes Diagnósticas e Terapêuticas do Carcinoma de Mama, Brasil: 2018; Mastologia: do diagnóstico ao tratamento, Sociedade Brasileira de Mastologia: 2017.

Para maiores informações sobre esquemas quimioterápicos acesse Portaria conjunta nº 04/SAS/MS, de 23 de janeiro de 2018.

Tratamento

A abordagem terapêutica é realizada de acordo com o estadiamento da doença, incluindo os achados clínicos, de imagem, análise histológica, genética e de imunohistoquímica.

Hormonioterapia neoadjuvante e adjuvante

A resposta depende da expressividade para receptores hormonais, de estrogênio (RE) e de progesterona (RP). Quanto maior a expressão destes receptores de membrana, melhor a resposta à endocrinoterapia para o câncer da mama.

Os medicamentos utilizados são:

  • Tamoxifeno: Indicado para mulheres na pré e na pós-menopausa
  • Inibidores da aromatase: Indicado para mulheres na pós-menopausa

Tratamento neoadjuvante: Reduz as taxas de mastectomia e aumenta o índice de cirurgias conservadoras, em especial para tumores unifocais.

Indicação: Mulheres na pós-menopausa, com tumores localmente avançados e com receptores hormonais fortemente positivos (tumores Luminais A).

Nas pacientes idosas, com comorbidades e sem condições clínicas para o tratamento cirúrgico, a hormonioterapia é alternativa para se obter controle locorregional e sistêmico. Pode-se também associar a radioterapia para controle local, especialmente em tumores localmente avançados.

Hormonioterapia adjuvante na pré-menopausa: Nas pacientes com tumores Luminais o tamoxifeno reduz a recorrência e a mortalidade independentemente da idade e do acometimento axilar. Pacientes ainda na menacme e de mais alto risco para recidiva são submetidas à supressão da função ovariana e associação do inibidor da aromatase.

Duração do tratamento: 5 anos, nas mulheres com tumores localmente avançados/alto risco a terapia é estendida por 10 anos.

Hormonioterapia adjuvante na pós-menopausa: Reduz a recorrência locorregional e sistêmica e a mortalidade .

Para maiores informações sobre esquemas da hormonioterapia acesse a Portaria conjunta nº 19/SAS/MS, de 3 de julho de 2018.

Tratamento

A abordagem terapêutica é realizada de acordo com o estadiamento da doença, incluindo os achados clínicos, de imagem, análise histológica, genética e de imunohistoquímica.

Terapia Alvo

Consiste na terapia alvo molecular contra o domínio extracelular de uma proteína.

Medicações aprovadas para uso:

Trastuzumabe: Anticorpo monoclonal anti-HER2. Utilizado nas linhas de tratamento neoadjuvante, adjuvante e paliativa.

Indicação: Câncer de mama HER-2 positivo, confirmado por exame molecular, com alto risco de recidiva, em terapia adjuvante (câncer inicial ou câncer locorregionalmente avançado) ou prévia (câncer locorregionalmente avançado). Como quimioterapia paliativa é considerado de 1ª linha para pacientes com superexpressão de HER2 e metástase.

Critérios de uso:

  • Ausência de doença cardíaca sintomática
  • Fração de ejeção cardíaca igual ou superior a 55% demonstrada no mês anterior ao início do tratamento
  • Comorbidades compatíveis com expectativa de vida para além de 5 anos

Pertuzumabe: Anticorpo monoclonal recombinante humanizado.

Indicação: Quimioterapia paliativa de 1ª linha de pacientes com carcinoma de mama com superexpressão de HER2 e metástase visceral, associado ao trastuzumabe e na quimioterapia neoadjuvante, associado à quimioterapia e trastuzumabe.

Para maiores informações sobre formas de uso das terapias alvo acesse a Portaria conjunta nº 19/SAS/MS, de 3 de julho de 2018

Tratamento

A abordagem terapêutica é realizada de acordo com o estadiamento da doença, incluindo os achados clínicos, de imagem, análise histológica, genética e de imunohistoquímica.

Radioterapia adjuvante

Indicada após a cirurgia em pacientes com:

  • Quatro ou mais linfonodos positivos
  • Quadrantectomia ou segmentectomia (cirurgia conservadora de mama)
  • Tumores maiores ou iguais a 5 cm
  • Axila positiva, independente da idade e número de linfonodos comprometidos em pacientes classificadas como de alto risco para recidiva locorregional
  • Paciente com axila clinicamente negativa e linfonodo sentinela positivo, em substituição ao esvaziamento axilar

Tratamento

A abordagem terapêutica é realizada de acordo com o estadiamento da doença, incluindo os achados clínicos, de imagem, análise histológica, genética e de imunohistoquímica.

Reconstrução de mama

Está indicada para todas as pacientes que foram submetidas à mastectomia, ou mesmo nas que foram submetidas à cirurgia conservadora, em decorrência do tratamento do câncer de mama e que desejam a reconstrução mamária, ou uma melhor simetrização mamária.

Idealmente as mamas devem ser reconstruídas no mesmo ato cirúrgico da mastectomia (Lei nº 12.802, de 24 de abril de 2013), exceto quando as pacientes não apresentarem condições clínicas. A cirurgia da mama contralateral deve ser considerada para um melhor resultado estético necessário para “simetrização”.

Atenção: A reconstrução mamária após cirurgia para tratamento de neoplasia de mama deve ser realizada preferencialmente no serviço original onde a paciente realizou tratamento do câncer.

A cirurgia plástica reconstrutiva da mama é obrigatória nos Cacon e facultada nas Unacon, que devem indicar quais os serviços de referência para esse procedimento. Quando a reconstrução no centro de tratamento original não for possível, a paciente poderá ser encaminhada para outro serviço de Cirurgia Plástica.

Tempos da cirurgia reconstrutiva de acordo com o tratamento indicado:

  • Quimioterapia neoadjuvante - radioterapia sobre o expansor de tecidos
    • 3 a 4 semanas após o término da quimioterapia neoadjuvante realizada a mastectomia e reconstrução com expansor de tecidos
    • 10 a 14 dias após a cirurgia: Iniciada a expansão rápida, que deve ser completada em 6 a 8 semanas
    • Radioterapia adjuvante com o expansor cheio
    • Cirurgia para troca do expansor pelo implante: 4 a 6 meses após o término da radioterapia
  • Radioterapia sobre o implante/prótese de silicone, seguindo o fluxo abaixo:
    • Mastectomia e reconstrução com expansor de tecidos
    • Início da expansão: 10 a 14 dias após a cirurgia e durante a quimioterapia
    • Troca do expansor de tecidos pelo implante, 4 semanas após o término da quimioterapia
    • Radioterapia adjuvante, 4 semanas após a cirurgia do implante definitivo

Pacientes que realizam a troca do expansor pela prótese precocemente (< 4 meses após a radioterapia) têm maior incidência de complicações infecciosas. Já aquelas que realizam a troca tardiamente (> 6 meses após a radioterapia) têm maior incidência de contratura capsular.

Existem diversas técnicas cirúrgicas reparadoras da mama, a escolha deve seguir os protocolos de cada instituição.

Tratamento

Plano de alta

A nota de alta deve conter um resumo detalhado do quadro clínico, da estratégia terapêutica e das complicações durante a internação.

  • Diagnóstico e informação médica relevante
  • Disponibilizar os resultados dos exames realizados
  • Receita médica completa
  • Conforme condição clínica associada, considerar encaminhamento para médico especialista
  • Indicação de quais tratamentos, realizados por equipe multidisciplinar, serão necessários
  • Encaminhamento à Unidade de Atenção Especializada, com detalhamento do motivo
  • Encaminhamento à Unidade de Atenção Primária de referência, para suporte e acompanhamento longitudinal
  • Para pacientes em que se definiu tratamento paliativo, realizar plano de diretivas antecipadas sobre cuidados e tratamentos que devem ou não ser realizados: deixar registrado no documento de alta da paciente. Realizar contato com a Unidade de Atenção Primária para planejar necessidades de apoio à paciente e familiares, atenção domiciliar - Incluir o Programa Melhor em Casa, se disponível na região

Acompanhamento

Seguimento

Objetivo: Detectar o mais precocemente possível a recorrência, para que se possa oferecer resgate. A maioria das recorrências ocorrem nos primeiros 2 a 3 anos após o tratamento primário.

Realizar avaliação com Exame clínico das mamas em todas as consultas de seguimento.

Os exames de controle no seguimento são solicitados de acordo com o estadiamento no momento do diagnóstico e conforme as queixas e alterações no exame clínico, ou suspeita de recidiva.

O seguimento clínico deve ser individualizado. Dependendo do diagnóstico, estadiamento e terapêutica realizada, grande parte das pacientes após tratamento do câncer de mama permanecerão indefinidamente com risco de complicações relativas ao tratamento, como também risco de recorrência local/sistêmica ou até o desenvolvimento de novos tumores primários.

O foco deve estar nas ações de:

  • Vigilância da recorrência
  • Identificação e manejo de sintomas físicos e psicológicos, decorrentes do tratamento e do câncer de mama
  • Promoção da saúde

Periodicidade de acompanhamento durante o tratamento

Tipo de tratamento

Avaliação

Periodicidade

Quimioterapia neoadjuvante e adjuvante

Exame clínico em todas as avaliações

Exame de imagem no final do tratamento ou conforme a avaliação clínica

A cada 3 a 4 semanas junto de cada ciclo de quimioterapia

O número de ciclos depende do protocolo utilizado

Trastuzumabe - anticorpo monoclonal anti-HER2

Exame clínico em todas as avaliações

Ecocardiograma antes do início do uso e a cada 3 meses

A cada 3 semanas, junto de cada ciclo, geralmente são 18 aplicações (1 ano de tratamento). Sua interrupção precoce depende do acompanhamento da fração de ejeção cardíaca, pelas ecocardiografias trimestrais de controle

Quimioterapia paliativa

Exame clínico em todas avaliações e de imagem de acordo com sítio metastático e sintomas

A cada ciclo de quimioterapia

O número de ciclos depende do protocolo utilizado e da avaliação de resposta ao tratamento

Hormonioterapia adjuvante

Exame clínico em todas as consultas

Exame de imagem anual, ou se novos sintomas

Semestral por 5 anos. Após esse período, consultas anuais

Hormonioterapia neoadjuvante

Exame clínico em todas as consultas

Exame de imagem anual, ou se novos sintomas

A cada 2-3 meses, por 6 meses, alcançando resposta favorável pode-se agendar a cirurgia, ou naquelas sem condições clínicas para tratamento cirúrgico, passar para revisões semestrais

Para informações sobre número de ciclos de cada esquema, acesse a Portaria conjunta nº 19/SAS/MS, de 3 de julho de 2018.

Reduzir ou suspender o tratamento de pacientes que apresentarem qualquer tipo de intolerância à quimioterapia, hormonioterapia ou radioterapia. Retomar o tratamento apenas quando a toxicidade regredir. Sempre que necessário, avaliar a possibilidade de troca do protocolo de quimioterapia ou hormonioterapia. As reações adversas imediatas mais frequentes durante a radioterapia são as cutâneas, sendo recomendado o acompanhamento minucioso, nas semanas de tratamento. Consulte Feridas por radioterapia.

Pacientes com evidência de progressão para doença devem ter seu o tratamento atual suspenso e iniciar quimioterapia ou hormonioterapia paliativa, de acordo com tipo de metástase e perfil da imunohistoquímica/molecular tumoral.

Pacientes em uso de Trastuzumabe: Suspender as aplicações e reavaliar a fração de ejeção (FE), através de ecocardiograma, em 3-4 semanas se:

  • FE normal, com redução absoluta maior ou igual a 16% em comparação ao exame pré-tratamento
  • FE abaixo do limite inferior normal, com redução absoluta maior ou igual a 10%

Periodicidade de acompanhamento após o término do tratamento, tipo de avaliação e local

Período*

História e exame clínico

Mamografia

Local

Do primeiro ao terceiro ano

Trimestral/semestral

Anual

Atenção especializada

Do quarto ao quinto ano

Semestral/anual

Anual

Atenção especializada

Após o quinto ano

Anual

A cada dois anos

Encaminhar para Atenção primária à saúde

*Considerar o perfil de risco em pacientes sintomáticas.

Exames mais frequentes só devem ser realizados em pacientes sintomáticas.

Pacientes com ambas as mamas reconstruídas com implante não devem realizar exames de imagem de rotina, apenas se há suspeita de ruptura das próteses ou identificada alguma alteração no exame físico.

Plataforma web que integra os Sistemas de Informação do Câncer do Colo do Útero (Siscolo) e o Câncer de mama (Sismama).

As informações estão disponíveis em tempo real, após inseridas no sistema de forma on-line. Nas unidades de saúde sem conectividade, as requisições dos exames podem ser feitas pelo formulário impresso e entregues ao gestor local para que providencie a inclusão no sistema ou conforme fluxo já estabelecido. Com base na identificação da mulher, o histórico e a situação de seguimento são atualizados automaticamente.

Todos os exames e tratamentos que tenham alguma alteração deverão ser registrados em seu histórico. Os resultados e condutas poderão ser visualizados pela coordenação de seu estado, município, unidade de saúde e profissional solicitante.

Para informações sobre o registro no Siscan, acesse Manual do Sistema de Informação do Câncer (Siscan) - Módulos 1 e 2.

Acompanhamento

Imunizações

Imunização de pessoas com neoplasia ou em uso de drogas imunossupressoras: vacina influenza, pneumocócica conjugada 13-valente (VPC13), haemophilus influenzae tipo b, meningocócicas conjugadas (MenC), hepatite A, hepatite B, vacina HPV

Para mais informações, acesse o Calendário de vacinação para pacientes especiais-SBIM.

Acompanhamento

Recidiva

Os fatores de risco para recidiva local são:

  • Paciente abaixo dos 50 anos
  • Margem cirúrgica positiva
  • Linfonodo axilar positivo
  • Receptor hormonal negativo

Recorrência local após cirurgia conservadora: Indicada mastectomia de resgate, se possível com a preservação de pele e do complexo aréolo-papilar, para facilitar a reconstrução mamária.

Uma nova cirurgia conservadora, em caso de recidiva local, pode ser realizada se:

  • Presença de tumores pequenos
  • Longo tempo entre tratamento anterior e aparecimento da recidiva
  • Possibilidade de ser realizada nova radioterapia parcial

Nas pacientes com recidiva de tumores multifocais e multicêntricos a Biópsia excisional do(s) linfonodo(s) sentinela(s) (BLS) é factível em substituição ao esvaziamento axilar.